“Obrigado, meu Deus!!! E, na pessoa do Dr. António Martins, agradeço a todos que me ajudaram a voltar a fazer o que mais gosto! Médicos, fisioterapeutas, fisiologistas, nutricionistas, comissão técnica, meus colegas, meus familiares, adeptos!!! A TODOS, meu MUITO OBRIGADO!!! #carregabenfica”, escrevia Jonas em dezembro, após regressar aos relvados em dezembro no seguimento de uma longa ausência por lesão. No dia em que completou o 33.º aniversário, o brasileiro foi o Deus que colocou o Benfica na frente. Depois, lá apareceu Maxi Pereira, o Judas agora no FC Porto, a recolocar tudo empatado. Ederson, num ato de fé, tirou o 2-1 a Soares. Casillas, em três defesas milagres, tornou-se o santo padroeiro do encontro. Os dois primeiros classificados da Primeira Liga mantiveram a distância de um ponto a sete jornadas do final e tudo ficou adiado lá para maio, 36 incluído como se cantava no início do jogo na Luz, quando o Papa visitar o nosso país.

Ficha de jogo

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Benfica-FC Porto, 1-1

27.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Carlos Xistra (Castelo Branco)

Benfica: Ederson; Nélson Semedo, Luisão, Lindelöf, Eliseu; Samaris, Pizzi; Salvio (Cervi, 69’), Rafa (Carrillo, 87’); Jonas e Mitroglou

Treinador: Rui Vitória

Suplentes não utilizados: Júlio César, André Almeida, Lisandro López, Filipe Augusto e Zivkovic

FC Porto: Casillas; Maxi Pereira, Felipe, Marcano, Alex Telles; Danilo, André André, Óliver; Corona (Diogo Jota, 67’), Brahimi (Otávio, 87’) e Soares (André Silva, 72’)

Treinador: Nuno Espírito Santo

Suplentes não utilizados: José Sá, Boly, Rúben Neves e Herrera

Golos: Jonas (7’, g.p.) e Maxi Pereira (50’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Felipe (6’), André André (56’), Marcano (71’), Alex Telles (76’) e Maxi Pereira (87’)

Rui Vitória tinha pedido mais uma noite de inferno na Luz. Mas se nas bancadas estava endiabrado, dentro de campo pareciam diabos à solta: pressão alta na primeira fase de construção, velocidade de circulação e sucessivas trocas posicionais bem feitas que deixaram o jogo remetido apenas ao meio-campo dos azuis e brancos. As alas do Benfica tinham uma cara (Salvio, o melhor) e uma coroa (Rafa, o pior), mas a moeda do jackpot foi conseguida por Jonas, que entrou bem na área e sofreu falta de Felipe para grande penalidade. Era só puxar a manivela e o aniversariante agradeceu o brinde logo aos sete minutos, naquela que foi o penalty mais rápido em clássicos.

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Este era o dia de Jonas, que arrebatou o palco até na primeira confusão e consequente molhada entre jogadores, depois de chocar com Nuno. Demorou nove jogos até fazer o primeiro golo, mas na noite em que fez não quis ficar por aí e continuou a senda de aproveitar o espaço entre linhas que o FC Porto sabia que ocupava mas não conseguia travar. Os encarnados, mesmo baixando paulatinamente as linhas, estavam a colocar-se a jeito para aumentarem. E podiam, mas Nélson Semedo atirou por cima (17’).

O abrandamento dos visitados acabou por ter o efeito nocivo de entregar de bandeja a vitamina que faltava aos comandados de Nuno Espírito Santo: recuperar o controlo emocional. Por isso, os 72% de posse de bola que o Benfica teve nos primeiros dez minutos do encontro passaram a ser uma recordação do passado num jogo cada vez mais equilibrado a meio-campo. Óliver, aos 20’, fez o primeiro remate dos dragões ao lado; Brahimi, de livre direto, obrigou Ederson à primeira grande intervenção (37’).

Rui Vitória, que às vezes fazia lembrar na sua área técnica Humberto Coelho como jogador, quando o antigo central, um dos melhores portugueses de sempre, levantava o braço e ganhava automaticamente a decisão do árbitro, estava confiante na forma como a equipa percebia o momento que o jogo atravessava e deixava à solta aquela veia mais cínica dos tricampeões quando baixam para criar oportunidades em saídas vertiginosas complicadas de travar. Ainda assim, o intervalo chegava com o 1-0. E com o dobro das faltas (16) do que de remates (oito). Enquadrados, apenas três…

Ainda se recorda da descrição do início do encontro? Vire ao contrário, agite, troque o vermelho pelo azul e branco e já está: aproveitando as inúmeras perdas de bola nas transições, o FC Porto tomou conta do jogo sem pedir licença e chegou ao empate por Maxi Pereira, o Judas que seguiu os passos de tantos outros e trocou diretamente a Luz pelo Dragão (50’). O golo, surgido de uma insistência na área, teve o mérito de premiar quem arriscou e castigar quem pensava que não valia a pena arriscar. E esse fenómeno só não se tornou uma bola de neve porque, aos 59’, Ederson foi roubar a bola aos pés de Soares quando o avançado seguia isolado para a área.

O miúdo brilhava, mas a partida estava mesmo era para os graúdos. E por graúdos entenda-se mesmo os trintões. Jonas deu o mote da batida, Iker Casillas começou a sinfonia das defesas. Uma (62’), duas (65’), três (72’), esta última num lance onde só faltou Ederson ir também à área contrária rematar contra o boneco (que por acaso écampeão da Europa e do Mundo de clubes e seleções, algo que às vezes se esquece).

Certo é que bastou um cheirinho com um pouco mais de intensidade para voltar um desnorte, agora tático, a sobrevoar pelo setor intermédio de um FC Porto cada vez mais amarelado. Mais: as entradas de Diogo Jota e André Silva pouco ou nada estavam a acrescentar à equipa, algo que também aconteceria com Cervi e Carrillo. Uns pela forma como agiram de início, outros pela maneira como tiveram de reagir após o intervalo, traziam baterias para apenas 75 minutos. A partir daí, finito, finito. Ficou aquela atitude de Luisão no final, a puxar pelo público. O jogo, claro, porque a Primeira Liga vai estar em aberto até à derradeira jornada.