“Mas em tantos aeroportos que têm, há no Brasil um aeroporto Pelé? Ou na Argentina, há um aeroporto Maradona ou Messi?”. No seu habitual comentário de segunda-feira no Jornal da Noite da SIC, Miguel Sousa Tavares argumentava assim, a propósito da decisão de nomear o aeroporto da Madeira como Aeroporto Cristiano Ronaldo. “A ideia parece-me ridícula”, criticou. A certa altura, após indicação da régie, Clara de Sousa avançou um: Aeroporto George Best, em Belfast. Mas será caso único? No futebol, sim. No desporto, não totalmente. A verdade é que, com a entrada do avançado português no lote, são apenas quatro os desportistas que deram nomes a infraestruturas aeroportuárias: e é preciso contar com dois jogadores de golfe que tiveram uma vida inteira ligados à aviação.

Comecemos por explicar o caso de George Best, uma das primeiras estrelas com tudo o que de bom e de mau isso posso acarretar que o futebol mundial conheceu. Nascido na Irlanda do Norte, a antiga glória do Manchester United foi um génio da bola e um bon vivant fora dela, tendo morrido em 2005, aos 59 anos.

Menos de seis meses depois, numa das muitas e sentidas homenagens de que foi alvo à posteriori (até uma versão em seu nome do famoso Ovo Fabergé foi feita, numa edição limitada a 68 unidades com as receitas a reverterem para a sua Fundação), família e amigos juntaram-se em maio de 2006 para inaugurar o George Best Belfast City Airport. E quer saber uma curiosidade? A opinião pública dividiu-se em relação à medida, sendo “apenas” 52% a favor.

Arnold Palmer é outro exemplo de um desportista que deu nome a um aeroporto. Mas aqui não houve qualquer celeuma. E percebe-se porquê: como o americano costumava dizer, “além da decisão de casar com Winnie e seguir uma carreira profissional no golfe, a decisão mais inteligente foi aprender a conduzir um avião”. Conhecido como “O Rei”, ganhou um total de 62 torneios do circuito profissional, entre os quais sete Majors (só nunca ganhou o PGA Championship, que terminou três vezes no segundo lugar), mas teve também uma “carreira” de cinco décadas a pilotar aviões. Assim, em 1999, foi com naturalidade que o então Westmoreland County Airport, na Pensilvânia, passasse a Arnold Palmer Regional Airport.

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Por fim, Albert Bond Lambert. Nascido em Saint Louis, representou os Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de 1900, em Paris (oitavo lugar), e 1904, na cidade natal, onde ganhou mesmo uma medalha de bronze na prova de golfe por equipas. Mas se foi uma figura proeminente no desporto, a verdade é que não ficou atrás a nível de aviação, tendo sido um dos fundadores do Aero Club de Saint Louis, em 1907. Dois anos depois, comprou o seu primeiro avião aos irmãos Wright, aprendeu a pilotar, foi o primeiro residente de Saint Louis a ter licença e chegou a servir o exército norte-americano como instrutor durante a I Guerra Mundial. Logo na década de 20, o nome do desportista foi dado ao aeroporto, com a particularidade de ter sido o primeiro aeroporto a contar com o sistema de controlo de tráfego aéreo.

Acrescente-se também que o aeroporto de Santander, que é ainda conhecido como tal para muitos e que entra assim na maioria dos inventários dos aeroportos existentes em todo o mundo, foi rebatizado de Seve Ballesteros em 2015. O nome do espanhol, um dos melhores golfistas de sempre que conquistou cinco Majors e que faleceu em 2011, foi aprovado por unanimidade no Parlamento da Cantábria em maio de 2014 após iniciativa popular mas seria apenas reconhecido pelo governo espanhol quase um ano depois.

Algumas outras curiosidades: o famoso aviador francês Roland Garros, que viria a dar nome ao torneio de terra batida do Grand Slam, foi homenageado no aeroporto de Saint-Denis, na ilha de Reunião; os montanhistas Tenzing Norgay e Edmund Hillary deram nome ao aeroporto de Lukla, no Nepal; Bob Hope, o lendário ator, cantor e comediante que morreu em 2003 aos 100 anos e que foi proprietário de parte da equipa de basebol dos Cleveland Indians depois de ele próprio ter sido desportista quando era mais novo, deu nome ao aeroporto de Burbank, na Califórnia; e o empresário Anton Hulman Jr., que comprou o circuito de Indianapolis após a interrupção nas corridas na altura da II Guerra Mundial, deu nome ao aeroporto de Terre Haute, em Indiana, local onde tinha nascido. Mas na larga maioria, os batismos estão sobretudo associados a imperadores, políticos, inventores e personalidades ligadas ao mundo da aviação.

Notícia atualizada a 27 de março