No final da sua audição na comissão de inquérito parlamentar (CPI) à gestão da Caixa Geral de Depósitos, Armando Vara foi muito crítico do Ministério Público em declarações aos jornalistas sobre a sua acusação na Operação Marquês — um processo em que foi constituído arguido em julho de 2016. O ex-ministro, antigo vice-presidente da Caixa e amigo de José Sócrates, prometeu dar as explicações durante o julgamento. “Com certeza que explicarei. Mas não acha que isso é a inversão do ónus da prova? Então estou ser acusado e eles não têm de aprovar que há uma relação entre uma coisa e outra?”, questionou. “Estou a pensar naqueles juízes que, sendo os juízes das liberdades no nosso sistema jurídico-penal, não agem como tal”, afirmou, mas sem mencionar o nome do juiz Carlos Alexandre.

As críticas de Vara alargaram-se aos jornalistas, por, no seu entender, não terem uma atitude crítica em relação aos investigadores destes casos: “O que me espanta é uma comunicação social tão apta a fazer questões e a sindicar tudo, não sindique o Ministério Público da mesma maneira, numa coisa que tem a ver com a nossa liberdade, com a nossa vida”. Armando Vara, que foi condenado a cinco anos de prisão no caso Face Oculta e teve de pagar 300 mil euros de caução durante a Operação Marquês, disse continuar a acreditar nos juízes: “Acredito nos juízes, vou acreditando, mas confesso que a minha vontade de acreditar no Ministério Público está cada vez pior, está pelas ruas da amargura“. A seguir, esclareceria estar a referir-se “a um sector do Ministério Público”, que, na suas palavras, “parece que tomou conta” da instituição.

Os reparos também visaram a Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal: “Acho que até a procuradora deu conta disso, finalmente. Veja como ela trata o pedido de mais prazo. Então agora a culpa é dos inspetores de finanças? Como parece que disse o eng. Sócrates, a culpa agora é do mordomo? Estamos a falar de direitos de pessoas, o direito à liberdade” argumentou Vara.

Armando Vara: Como o caso Monte Branco ajudou a Operação Marquês

O ex-ministro socialista chegou a ser detido para interrogatório, suspeito de corrupção, fraude fiscal, branqueamento de capitais durante a Operação Marquês. O ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos passou uma noite no Comando Metropolitano de Lisboa para depois ser levado para o Tribunal Central de Instrução Criminal. Mais tarde, o juiz Carlos Alexandre havia de se decidir pela prisão domiciliária com vigilância eletrónica.

O envolvimento de Vara no processo em que José Sócrates é o personagem principal tem a ver com o empreendimento de Vale do Lobo, no Algarve. Armando Vara terá recebido mais de dois milhões de euros de alegadas contrapartidas para aprovar, e alegadamente beneficiar, um investimento da Caixa Geral de Depósitos superior a 230 milhões de euros no empreendimento de Vale do Lobo. O encaixe terá sido feito com a ajuda de entregas em dinheiro vivo em Lisboa e de uma engenharia financeira que passava pela Suíça, Panamá e ilhas Seycheles.

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