A ex-ministra da Educação Isabel Alçada e a comissária do Plano Nacional de Leitura, Teresa Calçada, manifestaram-se esta terça-feira contra as metas curriculares criadas pelo ex-governante Nuno Crato, considerando-as um retrocesso, que condiciona o trabalho do professor. “Quem deve escolher o que se lê com as crianças são as pessoas que as conhecem. Não tem de haver uma lista de livros como acontece agora”, disse à agência Lusa a autora, que falará esta terça-feira sobre a importância da literatura infantojuvenil no 12.º Encontro Nacional da Associação de Professores de Português (APP), que encerra esta terça-feira em Lisboa.

Os professores e os pais, defendeu, devem ter o papel primordial na relação que as crianças vão ter com os livros: “Gerar empatia entre o leitor e o texto induz o desejo de repetir aquela experiência”.

Isabel Alçada frisou a diferença entre as metas – que “levam o professor a sentir-se obrigado a seguir conteúdos de meia de dúzia de obras” que podem constar em provas universais – e o Plano Nacional de Leitura (PNL), que criou. “O PNL são extensas listas indicativas de livros, adequados para cada etapa, que os professores são convidados a escolher”, disse, acrescentando: “O cânone aplicado à escola é uma coisa profundamente errada”.

Sublinhando que não basta a aprendizagem, mas sim um exercício continuado da leitura, Alçada afirmou que o envolvimento com os livros passa por levar as crianças a livrarias e outros locais onde possam ter o prazer de escolher um livro para ler. “Se a experiência não é desejada não vai funcionar”.

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Na mesma sessão, estará a comissária do Plano Nacional de Leitura, Teresa Calçada, para quem as metas curriculares nesta área “condicionam tanto” que se vira “o feitiço contra o feiticeiro”.

Os professores, admitiu, tendem a colar-se às diretivas, “desprezando a leitura por gosto”. O importante, sustentou a ex-coordenadora da Rede de Bibliotecas Escolares, é “tornar o contacto com a palavra um hábito e uma presença constante”.

A ideia que gostava de transmitir às escolas é a do valor da leitura na infância, ou “o livro como companheiro desde criança”.

Teresa Calçada sustentou que a comunicação social tem também uma responsabilidade, devendo criar páginas que as crianças possam ler e esperar, com entusiasmo, pela publicação de mais uma história. “Como ninguém nasce ensinado, é preciso ensinar esse hábito, como ensinamos as boas maneiras, a viver ao ar livre, a comer menos doces”, sugeriu.

Perceber os temas e as histórias preferidas das crianças é importante, já que hoje em dia o mercado de edição apresenta muitas e apelativas possibilidades, com variados formatos e ilustrações. “A literatura juvenil tem hoje uma representação fantástica, mas para ser consumida e desfrutada temos de ter um papel a montante”, referiu, Além do mais, frisou, um livro é fácil de transportar e acessível. “As bibliotecas emprestam livros”.

Teresa Calçada sublinhou que as narrativas também podem estar no tablet, de forma controlada, e que os adolescentes devem entrar numa biblioteca e escolher livros que até podem não ser para a sua idade. “Todos nós fizemos isso”, lembrou.

O encontro dos docentes de português, que começou na segunda-feira, encerra esta terça-feira com a presença do secretário de Estado da Educação, João Costa.