É o regresso de Luís Miguel Cintra à encenação, depois do fim das atividades do Teatro da Cornucópia, a companhia que fundou há mais de 40 anos. Anuncia um comunicado da produção de “Um D. João Português”, espectáculo feito “a partir da tradução portuguesa divulgada no teatro de cordel setencentista de ‘D. João’, de Moliére”, que a peça será construída “ao longo de 2017 em quatro cidades, reunindo um conjunto de atores ligados ao percurso da Cornucópia, e tendo como objetivo partilhar o processo de trabalho com grupos de espectadores locais”. Neste primeiro “encontro”, que acontece no dia 1 de abril, sábado, no Montijo, será lido “o primeiro bloco de trabalho, ‘Na Estrada (da vida)’.”

Um ensaio de leitura, com Luís Miguel Cintra e o elenco de “Um D. João Português”

Após a passagem pelas quatro cidades diferentes, atores e produção regressam a cada um dos palcos para apresentar a “sequência total” da peça, o que deverá acontecer, de acordo com o mesmo comunicado, a partir de janeiro de 2018. “Um D. João Português” conta com as interpretações de André Pardal, Bernardo Souto, Dinis Gomes, Duarte Guimarães, Guilherme Gomes, Joana Manaças, João Reixa, José Manuel Mendes, Leonardo Garibaldi, Luís Lima Barreto, Luís Miguel Cintra, Nídia Roque, Rita Cabaço, Rita Durão, Sílvio Vieira e Sofia Marques. Trata-se de uma co-produção da Companhia Mascarenhas-Martins e do Teatro Viriato.

Depois do Montijo, que vai acolher a primeira visita deste projeto, o segundo destino está ainda “em negociação”. Quanto ao terceiro bloco, e também a propósito do Teatro Viriato, será apresentado em Viseu. Tudo indica (ainda que a produção do espectáculo não o confirme) que a quarta parte seja revelada em Guimarães.

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“Um D. João Português parte de uma tradução portuguesa anónima da peça de Molière”, explica a companhia Mascarenhas-Martins. Trata-se de uma tradução que foi vendida nas ruas como literatura de cordel. D. João e Esganarelo, os protagonistas são representados como “marginais em fuga”, numa encenação que se aproxima da ideia de “road movie”. “Tudo neste espectáculo a que chamei ‘Um D. João Português’ é imperfeito, ou melhor, inacabado, bastardo, hesitante, incerto”, afirma o encenador, citado pelo comunicado da produção. E continua:

“Queremos que os espectadores sejam cúmplices deste jogo, desta mistura que é igual a como funcionam as nossas cabeças nos seus melhores momentos. Para nós o Teatro é como um campo de treinos do desporto favorito dos seres humanos, aquele que o distingue dos animais: pensar. E aceitar ou não, ser moral e ser feliz.”

Depois da Cornucópia

“Um D. João Português” será o primeiro resultado de uma “criação teatral em moldes totalmente diferentes”, que não quer deixar de concretizar ideias mas que as adapta à “nova maneira de produzir”, a mesma que ditou o encerramento da Cornucópia, que não tinha suporte financeiro para continuar como sempre tinha feito.

O cartaz de “Um D. João Português”

O grupo que assina este novo trabalho é formado por atores e pelo diretor da Cornucópia: “Em vez de tomar as novas condições de produção como uma prisão, este grupo de trabalho tem como objetivo criar um projeto que transforme as condições existentes numa verdadeira relação com o público”. A comunidade local ganha aqui mais protagonismo, esperam os responsáveis, bem como a colaboração com outros grupos de teatro, escolas, associações culturais, centros culturais ou grupos desportivos. Tudo para contrariar a ideia de “apresentar um produto pronto a ser consumido”.

A divisão em quatro partes do texto de “Um D. João Português” corresponde “aproximadamente” a quatro atos, que motivam a procura da “cumplicidade de quatro cidades diferentes”. Em cada uma delas haverá leituras públicas e uma residência de duas semanas quando for feita a apresentação da respetiva parte. E aqui a escolha de locais “não convencionais” não é aleatória.

A entrada no Pólo da Junta de Freguesia de Afonsoeiro, no Montijo (sábado às 21h) é gratuita, com lotação limitada. Mais informação aqui.