Os britânicos continuaram em sobressalto durante a noite e a madrugada que se seguiram ao ataque terrorista em Westminster no centro de Londres. As autoridades britânicas levaram a cabo seis raides em diferentes pontos das cidades de Londres e Birmingham que envolveram sete detenções. A ação policial está relacionada com o ataque desta quarta-feira no centro de Londres, que vitimou quatro pessoas. A polícia continua sem divulgar identidade do atacante, que julgam ter agido sozinho, e pediu aos jornalistas que não divulgassem informações.

Já no inicio desta manhã, Mark Rowley, chefe da unidade anti-terrorista da polícia de Londres, falou à porta da Scotland Yard, na capital britânica, para divulgar estas informações. Confirmou ainda que o ataque de ontem provocou a morte de quatro pessoas, incluindo a do atacante, abatido pelos agentes.

Tudo o que aconteceu nas últimas horas

Westminster foi esta quarta-feira o palco de um ataque terrorista que vitimou cinco pessoas e feriu pelo menos 40. A Polícia Metropolitana, na noite de quarta-feira, confirmou que a sua linha de investigação iria seguir a tese de uma possível ligação ao radicalismo islâmico, mas não quis adiantar pormenores sobre a identidade do operacional do atentado. Viriam a surgir, a meio da tarde, algumas teorias sobre quem seria o homem culpado por esta tarde de pânico, mas o mistério permanecia ainda por volta da meia-noite.

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Entre os 40 feridos em Londres está um português. Trata-se de Francisco Lopes, de 26 anos, que é residente em Londres há 15 anos, e foi atropelado na Ponte de Westminster quando se dirigia para o metro. O Observador falou com o jovem, que já recebeu apoio psicológico.

Português ferido em Londres: “Se tivermos medo significa que os terroristas ganham. Não podemos mostrar medo”

No dia em se assinalava um ano dos atentados de Bruxelas, um homem usou um carro para atropelar propositadamente várias pessoas ao longo da mais conhecida ponte londrina, conduzindo um todo o terreno que depois acabou por colidir com as grades laterais do Parlamento. O atacante saiu do carro, virou a esquina, e esfaqueou um polícia desarmado à entrada do Parlamento. Há testemunhas que garantem ter visto um homem a andar “rápido”, “com um ar maluco” e com uma “faca grande na mão”. Keith Palmer, o polícia que morreu, pertencia à polícia parlamentar há 15 anos anos. Era pai e marido.

Como tudo começou

Às 14h40 da tarde desta quarta-feira, o terror regressou a Londres: um carro entrou pela ponte de Westminster, perto do Parlamento britânico e de outras atrações turísticas como o London Eye, com a intenção de atropelar o máximo de pessoas. As três vítimas mortais não resistiram aos ferimentos graves causados pelo impacto. Neste vídeo da BBC, vê-se alguém a saltar para o rio, que se pensa ser uma mulher mais tarde resgatada com vida.

Pouco depois da atravessar a ponte a uma velocidade muito acima da normal, o atacante despistou-se e embateu contra os portões laterais do Parlamento.

Foi por volta das 14h55, que o condutor da viatura assassina, vestido de negro, armado com uma faca, passou as portas que dão acesso ao pátio à frente do Parlamento e desferiu vários golpes contra um polícia. Quando tentava correr de novo para fora do recinto, outros dois membros da polícia terão disparado contra o atacante que ficou gravemente ferido, acabando por morrer. Segundo um editor do Daily Telegraph, o atacante foi baleado três vezes no peito pelas forças de segurança.

Richard Tice, uma testemunha do atentado, disse à BBC que, logo depois de sair da estação de metro de Westminster, foi levado pela polícia para perto da ponte e aí viu “várias pessoas no chão, já a serem assistidas pelos médicos”. Tice contou “pelo menos oito pessoas, imóveis, ao longo do comprimento da ponte”. Uma outra testemunha, Matt Haikin, disse ao diário The Guardian: “Eu estava de bicicleta a ir do centro até Embankment e vi um carro preto enfiado no passeio, mesmo ao pé do Big Ben, com a dianteira toda esmigalhada e um corpo mesmo ao lado do carro”. O Observador recolheu, durante todo o dia, vários testemunhos de pessoas que se encontravam perto do local.

Pouco depois, Theresa May, primeira-ministra britânica, que, segundo alguns jornalistas parlamentares estaria a menos de 40 metros do local onde o atacante matou o agente da polícia, foi retirada do local no Jaguar prateado que seguiu a toda velocidade para um local seguro.

É terrorismo. Outra vez

Nem é preciso recuar assim tanto na cronologia dos ataques terroristas para que estas cenas que esta quarta-feira nos chegaram de Westminster nos façam tremer. Em Nice, em julho de 2016, e já perto do natal, em Berlim, dois terroristas haviam optado pelo mesmo modus operandi. Ambos os ataques acabaram por ser reinvindicados pelo auto-proclamado Estado Islâmico (Daesh). Este ainda não foi assumido por qualquer grupo, mas a polícia confirmou, menos de um hora depois, que o caso estava a ser tratado como um ataque terrorista.

O ataque foi rapidamente comparado aos outros incidentes que assolaram a Europa nos últimos anos, principalmente na imprensa conservadora.

Enquanto as pessoas fugiam do local, os deputados estavam trancados dentro do Parlamento. O responsável do Governo britânico para o “Brexit”, David Davies, disse à BBC que estava perto da zona quando o incidente aconteceu: “Atirámo-nos para o chão. Ouvi os tiros e pensei: ‘Isto não pode estar a acontecer’. Estava atrás de um pilar e pensei: vou arriscar e correr daqui para fora”.

Os deputados acabaram por ser levados para a Abadia de Westminster enquanto a polícia procedia a uma vistoria minuciosa de todas as salas do Parlamento. Há pelo menos uma sala para cada deputado — são 650 divisões, pelo menos. O processo foi lento até porque a polícia questionou cerca de mil pessoas e teve que enviar para o local a sua Brigada de Minas e Armadilhas depois de terem surgidos suspeitas de que haveria um engenho explosivo nos jardins do Parlamento.

Por volta das 16h começam os esforços para retirar as pessoas que, assustadas, permanecem dentro do Parlamento. Mas só por volta das 20h é que o processo foi concluído. Fotos de deputados mostram uma forte presença policial dentro de Westminster.

Fotos tiradas dentro da Câmara dos Comuns mostram a sala cheia, apesar de todas as ações parlamentares terem sido suspensas.

Ao longo da tarde, os vários jornalistas presentes no local foram perdendo o medo de falar em “terrorista” e em “ataque terrorista”. A agência de notícias Associated Press falou com um oficial de segurança europeu que disse ter notado “um pico de atividade” nas redes sociais ligadas a grupos que apoiam a Jihad depois de o Reino Unido ter proibido a entrada de alguns aparelhos eletrónicos em voos provenientes de alguns países muçulmanos.

O incidente em Londres é “consistente com as instruções para ataques dadas pelo Estado Islâmico”, escreveu o SITE Institute (Search for International Terrorist Entities – Instituto de Pesquisa para Entidades Terroristas Internacionais). Rita Katz, uma analista do SITE que estuda as principais entidades ligadas a células terroristas , disse no Twitter que, embora nenhuma entidade terrorista se tenha pronunciado até agora sobre o ataque no Parlamento, a utilização de um veículo e uma faca é “consistente com as instruções para ataques dadas pelo Estado Islâmico” acrescentado que “o modus operandi por detrás dos acontecimentos em Londres tem um estilo semelhante” aos ataques no estado de Ohio, em Nice e Berlim, todos eles da autoria do Estado Islâmico.

Os tributos à cidade

“Nunca tive tanto orgulho de aqui viver”, “Amanhã acordaremos sem medo”, “Somos todos Londres”, ou “Unidos somos mais fortes do que ódio” foram algumas das frases que se propagaram pelas redes sociais toda a tarde de quarta-feira. Foram também muitos os elogios à coragem do polícia, Keith Palmer, que morreu à porta do Parlamento, tendo impedido o atacante de ferir algum os deputados. Há uma história incrível sobre o herói que tentou salvar outro herói, e que contamos aqui: um deputado que tentou salvar e reanimar o polícia antes de os paramédicos chegarem.

https://twitter.com/DeVesontio/status/844587509258555392

Começaram entretanto a surgir palavras de apoio e injeções de força aos cidadãos do Reino Unido. Um dos primeiros a falar foi o Presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan, ele próprio um muçulmano eleito com uma maioria avassaladora na capital.

Houve um incidente sério perto da Praça do Parlamento esta tarde que está a ser tratado como um ataque terrorista até que a polícia tenha informações em contrário. Falei com o Comissário interino. O Serviço de Polícia Metropolitana está a lidar com o incidente e há uma investigação urgente a decorrer. Os meus pensamentos vão para os afetados e para as suas famílias. Gostava de expressar o meu agradecimento à polícia e aos serviços de emergência que trabalharam tanto para nos manter seguros e mostraram uma bravura tremenda em circunstância especialmente difíceis.

“Os canadianos estão unidos com o povo britânico na luta contra o terrorismo. Vamos continuar a trabalhar juntos com o Reino Unido e com todos os nosso aliados para provar ao mundo que a liberdade e a democracia triunfarão sempre”, disse o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau.

A França, que têm cidadãos feridos no ataque, foi um dos primeiros países a oferecer apoio mas logo depois também a Rússia ofereceu as condolências ao povo britânico e pediu aos cidadãos para se manterem vigilantes. “Os nossos corações estão com os cidadãos britânicos, partilhamos a sua dor”, disse Maria Zakharova, porta voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros numa entrevista a uma televisão russa.

De Israel chegaram as palavras de Tzipi Hotovely, vice-ministro dos Negóciod Estangeiros. Israel está “profundamente chocado” com o incidente e “completamente solidário com o povo britânico”. Tel Aviv foi uma das cidades que se iluminou, na quarta-feira à noite, com o azul, vermelho e branco da bandeira britânica.

Angela Merkel, Chanceler alemã, também tornou público o seu pesar, até porque há bem pouco tempo um episódio arrepiantemente parecido se tinha passado em Berlim. “Apesar das razões que levaram a este ataque ainda não serem perfeitamente claras, ressalvo que a Alemanha e os seus cidadãos estão absolutamente disponíveis para lutarem com a Grã-Bretanha contra qualquer tipo de terrorismo”, disse Merkel.

Especulação sobre a identidade do atacante

Durante a tarde foram surgindo alguns rumores que o atacante fosse Trevor Brooks, um cidadão britânico de 42 anos, nascido a 18 de abril de 1975 em Hackney (leste de Londres) que se terá convertido ao Islão assim que fez 18 anos. Apesar de ser de facto conhecido pelas suas posições extremistas, e ter sido descrito pelo Counter Extremism Project (CEP) — uma organização sem fins lucrativos que se dedica a combater ideologias extremistas –, como “propagandista islamita” e um “clérigo radical”, Abu Izzadeen, nome que adotou depois de se converter ainda estará preso e não pode, por isso, ter sido o atacante.

Depois da hora de jantar, por volta das 21h, Theresa May, primeira-ministra britânica, dirige-se aos britânicos. “Não é por acaso que a casa da democracia foi atacada”, ressalvou May. Num curto comunicado, sem direito a perguntas, a primeira-ministra britânica disse que “não foi uma coincidência que o atacante tenha escolhido atacar o parlamento porque aquele edifício simboliza a democracia, a liberdade e o Estado de Direito”. Na opinião da primeira-ministra, é por ser um país que abriga estes valores que o Reino Unido é um alvo de ataque e reforçou que “qualquer tentativa para derrotar estes valores através do terrorismo e da violência está condenada a falhar. Para May este foi um ataque “sórdido e doentio”.

Pouco depois das 22h30, a Polícia Metropolitana faz a última atualização aos jornalistas. O comissário diz que a polícia “pensa saber” quem é o atacante e está a assumir que ele terá sido influenciado pelo extremismo islâmico mas recusa-se a especular a identidade do atacante. “Não vou comentar a identidade mas a nossa investigação assumiu que ele foi inspirado pelo pela corrente islâmica de terrorismo internacional”, disse a Polícia Metropolitana. A polícia está “a trabalhar pela noite dentro” com “centenas de homens no terreno” na tentativa de encontrar as “motivações, preparação e associados” do atacante. Importante também, segundo a polícia, reconhecer a vulnerabilidade das comunidades islâmicas neste momento e pediu atenção aos eventuais ataques de extrema-direita.

Começam a surgir imagens aproximadas da cena do crime, que explicam alguns dos objetos que o atacante terá utilizado.

Junto ao atacante são visíveis duas facas. Uma delas, que a Sky News descreve como sendo “uma faca grande de cozinha”, tem um cabo preto e está entre um homem com uma camisa branca e um agente da polícia à sua esquerda. A outra faca está à direta do pino laranja.

Mesmo no fundo da maca, onde o suspeito está deitado, vê-se um par de botas castanhas que poderão pertencer ao atacante, uma vez que ele surge na fotografia descalço e sem uma meia.

Nesta imagem, o atacante está de tronco nu, com o que parece ser uma compressa branca do lado esquerdo. Um dos indivíduos dos serviços de emergência tem a mão direita, com uma luva azul, em cima do peito do suspeito.

Passava um pouco da meia-noite, quando a zona de Westminster, onde aconteceram os ataques desta quarta-feira foi reaberta. A confirmação veio do comissário Mark Rowley que acrescentou que, ainda assim, centenas de polícias continuam no local a recolher elementos para a investigação. O Parlamento só irá reabrir na próxima sexta-feira, mas algumas entradas do edifício irão manter-se fechadas por constituírem cena do crime. Mark Rowley acrescentou ainda que as patrulhas policiais, quer desarmadas, quer armadas, foram intensificadas em todo o país assim como forças policiais locais, principalmente em zonas com mais pessoas.

Durante a madrugada, as autoridades britânicas levaram a cabo um raid policial numa casa na cidade de Birmingham, cerca de 200 quilómetros a noroeste de Londres. A ação policial está relacionada com o ataque desta quarta-feira em Londres.

Segundo a imprensa britânica, pelo menos três pessoas foram detidas, depois de agentes da polícia local terem entrado num apartamento de segundo andar em Hagley Road. Uma testemunha confirmou à Press Association que as autoridades levaram três pessoas do local. Conta o jornal britânico The Independent que uma das janelas do apartamento foi tapada com cartão durante a ação policial e que agentes à paisana foram observados a entrar no apartamento com equipamentos.

Ataque em Londres. Confirmados 5 mortos; um dos 40 feridos é português