A história de Jeff De Young, militar norte-americano, podia ser mais uma entre a de tantos outros militares: Jeff sofreu de stresse pós-traumático depois ter combatido no Afeganistão pelos marines (equipa de fuzileiros navais do EUA). Mas a sua história tem outro protagonista: o cão Cena, especialista em farejar explosivos e com uma notável carreira no exército dos Estados Unidos América.

À BBC, Jeff conta a história dos anos em que esteve ao serviço do exército dos EUA e as marcas psicológicas que isso lhe provocou. Mas, mais do que isso, o antigo militar conta como desenvolveu a grande amizade com Cena e como, mais tarde, o cão o ajudou a ultrapassar os traumas de guerra.

Jeff e Cena conheceram-se quando o militar, na altura com apenas 18 anos, integrou o exército e foi destacado para combater no Afeganistão, corria o ano de 2009. Foi já em palco de guerra que Jeff foi destacado para treinar e acompanhar Cena. A amizade desenvolveu-se e os dois tornaram-se inseparáveis. Além de descrever a amizade que os unia, o jovem marine relatou as características impressionantes de que Cena era dotado:

“Ele (Cena) tinha sido treinado para detetar mais de 300 tipos de explosivos diferentes. E se ele cheirasse algo estranho em patrulha, deitava-se e notificava-me. Aí eu chamava um especialista em explosivos”, conta Jeff mostrando as aptidões militares de Cena.

Jeff De Young em cenário de guerra com Cena. Créditos: Facebook de Jeff De Young

“Ponto de viragem”

Durante o seu testemunho Jeff relatou então o momento que apelida como “ponto de viragem”: a batalha de Marjah, no sul do Afeganistão. A situação agravou-se nesse combate, o tiroteio foi intenso, vários militares morreram, alguns deles grandes amigos seus. E só não perdeu Cena porque o protegeu com o próprio corpo.

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Entretanto o seu tempo de serviço no Afeganistão terminou, mas os traumas da guerra voltaram com ele na mala de regresso a casa. Jeff voltou para junto da sua família e Cena permaneceu ao serviço do exército norte-americano. Nos quatro anos seguintes, Jeff casou, foi pai. A vida parecia continuar o seu rumo, mas na sua mente permaneciam as memórias de guerra e de Cena. Fez terapia, mas nada resultava. O afastamento abrupto entre o militar e o cão agravaram as mazelas psicológicas que contraiu durante a guerra.

No entanto, tudo mudou um dia, quando recebeu um telefonema. Do outro lado perguntavam-lhe se gostaria de adotar Cena. A resposta foi imediata: Sim! Parecia que quatro anos não tinham passado na vida um do outro. Cena ajudou Jeff a ultrapassar, por exemplo, um trauma que tinha com choro de crianças. Ele que nem conseguia ouvir as filhas a chorar, já conseguiu cuidar da terceira filha devidamente.

O seu casamento, no entanto, não sobreviveu aos traumas de guerra que Jeff trouxe do Afeganistão. Mas hoje, como embaixador da American Humane Association, corre os EUA de uma costa à outra em palestras de sensibilização para mostrar o quanto é importante que os militares que trabalharam de perto com cães, em cenários de guerra, mantenham o contacto com os mesmos, além de dar o seu próprio testemunho de como os cães ajudam, de “forma vital no tratamento de veteranos com stresse pós-traumático”.