Os críticos começam a sair da toca no PSD. Pedro Rodrigues – que liderou a Juventude Social Democrata (JSD) entre 2007 e 2010 – apelou mesmo, esta terça-feira, em declarações ao Observador, a uma rebelião interna no partido contra Passos Coelho: “O que se está a passar no PSD exige que todos sejamos capazes de nos desinquietarmos e assumamos as nossas responsabilidades“. Pedro Rodrigues aponta as baterias a Passos Coelho e diz que “a generalidade das escolhas do presidente social-democrata para as eleições autárquicas significam a desistência do PSD da sua verdadeira vocação.”

Para Pedro Rodrigues esta desistência do PSD da sua vocação autárquica, levou-o a esta tomada de posição. “Não me conformo com a ideia do meu país se continuar a adiar e o PSD persistir em não assumir as suas responsabilidades“, critica o ex-líder da JSD.

O antigo dirigente, 37 anos, já foi deputado, é advogado e destacou-se na liderança da “jota” social-democrata no combate ao governo de Sócrates, com campanhas como o “Pinócrates”. Pedro Rodrigues chegou a concorrer à distrital de Lisboa contra Miguel Pinto Luz (passista) em 2013, tendo mesmo abandonado o cargo de chefe de gabinete de Miguel Poiares Maduro para entrar nessa corrida. Teve do seu lado notáveis, como Nuno Morais Sarmento, mas perdeu. No final de setembro criticou, em declarações à revista Sábado, a estratégia de Passos para Lisboa, com frases como: “Continuamos a escolher cortinados antes mesmo de elevar os alicerces. Há muita desorientação neste PSD”.

Até agora as críticas a Passos — que dá na quinta-feira uma entrevista na SIC, às 20h30 — têm sido mais ou menos contidas, mas começam os posicionamentos para o pós-autárquicas. No último Conselho Nacional, a 23 de março, apareceu o crítico do costume, mas Passos foi mais duro do que o habitual. Já depois da uma da manhã, perto do final da reunião, o ex-líder da distrital de Setúbal, Luís Rodrigues, aconselhou o presidente a apostar “verdadeiramente” nas autárquicas e apontou o caminho: “São 308 concelhos, como faltam seis meses para as autárquicas, se for a dois por dia, faz o país todo“. Passos não gostou e, segundo apurou então o Observador, advertiu o conselheiro que não está para “piadas” ou “provocações” e que este deve andar distraído, alegando que tem visitado vários municípios.

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Passos avisa críticos que não está para “piadas” ou “provocações”

No dia seguinte, a 24 de março, o ex-líder da JSD, Pedro Duarte, também registava, no programa Política Pura da TSF, a “estupefação de quem vê de fora” de “não ver da parte da direção política nacional do PSD um empenho para aproveitar as eleições autárquicas como forma de afirmar localmente o PSD nos diferentes concelhos do país”.

Pedro Duarte defendeu então que “mais do que tirar ilações nacionais ou ser um momento de derrube de um governo ou de desgaste de um governo, [esta eleição] é um momento que seria importante para afirmar localmente o PSD e a partir dai poder haver outras batalhas para se afirmar um projeto nacional”. E ainda atirou: “Eu não estou a sentir esse empenho e sentido de responsabilidade pelo momento que se está a viver”.

Agora é a vez de Pedro Rodrigues criticar abertamente Passos Coelho. Em outubro, o ex-líder da JSD criou um movimento que apresenta uma alternativa à linha da atual direção “laranja” e propõe um PSD mais proativo: “Portugal não pode esperar”. Pedro Rodrigues explicou, na altura, que o movimento “não pretende discutir pessoas“, mas sim “reconquistar o centro político, com um discurso virado para a classe média e para os jovens empreendedores”. Mas admite que, “como é óbvio, pretendemos ser consequentes e que líderes ou candidatos a líderes, quaisquer que sejam, aproveitem as nossas ideias e as nossas propostas“.

Passos disse “venham”. E eles vieram, os desalinhados

O manifesto sugere que há uma certa apatia do atual PSD e algum unanimismo. O movimento defende que a responsabilidade de devolver esperança aos portugueses “é dos órgãos do partido, mas também dos seus militantes”, daí que este grupo — que arrancou com 45 pessoas, de diferentes gerações, com representação geográfica dos 18 distritos e das duas regiões autónomas — decidiu não se “remeter ao silêncio”.