Um grupo de lesados do Banif iniciou cerca das 7h20 um protesto na Avenida Calouste Gulbenkian, em Lisboa, frente ao edifício do Santander Totta, pendurando um manequim enforcado de tamanho real no viaduto sobre a avenida. Segundo constatou a Lusa no local, alguns elementos do grupo, num protesto surpresa, acorrentaram-se aos postes existentes na avenida com correntes e algemas. Os lesados do Banif consideram que o Santander, com a resolução do Banif e a venda de parte da atividade bancária ao Santander Totta, por 150 milhões de euros, é também corresponsável pela sua situação.

Os manifestantes estavam pelas 7h30 a colocar cartazes que podem ser vistos pelos automobilistas que acedem à Praça de Espanha e onde se podem ler frases como “Retirem o vosso dinheiro, o Santander Totta é espanhol”, “A resolução do Banif é igual à segunda invasão espanhola” e “Resolução do Banif foi um circo, nós não somos palhaços”.

Junto com o manequim enforcado, os manifestantes penduraram um outro cartaz onde se lê “Lesados Banif”, com as palavras Santander Totta e Banif riscadas.

Em declarações á Lusa no local, Jacinto Silva, da associação dos lesados do Banif – Alboa, afirmou: “Estamos aqui para fazer ver o Santander Totta que tem de se sentar à mesa e negociar de uma vez por todas com os lesados”. “Estamos acorrentados e não vamos parar os protestos até resolvermos os nossos problemas”, acrescentou, referindo-se às 15 pessoas que se prenderam com correntes e algemas aos postes da avenida, frente ao edifício do banco.

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Pelas 8h05 chegaram ao local cinco elementos da PSP.

Em 20 de dezembro de 2015, o Governo e o Banco de Portugal anunciaram a resolução do Banif – Banco Internacional do Funchal, com a venda de parte da atividade bancária ao Santander Totta, por 150 milhões de euros, e a transferência de outros ativos – incluindo ‘tóxicos’ – para a nova sociedade veículo.

Os antigos clientes do Banif, numa carta que enviaram ao escritório de advogados que representa o Santander, consideram que “viram as suas situações financeiras transitadas para o Banco Santander Totta, de uma forma unilateral, com alteração das cláusulas contratuais das suas contas”.

Nesta missiva de resposta a um protesto do banco, que tinha exigido na semana passada a retirada, em três dias, de qualquer referência ao nome e marca Santander dos suportes informativos da associação, designadamente do sítio da Internet, a Alboa anuncia que suspendeu e reformulou os seus suportes de comunicação e considera o tom da carta do banco “desapropriado e ameaçador”.

Na carta, a que a Lusa teve acesso, a Alboa explica: “O Banco Santander Totta manifestou interesse no Banif, pelo menos desde julho de 2015 e aceitou o negócio em dezembro seguinte, prescindindo da Due Diligence. Correram o risco para ganhar dinheiro. Um desses riscos seria sempre a animosidade e a insatisfação dos ‘Antigos Clientes do Banif'”.

Os Antigos Clientes do Banif, agora clientes do Santander Totta, “não foram tidos nem achados para a eventual autorização de transferência das citadas contas” e, por consequência, não lhes foram garantidos direitos, refere a associação. “Daí não ser de estranhar se considerarem também lesados do Santander Totta”, acrescenta.

A associação sublinha que “hoje o Santander Totta exclui a responsabilidade futura sobre os produtos emitidos pelo Banif”, mas recorda que o banco “continua a exigir a liquidação dos empréstimos contraídos para a aquisição dos mesmos e cobrar comissões que anteriormente não eram aplicadas”. “O Santander Totta tem que definir claramente se os clientes (“ex-Banif”) têm mais valor e importância do que serem só uma referência numérica, abstrata e rever o seu posicionamento com a Alboa, os clientes, as regiões Autónomas dos Açores e da Madeira e comunidades lusófonas que estão agora a sentir o peso da sua arrogância”, sublinham os responsáveis da associação.

O grupo espanhol Santander adquiriu, em 20 de dezembro de 2015, um conjunto de ativos e passivos do Banif, após a medida de resolução aplicada pelo Banco de Portugal ao Banif.

Em dezembro de 2015, o Governo e o Banco de Portugal anunciaram a resolução do Banif e a venda da atividade bancária ao Santander Totta por 150 milhões de euros. Foi ainda criada a sociedade-veículo Oitante para a qual foi transferida a atividade bancária com que o Totta não ficou.