Depois um período em que as notícias apontavam para um reforço da oferta na submarca eléctrica ‘i’, eis que a BMW parece ter decidido colocar algum travão nas expectativas quanto ao investimento em novos veículos eléctricos (EV), redireccionando a sua estratégia para uma solução, à partida, financeiramente menos onerosa: o desenvolvimento de versões eléctricas… de modelos já existentes.

O novo posicionamento foi já assumido pelo CEO da marca da hélice, Harald Krüger, que, numa entrevista à Bloomberg, afirmou acreditar que a preferência dos clientes BMW vai, antes de mais, para os modelos já existentes, assim como para a sua constante evolução e melhoria. E não tanto para novos modelos, mesmo se eléctricos.

Estamos a transformar a BMW de um mero fabricante de automóveis numa companhia tecnológica e num fornecedor de serviços de mobilidade. Sendo que, durante esta transformação, existe apenas um aspecto que é constante: o foco rigoroso não só naquilo que verdadeiramente ajuda os nossos clientes, mas também naquilo que eles desejam”, afirma Krüger.

Assim, embora a aposta passe agora pela oferta de novas variantes de modelos já conhecidos, certo é que o caminho rumo à electrificação não deixará de ser feito, e, garante o CEO, com recurso a uma vasta oferta deste tipo de veículos: “A BMW tem dimensão suficiente para garantir uma resposta adequada às exigências, em termos de investimento, naquelas que serão as tecnologias do futuro, sem deixar cair a rentabilidade. Vamos apostar ao máximo na flexibilidade e nas economias de escala, de forma a elevar a mobilidade eléctrica a um novo patamar sem precedentes.”

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Uma maratona chamada veículo eléctrico

Para Harald Krüger, a corrida pelo automóvel eléctrico é, mais do que um sprint, uma maratona. Sendo que, o mais importante, defende este responsável, é que a companhia continue a fazer aquilo que faz melhor, mantendo-se lucrativa, sem deixar de caminhar em direcção ao futuro.

Quanto à estratégia de rivais como a Mercedes ou o Grupo Volkswagen, que parecem apostar no lançamento de novos modelos de base eléctrica, Krüger comenta que “o único perigo desses novos veículos, como o Mercedes EQ ou o Volkswagen I.D., é que venham a tornar-se um enorme sucesso, demonstrando que a estratégia da BMW estava errada”.

Não apenas como curiosidade, importa recordar que os veículos eléctricos representam, actualmente, menos de 1% do mercado automóvel mundial, ainda que estudos como os da IHS Automotive apontem para um crescimento na venda deste tipo de automóveis, para os 8%, em 2025. Previsões que, de certa forma, também ajudam a explicar a decisão da BMW de não deixar cair a sua submarca ‘i’, ainda que com a previsão de lançamento de novos modelos adiada para 2021.

Formação contínua

Contudo, apesar do “travão” agora anunciado, a BMW continua a preparar-se para uma nova realidade, nomeadamente através da formação de cerca de 14 mil directores, sobre este mesmo tema. Com o próprio Harald Krüger a prometer explicar, ele próprio, “de forma massiva”, aos seus funcionários, as novas estratégias da companhia.

Para tal, a BMW construiu já uma estrutura temporária num velho aeroporto em Maisach, perto de Munique, onde implementou uma academia de condução para veículos eléctricos. Sendo que, nessa mesma estrutura, grupos de directores da marca terão, durante três meses, formação sobre plataformas para veículos eléctricos, bem como acerca dos mais pequenos detalhes relativamente à conectividade nos automóveis e futuros softwares.

Recorde-se que a BMW já levou a cabo um projecto similar em 2008, então, como forma de preparar o lançamento do modelo i3.

Na opinião do analista da Morgan Stanley Harald Hendrikse, “a decisão da BMW de optar por uma aproximação gradual [no domínio do veículo eléctrico] parece ser a mais segura, em termos de custos de investimento”. Até porque, acrescenta “não existe qualquer evidência de que as pessoas prefiram um genuíno e particularmente bonito carro eléctrico, deixando de comprar um Série 3 com uma bateria capaz de garantir uma boa autonomia…”