Investigadores portugueses e alemães estão a identificar estruturas e vestígios no subsolo do arqueossítio da Boca do Rio, no concelho de Vila do Bispo, no Algarve, para compreender uma das áreas mais importantes de ocupação da época romana. Os trabalhos de prospeção geofísica e recolha de sedimentos incidem junto à linha de costa, local classificado e considerado como um dos mais importantes da ocupação entre os séculos I e V na região do sudoeste algarvio. “Estas prospeções permitem detetar e identificar, por exemplo, a posição da linha de costa na época romana, se houve outro tipo de tsunamis, além do de 1755, e evidências para criar um projeto de fundo para o sítio, conciliando a arqueologia e a geologia”, disse à agência Lusa João Pedro Bernardes, geólogo, investigador da Universidade do Algarve e coordenador do projeto.

Os trabalhos são dirigidos pelo professor Felix Teichner, da Universidade de Marburg (Alemanha) e contam também com investigadores das universidades alemãs de Colónia e de Aix-la-Chapelle.

Nas sondagens são utilizados georradares, aparelhos com capacidade de analisar com detalhe o terreno e estruturas construídas, ao utilizarem a reflexão das ondas eletromagnéticas. “São trabalhos não invasivos, com o cruzamento de diferentes métodos que permitem descortinar evidências de origem humana ocultas no subsolo, para a criação de um projeto sólido, para sabermos o que queremos exatamente da investigação para o futuro”, indicou João Pedro Bernardes.

Segundo João Pedro Bernardes, a campanha atual permitirá “um trabalho sério no futuro” para a investigação daquela zona pesqueira. “Desde as paleodietas, que tipo de doenças é que as pessoas ganharam com a atividade ligada à pesca, o que comiam e o impacto que a alimentação tem, além daquilo que a arqueologia faz, que é de descobrir a atividade do quotidiano”, enumerou.

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O objetivo passa por não centrar apenas o projeto numa época, mas ver a evolução das técnicas pesqueiras desde o século I até hoje, “valorizando o sítio arqueológico de elevada importância” na identidade do sudoeste peninsular e de um povo de pescadores e de mareantes. “Esta sobreposição de ocupações que este sítio encerra é o sítio ideal para estudarmos a evolução”, assegurou.

Por seu turno, o arqueólogo Ricardo Soares, da autarquia de Vila do Bispo, disse à Lusa que a riqueza arqueológica existente no concelho tem despertado crescentemente o interesse da comunidade científica, tendo sido criado um centro de acolhimento da investigação arqueológica.

Trata-se de um espaço destinado a acolher e alojar as equipas e que permite aumentar a cooperação com as universidades internacionais. “De certa forma, até podemos falar de turismo científico. Temos cerca de 20 espanhóis e alemães envolvidos em trabalhos de investigação, aos quais disponibilizados alojamento e alimentação, investimento que nos dá um retorno científico incrível e que de outra forma não está ao nosso alcance nos tempos que correm”, destacou.

Para o presidente da Câmara de Vila do Bispo, Adelino Soares, a identificação do património histórico do concelho “justifica o investimento que tem sido feito no apoio à investigação, com reflexo na exploração económica e turística”. “Isto tem a ver com uma estratégia de desenvolvimento do território, de identificação histórica e cultural e de captação de outra vertente de turismo”, sublinhou.