Para Jaime Gama, a administração Trump necessitava “urgentemente do show-off de uma operação militar robusta”. Esta consideração foi feita durante o programa semanal do Observador “Conversas à Quinta”. No debate desta semana, Gama conversou com Jaime Nogueira Pinto sobre as diferentes tradições que coexistem na política externa dos Estados Unidos a propósito da passagem de 100 anos sobre a decisão de entrarem na I Guerra Mundial.

Foi nesse quadro que, quando debatíamos o regresso da tradição isolacionista – a do “America first” de Donald Trump – que o antigo ministro dos Negócios e ex-presidente da Assembleia da República defendeu a ideia de que “a administração Trump está a chegar a um ponto em que, para marcar bem a ruptura, tem de passar à prova dos factos”. Acrescentou porém que restava “saber como” – “Onde vai ser? Não sabemos. Como vai ser? Não sabemos.”

Mais adiante considerou que essa acção teria “de se inserir no vazio declinante em que a retórica Trump prossegue um argumentário mas sem nada acontecer”. Mais: “A perda de credibilidade se não há um acto de força é grave para a reputação dos Estados Unidos, mas a realização desse acto de força é perigosa para a paz mundial”.

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Esta passagem da nossa conversa pode ser ouvida a partir do minuto 42:05, pouco depois de Jaime Nogueira Pinto ter considerado que, face à tradição mais recente, a nova política externa americana parecia resultar, de alguma forma, de termos à frente do “império americano” um homem que não acreditas nas regras desse império – “pelo menos em algumas dessas regras”.

Ao longo deste “Conversas à Quinta” recordamos o significado da decisão do Presidente Woodrow Wilson de, a 6 de Abril de 1917, declarar guerra à Alemanha e levar os Estados Unidos a entrar na I Guerra Mundial ao lado dos aliados. O internacionalismo idealista, de promoção do modelo democrático e liberal, de Wilson nunca foi consensual nos Estados Unidos, mesmo que nos tenhamos habituado a ele devido ao papel central desempenhado pelos Estados Unidos na manutenção da ordem internacional no pós-II Guerra Mundial e nas actuais organizações multilaterais.

Foi nesse quadro que, a partir do minuto 35, discutimos a nova política da administração Trump e especulámos mesmo sobre um maior envolvimento dos Estados Unidos na Síria precisamente no quadro do ataque químico levado a cabo pelo regime de Assad. Um debate premonitório cujo conteúdo ajuda a perceber o sentido da operação americana da madrugada de sexta-feira 7 de Abril, exactamente 100 anos e um dia depois da viragem que representou, na história da política externa dos Estados Unidos, a entrada na I Guerra.

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