Ao estilo Ted Talks, Carlos Moedas levantou-se para a apresentação, mas antes cumprimentou um robô. É disso que gosta de falar e essa é a sua pasta na Comissão Europeu: inovação, investigação, ciência. O comissário europeu é, por regra, imparcial e tenta escapar à política nacional. Mas não conseguiu. Após falar no EPP Talks, inserido na programação do Congresso do PPE, Carlos Moedas foi questionado sobre o futuro presidente do Eurogrupo. Pode ser Mário Centeno? Ao que Moedas respondeu: “Eu gosto sempre de ver portugueses em lugares de destaque na Europa.”

Ontem, ao Observador, Paulo Rangel tinha admitido que o cargo de futuro presidente do Eurogrupo ficasse para os socialistas por uma questão de “equilíbrio de cargos nas instituições comunitárias.” No entanto, deixava claro que, na sua opinião, Mário Centeno não seria “o mais credível dos presidentes do Eurogrupo” e que essa escolha “era capaz de criar alguma agitação dos mercados”. Já Carlos Moedas optou por responder que gosta de ver os portugueses a ocupar grandes cargos europeus. O comissário lembrou que “felizmente” o país tem “tido ultimamente uma quota de portugueses em grandes lugares no mundo e na Europa o que é extraordinário”. O comissário destaca, no entanto, que a decisão não passará por ele e que “vai ser tomada entre os vários países.”

Sobre a hipótese que começa a ser defendida pelos socialistas para o Eurogrupo, o comissário Pierre Moscovici — que não é ministro das Finanças, logo seria mudada a lógica do cargo — Moedas destaca que é “um político muito experiente, um grande político europeu e também francês, mas é um comissário dos mais importantes no colégio de comissários, onde está a fazer um excelente papel.” Para Moedas “se algum dia [Moscovici] decidir sair, será uma pena”, já que “tem sido um homem que esteve sempre do lado do que é o interesse de Portugal, pelas boas razões”. E acrescentou: “É uma peça fundamental do Colégio de Comissários, espero que ele não saia.”

Sobre as declarações de Jeroen Dijsselbloem — que afirmou que os países do Sul gastam tudo em “copos e mulheres” — Carlos Moedas defende que o holandês demonstrou que “não está ao nível do cargo que tem”. Moedas considera “inadmissível” que um dirigente europeu crie “ficção” e tenha “uma linguagem de divisão, de fricção, que é uma linguagem que é negativa e que ninguém deve ter.”

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“Quem será o próximo presidente do Eurogrupo não é uma decisão que passe por mim. Vai ser tomada entre os vários países. São muitos passos em várias frentes. Quem é líder tem de ter muito cuidado e tem de ter exatamente porque ser político europeu é conseguir gerir todas as sensibilidades e nunca dizer nada que possa ferir um país. Porque é mau. Negativo.”

“Brexit é um desastre, mas temos de reagir”

O comissário Carlos Moedas comentou ainda o Brexit, dizendo: “É um pouco como num divórcio, vamos ter de ver o que eles nos devem, o que nós lhes devemos. Em primeiro lugar, fazer essa parte do divórcio e depois construir u uma nova relação com o Reino Unido.” À semelhança do que defende Assunção Cristas — e em sentido oposto ao que defende a liderança do PPE — Moedas discorda de “qualquer relacionamento que seja de fricção”.

O comissário europeu pede que as negociações sejam feitas “com muita calma, com muita serenidade e com um trabalho que seja de energia positiva e não de negativa. Um trabalho construtivo e não destrutivo.” Carlos Moedas rejeita assim “qualquer ideia de ser mais duro ou mais agressivo”, mas concorda com Jean-Claude Juncker quando o presidente da comissão europeia diz que a UE não pode ter “uma atitude naïf.”