O apuramento final do défice de 2016, revelado esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, fez o PS vir de imediato reclamar glória, mas nem toda a esquerda o acompanha. O Bloco de Esquerda já apareceu a dizer que o Governo está a responder “a um capricho da Comissão Europeia e para Bruxelas ver”, “sacrificando despesa pública”.

Em declarações aos jornalistas no Parlamento, a deputada do BE Mariana Mortágua afirmou que “o Governo tenta ter alguma credibilidade junto de instituições que não estão à procura de credibilidade, que são movidas por um desejo dogmático de uma consolidação orçamental para além do exequível e do interesse de Portugal”. O partido que apoia o Governo socialista no Parlamento avisa que o país está “a continuar a sacrificar a despesa pública e o interesse do país apenas para ter um número que deixe Bruxelas um pouco mais contente no seu radicalismo de redução de défice”.

Já Paulo Sá, do PCP, apontou que “a trajetória positiva do défice orçamental, que em 2016 ficou em 2,1%, teve um custo e o custo foi a redução significativa do investimento público em 2016 e a insuficiência do ritmo das medidas de reposição de direitos e rendimentos”. Para os comunistas, “o grande problema do país é a dívida pública” e volta à carga no pedido de “renegociação da dívida pública, e também da tributação adequada do grande capital, libertando recursos para prosseguir e intensificar a política de reposição de direitos e rendimentos”.

Mas o líder do grupo parlamentar do PS e presidente do partido veio logo falar de “resultados excecionais de gestão orçamental” e dizer que o valor do défice “contribui de forma muito significativa para a credibilidade do país no plano externo”. E que não sair do Procedimento por Défice Excessivo seria “tremendamente injusto”.

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“É uma bofetada sem mão a alguns analistas e decisões políticos externos, como o presidente do Eurogrupo. É também uma vitória sobre os maus agoiros que a oposição interna, que desconsiderava a gestão orçamental do atual Governo”, disse Carlos César.

Mas enquanto o líder parlamentar do PS acredita que este valor mostra que “é possível uma política de responsabilidade social” e “compatibilizar tudo isso com responsabilidade financeira e sucesso de gestão das contas públicas”, o Bloco de Esquerda considera que “continuar a sacrificar a despesa pública e o interesse do país apenas para ter um número que deixe Bruxelas um pouco mais contente no seu radicalismo de redução de défice, não defende o interesse do país”.

Mariana Mortágua ainda soma a este aviso outro sobre a Caixa Geral de Depósitos, e a taxa de juro aplicada (acima de 10%) na emissão de dívida perpétua, dizendo que foi “uma má edição de dívida”. “O processo de recapitalização e de reestruturação não pode continuar a ser feito à custa dos trabalhadores, balcões, ou do próprio equilíbrio financeiro da Caixa”, acrescentou.

Artigo atualizado 13h40 com as declarações do PCP sobre o mesmo assunto