O ex-primeiro-ministro francês Manuel Valls vai apoiar o seu antigo ministro da Economia, Emmanuel Macron, nas presidenciais francesas. O socialista deixa assim cair o apoio ao candidato escolhido pelo seu próprio partido, Benoît Hamon, que representa a ala mais à esquerda do PS francês, e apoia formalmente Macron, que lidera o movimento independente “Em Marcha!” (EM).

A decisão foi avançada pelo próprio Valls aos microfones da rádio RMC e da televisão BFM-TV, ambas francesas, e confirma aquilo que o ex-primeiro-ministro já prometera durante as primárias do centro-esquerda que puseram frente-a-frente Valls e Hamon, precisamente.

“Votarei em Emmanuel Macron, porque não quero correr qualquer risco na primeira volta das eleições presidenciais”, justificou-se o antigo primeiro-ministro francês. O raciocínio é pragmático: com Marine Le Pen muito perto de liderar as intenções de voto na primeira volta, a escolha deve recair no candidato em melhores condições de travar o ímpeto da candidata da Frente Nacional. E esse candidato é Macron, que lidera os mais recentes estudos de opinião, depois de destronar Le Pen nos primeiros meses do ano.

Em entrevista à Europe 1, Emmanuel Macron já reagiu ao anúncio de Manuel Valls, agradecendo o apoio e aproveitando para deixar uma promessa: se vencer as presidenciais francesas, o ex-ministro da Economia propõe-se a construir as pontes políticas necessárias “para virar a página dos últimos cinco anos, em particular, e mais amplamente dos últimos 20 anos” da política francesa.

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Em declarações à France 2, Benoît Hamon, o Bernie Sanders francês que quer taxar robots e legalizar a marijuana, como contava aqui o Observador, não escondeu o “desapontamento” e “tristeza” perante este anúncio de Manuel Valls. O socialista não deixou, ainda assim, de dar uma bicada ao ex-primeiro-ministro: “Sei que depois de ter vencido as primárias com um projeto político que recusa as soluções que falharam aqueles que falharam não me vão ajudar”. O diretor de campanha de Hamon, aqui citado pelo jornal Le Monde, já veio denunciar aquilo que diz ser uma “tentativa de sabotagem” em curso.

Este não é o primeiro socialista a tirar o tapete a Benoît Hamon. No final de janeiro, um grupo de deputados da ala direita do PS francês divulgou uma carta onde anunciou a intenção de não apoiar a candidatura de Hamon, que, argumentam os mesmos deputados, representa a “esquerda radicalizada” que tomou o partido. “Somos socialistas que pretendem ficar. Mas depois de umas primárias que não resolveram nada, não podemos negar estar diante de um caso sem precedentes de consciência: como apoiar um projeto presidencial que é a antítese da ação parlamentar que temos tido e onde temos tido avanços?”, questionavam esses deputados.

Os deputados (apoiantes de Manuel Valls na corrida à liderança socialista) reivindicaram na altura “o direito de retirada da campanha presidencial por não estarem reunidas as condições” para o seu “apoio à candidatura de Benoît Hamon”. Na tomada de posição pública, os deputados socialistas diziam estar “conscientes da responsabilidade que pesa sobre as forças progressistas e recusam uma direita com o espírito de vingança aguçado” e também uma extrema direita “que nunca gostou de França: “Mas não pensamos que o futuro possa passar por esta aventura incerta”.

O apoio de figuras de destaque da política francesa, como o socialista Christophe Caresche, um dos subscritores dessa carta, está a ajudar Emmanuel Macron a subir nas sondagens. Além disso, Macron anunciou em fevereiro uma aliança com o centrista François Bayrou, antigo candidato presidencial que desistiu da candidatura a favor de Macron, o que lhe proporcionou mais algum apoio eleitoral.

Neste momento, Macron parece liderar as intenções de voto na primeira volta das eleições, à frente (por margem reduzida) de Marine Le Pen, ainda que alguns estudos de opinião mantenham como a potencial vencedora da primeira volta. Segundo as mais recentes sondagens, os dois passariam à segunda volta e, aí, Macron bateria confortavelmente a candidata da Frente Nacional.

Socialistas franceses reclamam direito de não apoiar Hamon nas presidenciais