Entre 1 de janeiro de 2017 e esta quarta-feira, 29 de março, foram notificados 115 casos de hepatite A, sendo que a grande maioria (97%) são adultos jovens do sexo masculino e, principalmente, residentes na área de Lisboa e Vale do Tejo (78 casos). Os dados foram atualizados pela Direção Geral de Saúde (DGS) e constam de uma norma de orientação enviada aos profissionais de saúde.

Dos 115 casos notificados, 107 foram confirmados e metade dos doentes (58) tiveram necessidade de internamento, avança a autoridade de saúde, acrescentando que a idade média dos casos com confirmação clínica e laboratorial é de 30 anos. A maioria dos casos foram estão localizados na região de Lisboa e Vale do Tejo, mas há mais casos espalhados pelo país, nomeadamente em Coimbra, de acordo com a SIC.

“Parte dos casos” identificados neste surto, diz a DGS, “estão associados” ao grupo de homens que fazem sexo com homens (HSH), lê-se na norma, que frisa ainda que “os surtos de hepatite A entre HSH têm sido reconhecidos desde a década de 70” e que “um nível superior a 70% de imunização entre HSH impediria a transmissão sustentada e futuros surtos”.

Aliás, no ponto referente aos grupos de risco surgem os homens que fazem sexo com homens (HSH), mas, após, audição de representantes da ILGA Portugal e GAT (Grupo de Ativistas em Tratamentos), a DGS atualizou a nota acrescentando os seguintes comportamentos: “Sexo anal (com ou sem preservativo); sexo oro-anal; sexo anónimo com múltiplos parceiros; sexo praticado em saunas e clubes, entre outros locais e encontros sexuais combinados através de aplicações tecnológicas (Apps)”.

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E esta noite no Jornal da Noite, da SIC, o diretor geral de Saúde, Francisco George, insistiu na ideia de que não se deve falar em grupos de risco, mas sim em “comportamentos de risco”.

Não há grupos de risco. Falamos de comportamentos de risco. E há grupo heterossexuais ou não que podem ter comportamentos que favorecem a transmissão do vírus da hepatite A”, como sejam a prática de sexo oral e sexo com múltiplos parceiros, referiu Francisco George.

Da nota enviada aos profissionais saltou uma referência especificamente ao chemsex, que consiste em práticas sexuais com consumo de drogas, e que constava de um primeiro documento ainda em forma de rascunho, noticiado pelo Expresso, na terça-feira à noite.

Quanto à origem do surto, para já, e de acordo com as análises moleculares já feitas e respetiva
sequenciação genética, identificou-se duas estirpes: uma (em 53 amostras) associada ao cluster VRD_521_2016 — relacionada com viajantes que regressaram da América Central e do Sul, e que foi também identificada noutros países europeus — e num caso importado foi demonstrada a estirpe associada ao cluster RIVMHAV16-090 — relacionado com um festival de verão na Holanda e um surto em Taiwan.

O surto de hepatite A está a ser vivido um pouco por toda a Europa. Segundo o Centro Europeu, o surto poderá ter começado num festival de verão em Amesterdão, na Holanda, havendo já registos de casos em 13 países.

O principal modo de transmissão deste vírus é por via fecal-oral, através de fonte comum por ingestão de
alimentos ou água contaminados ou por contacto pessoa a pessoa.

Pedidos de vacina chegam aos 200 por dia

Na nota enviada aos profissionais, a DGS recomenda que no caso de pessoas com “reconhecida exposição recente ao vírus que não tenham sido previamente vacinadas”, seja feita a profilaxia pós-exposição com imunoglobulina, se tiverem menos de 12 anos ou mais de 41 ou a vacina anti-VHA, “o mais precocemente possível e no prazo máximo de duas semanas após a exposição”, no caso de pessoas com idade compreendida entre os 12 e os 40 anos.

Esta noite, no Jornal da Noite, da SIC, o diretor geral de Saúde, Francisco George, avançou que os “pedidos têm aumentado muito e chegam aos 200 por dia”, acrescentando ser “fundamental que não haja uma corrida às vacinas”.

Temos de controlar a procura. A vacina é indicada exclusivamente pelo médico que prescreve a vacina para proteger os contactos dos doentes que estão internados.”

Estas declarações chegaram depois de o Expresso ter noticiado que as doses destas vacinas estão esgotadas em várias farmácias da Grande Lisboa.

Há vacinas para aqueles que precisamos de proteger”, garantiu o diretor geral de Saúde, acrescentando que se os médicos “tiverem dificuldade em encontrar a vacina, podem ligar para o 800222444 e requisitar a vacina”.

E, mais, rematou Francisco George: “Se não houver vacina não tem grande problema porque temos disponível um medicamento que protege os contactos dos doentes e aí não temos dificuldade de stock”.

[Notícia atualizada pela última vez com as declarações do diretor geral de saúde]