Costuma-se dizer que quando não vai a bem, vai à mal. Mas este sábado, nem a bem nem a mal: bola sim, muita; remates e oportunidades, pouco ou nada. O FC Porto estava consistente na transição defensiva, ao ponto de ter deixado o Belenenses sem tocar a bola na área durante toda a primeira parte, mas faltava-lhe qualquer coisa na frente de ataque. De bola corrida, não dava mesmo; veio a bola parada e deu, para não variar. E os dragões continuam a ter nos lances de estratégia um verdadeiro plano B para qualquer eventualidade.

Danilo, médio campeão europeu de seleções que assumiu contra o Belenenses a braçadeira de capitão, quis fazer jus ao que tinha no braço esquerdo e assumiu-se como líder nesse ataque à liderança da Primeira Liga à condição: na sequência de um livre lateral batido por Brahimi na esquerda, André Silva ajeitou ao segundo poste e o ex-Marítimo fuzilou autenticamente o desamparado Cristiano na baliza dos azuis do Restelo.

Mas a importância das bolas paradas não ficaria por aí: Brahimi, no segundo tempo, fez o 3-0 de grande penalidade (cometida sobre si, por Domingos Duarte). E já antes, Soares tinha regressado aos golos na sequência de um cruzamento com conta, peso e medido de Corona, que ganhara uma bola a pingar vinda de um canto.

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Ao todo, contas feitas, o FC Porto soma já 15 golos de bola parada na Primeira Liga de 2016/17 (em 62 marcados): seis no seguimento de livres laterais, cinco de grande penalidade, três de canto e um de livre direto (Layún, Nacional). Principais beneficiados nesses lances? Inevitavelmente André Silva, nos penáltis, e o trio Marcano-Felipe-Danilo em livres e cantos. Outro ponto curioso: seis foram conseguidos em 17 jogos da primeira volta, nove nas 11 partidas da segunda volta. Só o Boavista, com 16, é mais forte.

Um recorde a seis jogos (e vitórias) de distância

Seis vitórias em 11 jogos. O início da Primeira Liga deixou muitos adeptos dos dragões a benzerem-se enquanto duvidavam de Nuno Espírito Santo. Seria aquela figura alta que um dia soltou “somos Porto” suficientemente imponente para colocar os azuis e brancos na rota do campeonato após três anos de jejum? Já se viam alguns lenços brancos nas bancadas, mas de súbito houve uma aparição. Ou várias: o reaparecimento de Brahimi, a estabilização da defesa, as valências de André André, os golos de Soares.

A equipa consolidou o modelo de jogo, mesmo que aqui e ali adapte o sistema ao adversário, renovou a confiança pelo constante casamento com as vitórias e hoje mantém bem acesa a fé no triunfo final. Em paralelo, pode fazer história – caso vença os seis jogos em falta, igualará a melhor segunda volta de sempre do clube num campeonato com 34 jornadas, repetindo o feito de 1994/95 com Bobby Robson. E só não é a melhor porque no ano passado o Benfica de Rui Vitória conseguiu um fabuloso registo de 16 vitórias e apenas um desaire na segunda volta, curiosamente na receção aos azuis e brancos.

Nesta altura, e apesar das duas igualdades antes do triunfo frente ao Belenenses (V. Setúbal), o FC Porto soma 29 pontos, fruto de nove vitórias e dois empates. Com 18 pontos em disputa, pode chegar aos 47, marca que o reputado técnico inglês conseguiu somar em 1995. Na altura, os dragões venceram 15 partidas (incluindo Benfica, por 2-1 em casa, e Sporting, por 1-0 fora) e somaram apenas dois nulos, frente a U. Madeira (fora) e Estrela da Amadora (casa).

A título de curiosidade, faziam parte dessa equipa referências do clube como Vítor Baía, João Pinto, Aloísio, Jorge Costa, Rui Jorge, Bandeirinha, Secretário, André – pai de André André –, Paulinho Santos, Rui Barros, Jaime Magalhães, Semedo, Jorge Couto, Folha ou Domingos, a que se juntavam craques como Yuran, Emerson, Kulkov ou Drulovic. Mas imperava sobretudo a mística dos azuis e brancos.

Agora, com a escolha de Nuno Espírito Santo para o comando técnico da equipa, o objetivo passou pela recuperação dessa mesma chama do dragão. Que vai conseguindo. Mas ainda haverá testes bem complicados para conseguir fazer história e igualar o registo de Robson: Sp. Braga (fora), Feirense (casa), Desp. Chaves (fora), Marítimo (fora), P. Ferreira (casa) e Moreirense (fora). A ponta final da Primeira Liga promete ser de loucos.