Durante uns meses, discutiu-se acaloradamente a legalidade e a segurança dos Volvo XC90 equipados com a tecnologia de condução autónoma da Uber – desenvolvida pela empresa americana Otto, entretanto adquirida pela empresa de transportes. Sobretudo, se teriam ou não alguém responsável a bordo, capaz de evitar um acidente.

Aquando da polémica em São Francisco, criada por um destes modelos, quando queimou um sinal vermelho e quase atropelou um peão da passadeira – isto num veículo sem autorização sequer para proceder a testes na via pública -, voltou-se a questionar se estaria a bordo alguém que controlasse a direcção e os travões em caso de necessidade. Tudo sem necessidade. Sabe-se agora que os Uber não vão a lado nenhum sem alguém que os controle, sendo incapazes de percorrer mais de 1,6 km sem intervenção humana.

A informação relacionada com o curto rastilho dos Uber autónomos foi tornada pública pela Recode, cujos documentos a que teve acesso provam que os XC90 percorrem cerca de 32.000 km por semana, em regime autónomo, mas têm dificuldade em ultrapassar uma milha (1,6 km) sem que o condutor assuma o controlo. E os dados não apontam para melhorias no desempenho com o passar do tempo, antes pelo contrário, pois se em Janeiro a média, entre intervenções do ser humano, era de 0,9 milhas, em Março baixou para 0,8 milhas.

Por outro lado, este aparente atraso no estágio de evolução do self driving da Uber explica o porquê de um certo secretismo em relação à forma como tudo tem funcionado, bem como os tipos de problemas que têm enfrentado. Mais do que isso, percebe-se agora o motivo que levou a Uber a não requerer às autoridades da Califórnia autorização para realizar testes nas vias públicas daquele estado, pois isto obrigá-los-ia a abrir o jogo e iria permitir que as autoridades conhecessem exactamente o ponto de situação, mais que não seja para estarem conscientes do tipo de risco a que expõem os restantes utilizadores das vias públicas.

Este atraso na condução autónoma por parte da empresa controlada por Travis Kalanick até é compreensível, sobretudo quando comparada com a Tesla, cujo imenso parque circulante fornece ao construtor um acumular de experiência e de dados de valor incalculável para optimizar o Autopilot. Mesmo em relação à Waymo, os especialistas de condução autónoma da Alphabet, donos da Google, a Uber está igualmente muito atrasada, e outra coisa não seria de esperar, uma vez que a Waymo trabalha nesta tecnologia desde 2009, enquanto a Uber só a abraçou em 2016, depois de comprar a Otto.

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