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Quais os 47 concelhos com três (ou ainda menos) agências bancárias

Este artigo tem mais de 5 anos

A CGD é mais um banco a encolher a rede de balcões. Nos últimos quatro anos, os bancos fecharam agências quase ao ritmo de um por dia. Ainda não há concelhos sem banco, mas 47 só têm três - ou menos.

Já são conhecidas as primeiras 61 agências da Caixa a fechar
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Já são conhecidas as primeiras 61 agências da Caixa a fechar

Jose Sena Goulao/LUSA

Já são conhecidas as primeiras 61 agências da Caixa a fechar

Jose Sena Goulao/LUSA

O anunciado encerramento de 180 a 200 balcões da Caixa Geral de Depósitos (CGD) até 2020 relançou o debate sobre a oferta de serviços bancários, com o Governo e os partidos a exigirem a continuidade do banco do Estado em todos os concelhos. A instituição liderada por Paulo Macedo já teve de reajustar os seus planos à pressão dos políticos, ainda que o presidente executivo da Caixa tenha deixado um desabafo na conferência em que apresentou as contas de 2016.

Ninguém peça à Caixa para ficar em sítios onde os outros bancos não querem ficar. A Caixa deve prestar o serviço público, por isso vai ter isso em atenção. Mas, se ficássemos onde todos os outros não queriam ficar, então, a Caixa não sairia, de certeza, dos seis anos de prejuízos que teve.”

A reestruturação da rede da CGD é mais uma a juntar aos vários planos que os bancos têm levado a cabo nos últimos anos e que estão a mudar a paisagem bancária no país. Entre 2011 – o ano do pedido de ajuda internacional e da chegada da troika – e 2015, os bancos fecharam quase um balcão por dia, de acordo com as estatísticas do Banco de Portugal sobre instituições bancárias a operar em Portugal. O número de agências em 2015 recuou para o nível que existia em 2006, com pouco mais de 5.500 unidades.

Os dados da Associação Portuguesa de Bancos mostram um saldo semelhante: entre o final de 2011 e meados de 2016, as redes bancárias perderam 1400 balcões, o que dá uma média de quase um balcão por dia. Desapareceram marcas como o Banif e o BPN, grupos estrangeiros saíram do mercado, como o Barclays, e os grandes bancos nacionais encolheram de forma expressiva as suas operações.

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É certo que entraram algumas instituições, como o espanhol Bankinter, que comprou a rede do Barclays, e os CTT que lançaram, finalmente, o seu banco postal com cerca de 200 agências, uma operação que ainda não aparece nas estatísticas. E outras, como o Santander Totta, reforçaram a rede, com a compra do negócio do Banif, ou mantiveram a sua dimensão com reforços pontuais, como o grupo Caixa Crédito Agrícola Mútuo. Mas esses movimentos não são suficientes para inverter a quadro geral.

Menos balcões, menos funcionários — segundo dados da Associação Portuguesa de Bancos (APB) saíram mais de dez mil funcionários entre o final de 2011 e meados de 2016 – e a pressão para continuar a despedir e a fechar agências continua. Mas esta realidade não é igual para todos bancos, nem para todo o País.

A Caixa é de facto o único banco que tem uma agência em cada concelho, pelo menos no papel ou no site, já que haverá pelo menos um caso (Porto Moniz, na Madeira), relatado pelo jornal Eco, em que a presença física foi substituída por uma máquina. O Observador questionou a CGD sobre a existência de outros casos comparáveis, mas não obteve resposta.

Os concelhos com três ou menos balcões

Para assegurar um serviço mínimo, de uma agência bancária em cada concelho, haveria apenas um município onde o banco do Estado teria de ficar, porque é o único, de acordo com os dados mais recentes da APB (primeiro semestre de 2016). A agência da Caixa em Vila Velha de Ródão, na fronteira com Espanha, serve um município com 1.700 habitantes. Mas se este é o único concelho que depende totalmente do banco público, existem outro 12 municípios onde existem apenas duas agência. Uma é da Caixa, a outra é quase sempre do Crédito Agrícola, no interior do Continente, e do Santander Totta (que ficou com a rede do Banif) nas ilhas. Com três ou menos balcões, há 47 concelhos, segundo o levantamento feito pelo Observador a partir dos dados da APB.

Estas regiões deverão ser poupadas. Já se sabe onde ficam as primeiras 61 agências que a Caixa quer fechar este ano, na primeira fase do plano de redimensionamento da sua rede.

CGD entrega ao Parlamento lista de 61 agências que vai fechar

O norte e o centro litoral, mas sobretudo a grande Lisboa, são as regiões onde estão previstos mais fechos de agências, o que corresponde ao padrão de encerramentos praticado pelos principais bancos a operar em Portugal nos últimos anos. A consulta aos dados estatísticos da APB permite concluir que se verificaram, quase sempre, mais fechos em distritos com maior densidade de população e também um maior nível de concentração bancária, isto apesar de Santarém, um distrito que combina características urbanas com rurais, ser aquele onde se sentiu a maior redução no número de balcões, mais de 40%.

Já os distritos menos povoados do interior e até das ilhas, foram os mais “poupados”, porque a densidade de balcões era já menor, tendo os bancos optado por manter a sua presença. Nos concelhos com menos agências, o BCP fechou a sucursal de Castanheira de Pera, no final do ano passado, tendo concentrado o negócio e os clientes em Ansião que fica a cerca de 30 quilómetros. Fonte oficial do banco acrescenta que alguns dos colaboradores de Castanheira de Pera acompanharam os clientes a partir de Ansião para assegurar uma transição mais tranquila.

Que bancos fecharam mais balcões

Quanto maior a rede, maior o corte? Não necessariamente. O Observador analisou a evolução das redes bancárias dos seis principais bancos — Caixa Geral de Depósitos, BCP, BPI, Santander Totta, Caixa de Crédito Agrícola Mútuo e Montepio Geral e chegou à conclusão que o Millennium bcp foi o banco que fechou mais agências em termos absolutos.

O BCP era o banco com maior rede em 2011: 872 unidades contra 860 da Caixa. Esta oferta resultou da forma como cresceu o grupo criado por Jorge Jardim Gonçalves nos anos 1980, primeiro com uma rede própria e depois através da compra de bancos concorrentes como o Banco Português do Atlântico e o Banco Pinto & Sotto Mayor. A estratégia conduziu a uma redundância na oferta bancária que demorou anos a ser corrigida, não obstante o BCP ter sido um dos primeiros a avançar com a reestruturação que é também, e sobretudo, uma resposta à crise económica e financeira.

Quando se compara o número de balcões encerrados com a dimensão da rede, a conclusão é diferente. O banco que fechou mais agências em termos proporcionais foi o Montepio Geral. Entre o final de 2011, quando tinha cerca de 500 balcões (dados da APB) e junho de 2016 (332), a rede encolheu um terço (cerca de 33%). Em termos relativos, a operação comercial do BCP reduziu-se em 26%. O Montepio foi o último banco português a fazer uma aquisição, comprou em 2008 o Finibanco, o que até certo ponto explica esta redução. Mas também resulta da necessidade de reestruturar a atividade da caixa económica que ainda não conseguiu deixar de ter prejuízos.

Apesar da resolução do Banco Espírito Santo e do plano de reestruturação imposto por Bruxelas, o Novo Banco só aparece em terceiro nestas estatísticas, com a diminuição em 17% do número de balcões. O facto de as estatísticas da APB terminarem em julho de 2016 pode explicar esta menor taxa de fecho, que ainda não incorpora a evolução da rede na segunda metade do ano passado, nem a reestruturação adicional que seguirá a venda, mas há outros argumentos. Ao contrário dos seus rivais privados, o antigo BES sempre apostou num crescimento orgânico, passando ao lado da aquisições de outras instituições, o que não criou repetições desnecessárias ao nível da sua oferta comercial.

No BPI, o saldo da diminuição de balcões fica-se pelos 15,6%, sendo que também aqui existiu alguma duplicação de agências por via da compra dos bancos do Fomento Exterior, Fonsecas & Burnay e Borges & Irmão. Nos casos do BPI e do BCP, a diminuição das redes é também uma resposta às exigências da Comissão Europeia pelas ajudas públicas concedidas ao abrigo da linha de recapitalização da banca.

O encerramento de balcões na CGD foi quase da mesma dimensão, da ordem dos 15%, e traduz igualmente a necessidade de cumprir um caderno de encargos desenhado pela Comissão Europeia, no quadro da recapitalização feita em 2012 com fundos do Estado. No caso da Caixa, os remédios mais duros foram impostos à operação em Espanha. Em Portugal, e entre o final de 2011 e meados de 2016, o banco do Estado fechou cerca de 130 agências. Agora terá de acelerar e fechar mais 180 a 200, nos próximos quatro anos.

À margem deste movimento generalizado, ficou a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo onde o fecho de balcões foi residual, cerca de 2,5%. Em meados do ano passado, a rede do grupo era a segunda maior do país, a seguir à Caixa, e aquela que apresentava a maior dispersão geográfica, estando apenas ausente da Madeira. Mais do que fechar balcões, o Crédito Agrícola procurou sobretudo reequilibrar a sua rede, com o reforço nas maiores cidades, Lisboa e Porto, e com a entrada, na segunda metade de 2016, na Madeira, com uma agência no Funchal.

De acordo com informação avançada por fonte oficial do Crédito Agrícola ao Observador, o grupo é o único banco presente em 369 localidades e tem os únicos ATM (caixas multibanco) em mais de 616 povoações. No final do ano, a rede contava com 672 agências e pelos números divulgados na apresentação de resultados da Caixa, o grupo Crédito Agrícola ultrapassa já em número de balcões o maior banco do país, que teria à data 650 unidades. O grupo quer manter a rede e até admite contratar mais colaboradores, em contraciclo com a corrente.

Crédito Agrícola quer manter rede de agências e contratar mais trabalhadores

O Santander Totta é também uma exceção no panorama bancário. O banco controlado pelo espanhol Santander, não só não reduziu a rede neste período, como até reforçou ligeiramente. O Santander Totta é um dos bancos mais sólidos e rentáveis do sistema bancário, mas a principal razão para o reforço da oferta foi a compra do negócio bancário do Banif, realizada no final de 2015, no quadro da resolução deste banco.

Em meados do ano passado, o Totta contava com a segunda maior rede bancária em Portugal, a seguir à Caixa, com 687 unidades, mas os números já foram reajustados “para mais de 600”, segundo dados fornecidos ao Observador por fonte oficial do grupo. Trata-se de um “ajustamento às necessidades do banco que resultarão na fusão de alguns balcões como tem vindo a acontecer. O banco integrou anteriormente três bancos e agora está a fazê-lo com a operação comercial de um quarto, havendo sempre ajustamentos a fazer por proximidade de alguns balcões”.

Em 2016, acrescenta a mesma fonte, foram fundidas 80 agências em todo o país, mas a estratégia é não sair das localidades mais pequenas, uma orientação que tem sido seguida pela generalidade dos bancos. “Não abandonamos praças”, tem afirmado o presidente executivo, António Vieira Monteiro.

Porque estão os bancos a fechar tantos balcões

Não é uma originalidade dizer que o setor bancário tem vivido nos últimos anos uma tempestade perfeita, mas não deixa de ser verdade. Depois de anos de lucros substanciais, grandes negócios e bónus generosos, as coisas começaram a correr mal em 2008, com a crise do crédito hipotecário nos Estados Unidos e o contágio a alguns dos maiores bancos internacionais — com epicentro na falência do Lehman Brothers.

A crise financeira trouxe falta de liquidez ao mercado e em países como Portugal fez as primeiras vítimas, o BPN (Banco Português de Negócios) que foi nacionalizado e o BPP (Banco Privado Português) que foi para a insolvência. Em 2009, vem a crise económica e em 2010 a crise do euro com os problemas financeiros do Estado a contaminar os bancos portugueses. Em 2011, chega a ajuda internacional e a troika. E ao mesmo tempo que o país mergulha na recessão e os níveis de crédito malparado disparam, os bancos são forçados pelos credores a reforçar substancialmente o capital, sendo empurrados para ajudas do Estado. Este cenário, já de si negro, foi agravado com as novas e mais exigentes regras de supervisão e de solidez financeira impostas pela união bancária. Em 2014, caiu o BES e, no final do ano seguinte, foi a vez do Banif ser resolvido.

Ainda que constitua um argumento forte e incontornável, a crise não chega para explicar o que aconteceu aos bancos em Portugal. Um modelo de negócios desajustado, uma frágil cultura de controlo de risco e de conflitos de interesse e casos de gestão fraudulenta, contribuíram para as dificuldades do setor, como é explicado no livro publicado pela jornalista Helena Garrido.

“A vida e a morte dos nossos bancos”, segundo Helena Garrido

A evolução negativa das taxas de juro, que no passado constituíram uma base importante da margem e dos lucros da banca, foi outro fator que obrigou as instituições a ajustarem o modelo de negócio para conseguir retorno, reduzindo os custos (menos agências e funcionários), ao mesmo tempo que procuram mais receitas, sobretudo pela via da cobrança de mais e mais altas comissões pelos serviços que prestam.

Para além dos problemas específicos, a banca teve ainda de enfrentar a revolução tecnológica e os desafios que a era digital trouxe ao negócio. Cada vez mais pessoas e mais operações passam pela Internet, o que faz reduzir as necessidades da presença física dos bancos ao pé dos clientes. A redução de agências, e também de funcionários, tem sido aliás a resposta a nível internacional, e será porventura mais acentuada em países onde a densidade da rede é maior. É o caso de Portugal.

De acordo com uma análise da McKinsey, Portugal era um dos países da União Europeia onde existia um maior número de agências bancárias por milhão de habitantes, 497. À frente só estavam cinco países: Espanha, Bélgica, Áustria, Bulgária (dados de 2013) e Itália. E ainda que estes dados sejam de 2014, é muito provável que o movimento de fecho de balcões vá prosseguir em Portugal nos próximos anos.

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