As capas desta manhã não deixavam dúvidas: este era o dia de Cristiano Ronaldo. Ou, acrescentemos, do Abelhinha – era assim que era conhecido quando vivia na Madeira, ainda miúdo, quando diziam que era rápido e franzino. Mas então não é que o primeiro madeirense a jogar no continente estreou-se há quase 90 anos e também era apelidado de Abelhinha? E que também jogou no Sporting? E que também era conhecido pela velocidade e capacidade técnica? E que ganhava o equivalente a 2,5 euros por mês na altura? Curiosidades que vale sempre a pena recordar. Porque o dia era do Abelhinha. Perdão, de Cristiano Ronaldo. Aquele que no ano passado, segundo a Forbes, ganhava 160 euros por segundo. CR7 deixa marca em campo e é uma marca fora dele. E foi isso que se percebeu ainda melhor neste início de semana, em vésperas de batismo do aeroporto com o seu nome, uma honra que apenas George Best teve mas não em vida.

Da Quinta do Falcão à casa atual da família, em São Gonçalo; da escola dos Barreiros à sede do Andorinha, o seu primeiro clube, ou ao centro de estágios do Nacional, com o seu nome; da estátua e do museu ao hotel. Amanhã, quarta-feira, vai falar-se muito do futuro aeroporto Cristiano Ronaldo; ontem, segunda-feira, falou-se muito do passado do miúdos Cristiano Ronaldo; e hoje, terça-feira? É fácil de adivinhar. Porque entre o passado e o futuro existe um presente, da Seleção e do futebol, que se chama Cristiano Ronaldo. E foi ele a figura principal no particular com a Suécia até ao intervalo, quando Portugal vencia por 2-0. Na segunda parte, houve falta de competência e de comparência. E veio a derrota (2-3).

Ficha do jogo

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Portugal-Suécia, 2-3

Jogo particular

Estádio do Marítimo, no Funchal

Árbitro: Clément Turpin (França)

Portugal: Marafona; João Cancelo, Bruno Alves, Neto, Eliseu (Nélson Semedo, 46′); Danilo (William Carvalho, 46′), João Moutinho (Pizzi, 46′), Renato Sanches; Gelson Martins (André Gomes, 79′), Bernardo Silva (Éder, 46′) e Cristiano Ronaldo (Quaresma, 57′)

Treinador: Ferrnando Santos

Suplentes não utilizados: Rui Patrício, Bruno Varela, Raphael Guerreiro, Pepe, José Fonte, Cédric, João Mário e André Silva

Suécia: Karl-Johan Johansson; Emil Krafth (Lustig, 70′), Filip Helander (Hiljemark, 90′), Andreas Granqvist (Pontus Jansson, 46′), Niklas Hult; Viktor Claesson, Sebastian Larsson, Jakob Johansson, Sam Larsson (Durmaz, 67′); Kiese Thelin e Christopher Nyman (Marcus Berg, 87′)

Treinador: Janne Andersson

Suplentes não utilizados: Olsen, Nordfeldt, Augustinsson, Ekdal, Forsberg, e Toivonen

Golos: Cristiano Ronaldo (18′), Granqvist (34′, p.b.), Claesson (57′ e 76′) e João Cancelo (90+3′)

Ação disciplinar: nada a registar

Fernando Santos, que tinha explicado que não existem jogos a brincar, promoveu uma revolução maior do que era expectável. Para resumir: ficou apenas o capitão das tropas, mudaram todos os outros furriéis em comparação com a equipa inicial frente à Hungria. Renato Sanches, uma das surpresas, começou a testar um golo parecido com aquele que fez um dia na Luz, frente à Académica, que levantou o estádio. Ficou perto, muito perto, e só havia cinco minutos de jogo. No entanto, os escandinavos mostraram que não tinham vindo à Madeira apenas por turismo, mas o estreante Marafona esteve à altura.

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No entanto, a Suécia distraiu-se e, num momento apenas, esqueceu-se de duas das mutas pepitas que o Sporting vai encontrando para as alas com o passar dos anos: Gelson fez o cruzamento de trivela, num gesto à Quaresma, e Ronaldo surgiu de rompante na área a encostar para o 1-0, aos 18 minutos. Com esse golo, o 71.º por Portugal, entrou no top-10 dos melhores marcadores de sempre por seleções. Faltam 13 para igualar Puskas, 14 para ultrapassa-lo. Parece difícil mas cuidado – falamos do melhor.

Mais uma vez, foi a Suécia a tentar ser mais profunda no último terço e Nyman, após um cruzamento da direita, fez o mais complicado e atirou por cima uma bola de golo (23′). A resposta não demorou e não fosse Johnsson a fazer a melhor intervenção do primeiro tempo e CR7 tinha bisado, de novo no seguimento de um centro da direita agora de João Cancelo (25′). A história até ao intervalo não estava escrita, mas Granqvist quis agarrar na caneta de Ronaldo para assinar o segundo golo (na própria baliza) no papel que mais uma vez tinha sido entregue pelo irreverente Gelson Martins.

Um jogo de futebol tem 90 minutos, mas Portugal fechou a loja em 45 (com uma curiosidade: entre jogadores de Benfica e FC Porto utilizados, e foram alguns, ninguém jogou mais do que uma parte). E não correu bem: já depois de uma grande defesa de Marafona a livre direto de Larsson (50′), Claesson aproveitou uma bola a pingar na área depois de nova defesa do guarda-redes do Sp. Braga (56′). E 20 minutos depois repetiu a gracinha, com uma entrada ao primeiro poste na sequência de um canto perante uma defesa nacional estática (76′).

O que começou a saber a mel já estava com um gostinho de fel. E pior ficou quando, no último minuto de descontos, João Cancelo desviou de forma deficiente um cruzamento da esquerda e introduziu a bola na própria baliza. Se é verdade que, por ventura, o 2-0 era uma resultado exagerado ao intervalo, também é verdade que a Suécia não jogou o suficiente para marcar três golos nos derradeiros 45 minutos. Mas era um particular, fica apenas o aviso. E que a Abelhinha continue a inspirar a equipa para voar e picar como fez no Campeonato da Europa de França.