“Ladrões com Estilo”

Juntos, Michael Caine, Morgan Freeman e Alan Arkin têm mais de 150 anos de carreira. São tão bons, têm tanta tarimba e um tal carisma, que era um regalo vê-los mesmo que os filmassem apenas a conversar e beber uns copos, a andar na rua e a comentar o tempo e as modas. Caine, Freeman e Arkin são a grande razão (e praticamente a única) para vermos “Ladrões com Estilo”, de Zach Braff, o “remake” de uma comédia esquecida de 1979, “A Brigada do Reumático”, com George Burns, Art Carney e Lee Strasberg no papel de três reformados que planeiam assaltar um banco. Em “Ladrões com Estilo”, que actualiza a história do filme original para os EUA da crise, dos bancos vorazes e da deslocalização de empresas, os três veteranos actores fazem um trio de operários metalúrgicos aposentados, que se vêem sem as reformas e com contas para pagar.

Eles decidem roubar o banco onde guardam as parcas economias, quando sabem que este faz consultoria para a empresa em que trabalharam e que se vai instalar no Vietname sem honrar os compromissos para com os seus reformados. O prazer de ver Michael Caine, Morgan Freeman e Alan Arkin representar, cada qual pelo seu lado, e juntos pela primeira vez, mas como se fossem velhos amigos e parceiros de filmes há várias décadas, é tal, que fazemos vista grossa às inverosimilhanças e às situações forçadas do argumento de “Ladrões com Estilo”. A idade é um posto, mesmo no cinema.

“Paula Rego, Histórias & Segredos”

Após fazer 80 anos, Paula Rego acedeu a falar sobre a sua vida e os seus quadros ao filho, o cineasta Nick Willing. O que distingue este documentário de qualquer outro sobre a artista (e do filme rotineiro sobre artistas plásticos) é ser feito dentro da família, é o ponto de vista. É ser um filho ao mesmo tempo realizador , interlocutor e primeiro e privilegiado destinatário, que filma a mãe talentosa e célebre a revelar-lhe coisas que de outro modo não viriam a público. É falar tanto da intimidade como da obra, e iluminar a maneira como elas são indissociáveis. Se o filme tivesse um subtítulo alternativo, seria: “Tudo Sobre a Minha Mãe”.

A artista fala da família desafogada em que nasceu, da relação privilegiada que tinha com o pai, de como foi estudar para Inglaterra, na Slade School de Londres, de como conheceu o marido, Victor Willing, também artista, do seu casamento atribulado, das relações extraconjugais que ambos tiveram, dis abortos que fez, das dificuldades que passaram e que levaram à venda da quinta da família, na Ericeira, das fases da suas pintura, da doença e da morte de Victor e de como esta marcou a sua criatividade, da consagração e da depressão que a afecta desde nova, e dos seus quadros, de como têm a ver com a sua vida, das histórias que contam e dos segredos que encerram. “Paula Rego, Histórias & Segredos” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.

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