Mais fogacho, menos fogacho, os Conselhos Nacionais do PSD têm sido um passeio no parque para Passos Coelho nos últimos anos. Poucas críticas e registo familiar, em que o líder raramente é forçado a subir o tom. Na reunião desta quinta-feira, apareceu o crítico do costume, mas Passos foi mais duro que o habitual. Já depois da uma da manhã, perto do final da reunião, o ex-líder da distrital de Setúbal, Luís Rodrigues, aconselhou o presidente a apostar “verdadeiramente” nas autárquicas e apontou o caminho: “São 308 concelhos, como faltam seis meses para as autárquicas, se for a dois por dia, faz o país todo“. Passos não gostou e, segundo apurou o Observador, advertiu o conselheiro que não está para “piadas” ou “provocações” e que este deve andar distraído, alegando que tem visitado vários municípios.

O Conselho Nacional foi mais longo do que tem sido os últimos e acabou já perto da 01h30, com Passos a despedir-se dos jornalistas sem falar (é quase sempre assim) e com o habitual “boas noites”. E este até teve uma novidade: a intervenção inicial do líder foi à porta aberta, o que não acontecia desde maio de 2014.

No discurso de abertura, o presidente do PSD começou por fazer, em 45 minutos, um discurso que condicionou eventuais críticas: alegou que o processo autárquico estava avançado (face às críticas de atrasos), que era para ganhar (para calar os que o acusam de falta de ambição) e defendeu a coerência (dirigida aos que o acusam de não mudar na oposição). E manteve a fasquia alta, embora não tenha falado em conquistar a liderança da Associação Nacional de Municípios Portugueses: “As autárquicas são para ganhar.”

Passos mantém a fasquia: Autárquicas são “para ganhar”

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“Só Teresa Leal Coelho foi convidada”

Falando logo a seguir a Passos, Carlos Carreiras — coordenador autárquico e presidente da câmara de Cascais — acusou os “opositores à esquerda”, numa alusão a PS e PCP, de fazerem “acordos pré-eleitorais” encapotados em que “apresentam candidaturas fracas, para beneficiar localmente” as candidaturas do outro partido que tem hipóteses de ganhar. Ou seja: Carreiras denuncia que nos municípios em que o PCP estiver taco-a-taco com PSD, o PS apresenta um candidato fraco para beneficiar os comunistas. E vice-versa.

Carreiras acredita que “a partir das autárquicas, o PSD pode afirmar-se como maior partido autárquico e como o que tem maiores vitórias qualitativas”. Ao contrário do que aconteceu nas legislativas, “nas eleições autárquicas, quem ganha, governa”. O candidato à câmara municipal de Cascais disse ainda, segundo apurou o Observador, que a coordenação das autárquicas cumpriu aquilo a “que se propôs, o que está nos estatutos e o que está na tradição” do PSD. Sobre a candidatura à câmara de Lisboa, nem uma palavra.

Sobre a candidatura de Teresa Leal Coelho falaria Miguel Pinto Luz, já depois de Passos o ter feito na intervenção inicial. De acordo com sociais-democratas presentes na reunião, o líder da distrital recusou a ideia de esta ser uma segunda escolha, tendo dito aos conselheiros:

O convite foi endereçado apenas a uma pessoa, Teresa Leal Coelho, a quem expresso um profundo agradecimento. Teresa Leal Coelho é a candidata com que vamos reconquistar a câmara municipal de Lisboa, e conta com um concelho e distrito mobilizado à volta da sua candidatura.”

Miguel Pinto Luz terá deixado ainda indiretas ao presidente da concelhia do PSD de Lisboa, Mauro Xavier, mas sem o nomear diretamente: “Uma palavra aos profissionais da tática, àqueles que se entretêm a colocar notícias nos jornais, que se juntem a nós e, em vez de andarem a destruir, venham construir. Convido todos a pôr a sua mestria ao serviço do partido. Precisamos de união para sairmos vitoriosos“. O líder da distrital apontou ainda baterias ao Governo PS, falando num “clima festivaleiro, fabricado e artificial” promovido pelo Governo e que teme que “se vá prolongar até outubro.”

Teresa Leal Coelho acabou por chegar já depois destes discursos, por ter estado no Parlamento até tarde a conduzir os trabalhos na comissão parlamentar de Finanças, que na mesma noite ouviu o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa. Mas veio com a mesma confiança e, em conferência de imprensa, disse acreditar que “dentro de meses” será presidente da câmara municipal de Lisboa.

Teresa Leal Coelho: “Dentro de meses serei presidente da câmara”

Apesar do crítico do costume (Luís Rodrigues, que encabeçou uma lista que elegeu quatro conselheiros no último congresso), o clima do Conselho Nacional foi calmo. Mas longo. De tal forma que, após passar da meia-noite, Passos Coelho foi ao microfone denunciar o aniversariante, o histórico assessor do PSD, Zeca Mendonça. Os conselheiros cantaram os Parabéns a Zeca e aplaudiram.