O convite para participar na KugAdventure chegou à laia de desafio, mas rapidamente percebemos que seria uma aventura muito civilizada, pelo que nada de passar dias e noites agarrado ao volante sem dormir. Dividida em 15 etapas, destinadas a levar os participantes de Atenas, na Grécia, ao Cabo Norte, no topo da Noruega, a odisseia resumia-se a um passeio através da Europa, a bordo de um veículo de série, o novo Kuga.

De especial, o SUV da Ford apenas possuía o facto de estar equipado com tracção integral, por oposição às versões com apenas tracção à frente, solução mais simples e em conta, mas que talvez não se revelasse tão à vontade para circular nas estradas geladas da Lapónia.

Ainda antes de nos fazermos à estrada, havia que escolher uma das 15 etapas em que preferíamos participar, o que nos levou desde logo a apontar armas aos últimos troços do passeio, uma vez que o Inverno é bem mais interessante no Norte da Europa, além de que representaria um teste de maior dificuldade para o Kuga.

Como a última etapa já não estava disponível, optámos pela 14ª, que ligava Ivalo, no Norte da Finlândia, já bem acima do Círculo Polar Árctico, a Alta, na Noruega, e a pouco mais de 200 km do Cabo Norte. Esperavam-se -20ºC , ou ainda menos, mas depois de três voos e outras tantas secas nos aeroportos, à espera das intermináveis ligações, eis que aterrámos numa das maiores cidades do norte do país dos mil lagos – apesar disso, Ivalo não chega a ultrapassar a fasquia dos 4.000 habitantes, sendo que nunca vimos mais de uma dezena durante o dia, valor que descia para zero após as 18h00 – com uns amenos -5ºC. Amenos para os locais, que se fartaram de nos tentar convencer que estavam em pleno Verão nórdico, apesar de nós argumentarmos que cinco graus negativos é uma temperatura vulgar em Portugal, mas no congelador do frigorífico lá de casa.

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A Lapónia é uma região que está na moda e que atrai cada vez mais turistas, mas não necessariamente por ser deslumbrante – sobretudo, para quem está minimamente habituado a regiões cobertas de neve e gelo. Mas entre as visitas à terra do Pai Natal, ao “venha daí e delicie-se com a aurora boreal”, passando por visitar uma igreja, um bar ou até mesmo um hotel dentro de um iglô, Suécia, Noruega e Finlândia vendem habilmente uma região que, acima de tudo, facilmente pode ser catalogada como inóspita e triste pelos que vivem no Sul da Europa.

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A velocidade máxima é escrupulosamente respeitada na Finlândia, tal como nos restantes países nórdicos, se bem que, por vezes, não nos tivesse faltado vontade de mandar às ortigas o tecto de 80 km/h nas estradas locais. Isto porque ao fim de meia hora de viagem na Lapónia finlandesa, onde o número de renas ultrapassa largamente o dos humanos – no último levantamento, o score apontava para 260 mil para os primeiros e 210 mil para os segundos – ou cortávamos os pulsos ou carregávamos no pedal. E nós não estávamos inclinados a incrementar a já de si elevada taxa de suicídios por aquelas bandas.

Com o Kuga a ajudar a que os 400 km até Alta fossem devorados num abrir e fechar de olhos, ficámos com tempo mais que suficiente para nos entregarmos ao que de melhor a casa do Pai Natal tem para oferecer aos turistas, desde visitar uma fábrica de naifas, iguais às restantes, mas com os cabos esculpidos em chifres de rena, até a uma quinta de cães para puxar trenós, com mais de uma centena de bichos a dormir no exterior e até a passar mal com a “onda de calor”. Ao que parece, sentem-se bastante melhor com -20ºC.

O arranque da KugAdventure teve lugar em Atenas, na Grécia

Mas não deixou de ser um exercício curioso e enriquecedor ver a forma como os locais interagem com os seus cães – uns huskies do Alasca e não da Sibéria, por quem os lapões não nutrem grande consideração, nem os querem a puxar os trenós. Os bichos de dimensão média, mas muito magros, pareciam uns verdadeiros Kate Moss dos canídeos, pois se teoricamente oscilam entre os 15 e os 35 kg, nunca vimos um exemplar que parecesse ultrapassar os 25 kg, o que não impede uma equipa destes animais de puxar um trenó com mais de 150 kg durante os 1.800 km de uma corrida como Iditarod, ao longo de 10 dias.

Para terminar o evento, um jantar tipicamente sami, ou lapão, que decorreu no principal local de encontros deste povo da Noruega. Foi uma experiência mais curiosa que agradável, que se caracterizou pelas três componentes negativas que tradicionalmente fazem parte destes eventos: uma sala cheia de fumo, da madeira utilizada para aquecimento; um jantar à base de rena (bem que me farto de lhes falar da pimenta, do piripíri e até do molho inglês, mas os locais gostam mesmo é de carne de rena adocicada) e uma jovem a cantar numa língua indecifrável e sem qualquer queda para a música.

Menos mal que o líder da comunidade estava presente e disponível para nos pôr a par da realidade dos lapões. Ao contrário dos catalães, entre outros que se batem pela independência, este povo do norte da Europa, cujo território se espalha pela Finlândia, Suécia, Noruega e Rússia, contenta-se em manter a sua cultura viva, e que os países que os acolhem respeitem as suas tradições. E a coisa até corre bem com todos os governos, à excepção do de Putin, pois sempre que há reuniões nos períodos-chave da sua cultura, a Rússia responde fechando as fronteiras e impedindo os “seus” lapões de participar num encontro em que Putin acaba sempre por ser zurzido. Nos discursos, obviamente.

6.000 km depois, os Ford Kuga atingiram o Cabo Norte, após 15 etapas através da Europa

Mas do lapão mor ficámos a saber que a riqueza se mede pelo número de renas que cada família possui, contabilidade complicada pela decisão dos estados em controlar o número de animais, para os equilibrar com a oferta de comida que a natureza tem para oferecer. Isto tem impedido a criação dos Bill Gates das renas. E quando decidimos mudar de assunto, pedindo um comentário ao elevado número de suicídios, o chefe dos lapões adoptou a técnica que deve ter aprendido das negociações com os russos, sugerindo que nos concentrássemos a escutar a música da estrela local, cujos trinados se assemelham ao das renas. Sem ofensa para os simpáticos animais, que locomovem o trenó do Pai Natal.

Companheiro para todo o serviço

A KugAdventure visou provar a mais-valia desta classe de modelos, os SUV compactos, como veículos para todo o serviço. Com ênfase, neste caso, para a capacidade de lidar com todo o tipo de situação que uma família europeia pode encontrar pela frente durante a próxima viagem.

Do calor e poeira ao frio de rachar, o Kuga lidou com todo o tipo de situações, ainda que a tracção 4×4 fosse fundamental em algumas zonas do percurso. Acompanhe os pormenores da viagem de 6.000 km no vídeo.

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