O autor do ataque de Londres da última quarta-feira não terá qualquer relação com o Estado Islâmico, grupo terrorista que reivindicou o atentado através da sua agência de propaganda. É essa a conclusão dos elementos da Metropolitan Police que estão a investigar os acontecimentos que resultaram na morte de cinco pessoas junto ao parlamento britânico. A polícia refere, em comunicado, que a análise às comunicações de Khalid Masood naquele dia 22 de março são “a principal linha de interrogatório”.

Apesar das suspeitas levantadas nos últimos cinco dias, os responsáveis pela investigação mostram-se céticos quanto à ideia de que Massod tenha sido radicalizado durante o tempo que esteve na prisão. O facto de não estar diretamente ligado a qualquer dos grupos terroristas de maior expressão — Estado islâmico e Al Qaeda –, isso não significa que o autor dos ataques não se tenha deixado influenciar, ou não se tenha inspirado, pelos anteriores ataques dos grupos fundamentalistas.

O método de ataque [de Khalid Masood] parece basear-se em baixa sofisticação, pouca tecnologia, técnicas de baixo custo copiadas de outros ataques e no eco da retórica de líderes do Estado Islâmico no que diz respeito à metodologia e no ataque à polícia e a civis, mas neste momento não tenho quaisquer evidências de que tenha discutido com outros”, referiu o comissário Neil Basu.

Não há relação direta com os grupos extremistas, mas há “um claro interesse na jihad“, a guerra santa, concluiu o responsável da Metropolitan Police. O que também não significa que a radicalização tenha ocorrido na prisão. Essa tese, disse a investigação, “é, neste momento, pura especulação”.

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À medida que a investigação avança, vão ficando mais claros os contornos do ataque em que Khalid Masood conduziu um carro sobre as pessoas que se encontravam nas imediações do parlamento britânico, antes de atacar com uma faca um polícia desarmado, que acabou por morrer.

O carro seguia a cerca de 122 quilómetros/hora quando atingiu as pessoas que passavam pela ponte de Westminster. Entre elas, um português que regressava do trabalho e que ficou ferido no atropelamento, mas que acabou por ter alta hospitalar no próprio dia do atentado.

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A investigação dedica agora boa parte do seu trabalho na reconstituição dos últimos passos do autor do ataque antes de avançar sobre a multidão e matar o polícia. Nos momentos que antecederam os atropelamentos, diz a BBC, o carro que Masood conduzia foi identificado a circular por aquela zona da cidade.

Da mesma forma, o serviço de comunicações encriptadas WhatsApp também registou atividade imediatamente antes do ataque. Para dizer o quê? E a quem? Não se sabe. As comunicações estão protegidas pela política de confidencialidade da empresa e essa posição tem suscitado fortes ataques nos últimos dias, com responsáveis do Governo britânico a defender que “não deveria haver qualquer lugar para os terroristas se esconderem”.

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As dúvidas sobre quem foi (ou quais foram) os interlocutores de Masood nos seus últimos momentos de vida já levaram a polícia a lançar um apelo público. “Houve muita especulação sobre com quem Masood esteve em contacto antes do ataque”, reconhece o comissário Basu. Essa tornou-se, de resto, a “principal linha de interrogatório” da polícia. “Se falou com ele [Masood] no dia 22 de março, por favor diga-o agora, porque a informação que tem pode revelar-se importante para determinar o estado de espírito” do autor do ataque, pediu Neil Basu.