Luís Marques Mendes criticou duramente a postura do Governo português na última reunião do Eurogrupo — a primeira depois de o presidente daquele organismo, Jeroen Dijsselbloem, ter afirmado que os países do sul “gastavam o dinheiro todo em álcool e em mulheres”. As declarações feitas pelo holandês numa entrevista não caíram bem em Portugal, com vários governantes, incluindo o primeiro-ministro, a classificarem-nas de “inaceitáveis” e a sugerirem a sua demissão, mas depois, na hora H, ninguém disse nada. “A coragem não é para ter aqui, é para ter lá”, disse o comentador político.

“Choca-me esta forma de fazer política do governo português, que é absolutamente lamentável. É uma hipocrisia, uma falta de coragem, um show off, um teatro, uma encenação”, considerou Marques Mendes este domingo no seu espaço habitual de comentário na SIC. Isto porque, explicou, quando o ministro das Finanças holandês e presidente do Eurogrupo, Jeoren Dijsselbloem, fez as referidas declarações sobre os países do sul, vários foram os membros do Governo que disseram que eram “inaceitáveis”, “que Dijsselbloem tinha de sair”. O primeiro-ministro “até alimentou a ideia de que Mário Centeno tinha sido sondado” para substituir o holandês na pasta.

A postura foi de “agarra-me, senão eu mato”, resumiu Mendes. Mas depois, nada. “Chegam lá, à primeira reunião do Eurogrupo depois da polémica, na presença de todos os ministros das Finanças, cara a cara, e pedem a demissão? Não”, continua, sublinhando que o Governo teve “uma entrada de leão e uma saída de sendeiro” que fez com que o presidente do Eurogrupo “saísse reforçado”. Depois da reunião dos ministros das Finanças, Dijsselbloem afirmou mesmo em conferência de imprensa que “ninguém” tinha pedido a sua demissão.

Foi o secretário de Estado das Finanças Ricardo Mourinho Félix que esteve naquela reunião, em nome de Portugal, e não o ministro das Finanças, Mário Centeno, como era suposto. O problema, para Marques Mendes, começou aí. “O ministro devia ter feito tudo para estar presente, claro que não é a mesma coisa ter um ministro ou um secretário de Estado, não tem o mesmo peso político”.

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Entrevista de Passos Coelho foi um erro. “Assim não ganha votos”

Instado a comentar as entrevistas dadas esta semana pelo primeiro-ministro António Costa, à Renascença, e pelo líder do PSD à SIC, Marques Mendes não hesitou em dizer que Passos “não devia ter dado a entrevista neste momento”. Porquê? Porque “o governo está em altas e a oposição em baixa, foi o pior momento para dar uma entrevista”, disse.

Para o ex-líder do PSD e atual comentador, as declarações de Passos só tiveram “uma coisa positiva”, que foi o recuo face ao seu “discurso tradicional da catástrofe”. “Fez um esforço para não ser tão fatalista, mas faltou uma ideia para o país, uma ideia positiva e alternativa, que no fundo é a única forma de mostrar que há uma diferença entre o governo e o líder da oposição”, acrescentou.

Para Marques Mendes, o conteúdo da entrevista de Passos Coelho acabou por resultar num “tiro falhado” porque os títulos que saíram destacaram que Passos não se demitia se perdesse as autárquicas e ainda as críticas às objeções do Governo em relação às nomeações para o Conselho das Finanças Públicas. Quando a imagem do líder da oposição passa por estas duas coisas é um erro, avisa. “Com estas duas mensagens não ganha votos.”

Já sobre a entrevista de António Costa à Rádio Renascença, em que o primeiro-ministro manifestou o desejo de manter a “geringonça”, ou seja, o apoio parlamentar do Bloco e do PCP, mesmo se vier a ter maioria absoluta, Marques Mendes diz que António Costa tentou fazer a quadratura do círculo. Isto porque, mesmo que os socialistas consigam a maioria absoluta, o Bloco e o PCP “não vão querer fazer o papel de idiotas úteis”, ainda que António Costa “adorasse” manter esse apoio. “Seria o melhor dos dois mundos”.

Défice de 2016 será revisto em baixo para 2%

Marques Mendes deu ainda a “notícia” de que o Instituto Nacional de Estatística (INE) se prepara para rever em baixa o défice do Estado em 2016, que terá afinal ficado em 2% do PIB, em vez de 2,1% do Produto Interno Bruto em 2016. O Eurostat, organismo de estatística europeu deverá validar nos próximos dias o valor do défice divulgado pelo INE em março na primeira notificação do procedimento dos défices excessivos.