O pânico já tinha esmorecido em Westminster quando um esquadrão de homens vestidos de azul chegou ao palco do último ataque em Londres. Esta manhã, horas depois de um homem ter morto três pessoas e ferido outras quarenta no coração da capital britânica, membros da polícia forense ajoelharam-se em frente aos jardins do Palácio de Westminster e debruçaram-se com os olhos postos no chão. Analisavam a relva como numa coreografia bem orquestrada e moviam-se para a esquerda e para a direita de modo coordenado. Procuravam encontrar respostas sobre os últimos acontecimentos: são polícias forenses e vão para os locais de atentados terroristas em busca de pistas e vestígios para a investigação das autoridades.

Créditos: JUSTIN TALLIS/AFP/Getty Images

Desde os atentados do 11 de setembro — quando quatro aviões comerciais de passageiros embateram no World Trade Center, Pentágono e num descampado em Shanksville, matando quase 3 mil pessoas nos EUA — que as autoridades ocidentais desenvolveram técnicas forenses cada vez mais meticulosas para descobrir os terroristas e perceber os seus comportamentos e planos. Eles não são os primeiros a chegar aos locais do crime — a prioridade é sempre assistir as vítimas e manter a tranquilidade da população. Mas ficam até ao fim e são eles os responsáveis por responder às duas perguntas que surgem sempre que a ameaça terrorista nos bate à porta: quem foi o responsável e como pode ser identificado?

Uma das primeiras medidas tomadas pela polícia forense para responder a estas perguntas é estabelecer semelhanças entre o cenário encontrado e aquele que já tinha sido analisado em eventos anteriores. De facto, e de acordo com o que já foi avançado pela analista de terrorismo Rita Katz (SITE) na sua página oficial nas redes sociais, a utilização de uma arma branca e de um carro para causar vítimas corresponde às diretivas dadas pelo Estado Islâmico aos chamados “lobos solitários” para espalharem a mensagem extremista pelo Ocidente. O que se confirmou: o ataque de Londres foi reivindicado pelo Estado Islâmico.

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Mas alguns agentes da polícia forense não esperaram por esta manhã, e nem sequer pelo acalmar dos ânimos em Westminster, para procurar respostas. Em algumas fotografias publicadas na última quarta-feira, logo após o ataque, já é possível ver alguns polícias de fato, luvas e máscaras junto ao local onde o atacante esfaqueou um polícia antes de ser abatido por outros dois. Em casos destes, assim como noutros locais de crimes, não há tempo a perder: a confusão e a passagem do tempo pode levar à contaminação, destruição, degradação, perda ou desvio de provas que podem ser preponderantes para identificar os autores dos crimes ou reconstituir cronologicamente os seus passos, outro instrumento fundamental para estudar o que aconteceu.

Depois de estabelecer dois perímetros de segurança — um numa área mais vasta e outra na área específica onde ocorreu o crime — a polícia vai em busca de dois materiais essenciais: material genético e impressões digitais, que podem ser encontrados tanto em corpos no local (segregações como sangue, saliva ou urina), como em cigarros, bebidas e até armas ou explosivos. Ambos vão permitir descobrir quem esteve no local e, por conseguinte, reconstituir os eventos.

Créditos: Carl Court/Getty Images

No entanto, a polícia forense pode ter dificuldade em encontrar impressões digitais porque, por norma, os ataques terroristas acontecem em espaços públicos frequentados por muita gente: há demasiadas marcas para recolher e pouco tempo ou recursos para eliminar as que não importam para a investigação. Nos atentados de Madrid, a 11 de março de 2004, uma interpretação errada de uma impressão digital e a falta de comunicação entre as várias polícias envolvidas na investigação, levou as autoridades espanholas e o FBI a desconfiar de pessoas que não estiveram envolvidas no ataque. O erro foi corrigido, mas levantou dúvidas sobre se poderia voltar a acontecer.

Durante o processo de recolha de provas, determinados detritos, marcas, objetos ou até partes do corpo (como unhas, cabelo ou pele) encontrados são colocados em sacos e catalogados com o maior detalhe possível, o que inclui a hora e a data dos acontecimentos, a localização exata desse objeto e um número de referência. Esses sacos, feitos de polietileno e guardados em caixas rígidas, têm de ser protegidos de fricção ou até de embates quando são levados para os laboratórios forenses. O cuidado deve ser tão rigoroso que as provas só podem ser movidas ou alteradas se isso for importante para prestar auxílio às vítimas do atentado. Tudo isto tem de ser feito de forma metodológica para manter a precisão científica exigida nestes casos e manter a credibilidade dos factos recolhidos, sob pena de deixar respostas pelo caminho ou até mesmo acusar inocentes de forma errada. Para evitar que isso aconteça, a polícia forense pode ouvir as testemunhas ou fotografar as pessoas próximas do local porque, não raras vezes, os atacantes em fuga regressam aos locais do crime para apreciarem o trabalho da polícia e o pânico que eles próprios causaram.

Créditos: DANIEL LEAL-OLIVAS/AFP/Getty Images

É graças a este procedimento que os atentados de Londres ganharam rosto esta quinta-feira: foi Khalid Masood, um britânico de 52 anos natural de Kent, que conduziu o Hyundai 4×4 cinzento a alta velocidade pela Ponte Westminster até ao Parlamento britânico deixando um rasto de três mortos e quarenta feridos pelo caminho. Masood vivia nas Midlands Ocidentais e usava várias identidades falsas. Já tinha estado debaixo da mira do MI5 e até foi condenado por crimes de agressão, posse de armas e perturbação da ordem pública entre 1983 e 2003.