O presidente da Associação dos Pilotos de Cabo Verde, Ricardo Abreu, alertou esta terça-feira para o risco de acidentes de aviação devido ao cansaço das tripulações dos aviões da Transportadora Aérea de Cabo Verde (TACV).

Ricardo Abreu falava durante uma audição na comissão especializada de Finanças e Orçamento sobre a situação da empresa pública de aviação civil e fez questão de que o seu alerta ficasse registado na ata da reunião, conforme noticiou a agência cabo-verdiana de notícias Inforpress.

A companhia de aviação cabo-verdiana enfrenta dificuldades financeiras e o Governo afirma estar a trabalhar num plano de reestruturação com vista à futura privatização.

Ricardo Abreu disse aos deputados que a empresa está a pagar salários médios de cerca de 5 mil euros a oito pilotos que estão em casa sem trabalhar e sobrecarrega os que estão em funções, a quem paga horas extra e folgas não gozadas.

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Os pilotos que estão em casa operavam o Boeing 737, que fazia voos para a Europa e foi arrestado no ano passado na Holanda por dívidas da companhia.

Para passarem a operar o Boeing 757, que além dos Estados Unidos passou a assegurar também as viagens para a Europa, os pilotos teriam de fazer formação.

“Já tivemos uma situação em Cabo Verde. O caso Santo Antão, onde o cansaço da tripulação foi referenciado como causa do acidente. Era uma tripulação que já tinha vários dias a voar sem descanso”, disse.

Alertou, por isso, que se não for mudada a forma de fazer aviação civil em Cabo Verde, o país poderá voltar a ter acidentes com perdas de vida.

Ricardo Abreu disse que já foram pagos mais de 500 mil euros em salários “sem produzir” e cerca de 100 mil euros em folgas, quando os custos da formação necessária para os pilotos estão estimados em cerca de 55 mil euros.

“Teríamos poupado 45 mil euros dos subsídios, das folgas e das horas extras pagas até este momento. Teríamos poupado cansaço de quem está com a sobrecarga e teríamos ganhado na produção, porque se cada um tivesse produzido uma hora eram 14 horas por mês, que é melhor que zero”, notou.

Ricardo Abreu considerou ainda que, além dos custos, esta situação acarreta perigo de acidentes, lembrando que 75% dos acidentes aéreos são provocados por problemas relacionados com o cansaço das tripulações.

Por isso, pediu ao Governo “uma outra postura” relativamente à TACV, responsabilizando o Estado pela situação da empresa.

“Pedimos que mudem a forma de falar da TACV e, acima de tudo, que apresentem a solução para o problema da empresa”, disse, mostrando-se desiludido com o debate parlamentar realizado no dia 28 de março sobre a política dos transportes em Cabo Verde.

“Esperávamos que o Governo apresentasse medidas concretas para a empresa. Até agora não tivemos nada de novo, nenhuma meta para ser atingida. O Governo fala na privatização e o Conselho de Administração vai no sentido da expansão da empresa”, disse.

A Associação de Pilotos é uma das 12 entidades a serem ouvidas pela comissão, incluindo antigos e atuais gestores, a antiga e o atual ministro das Finanças, o atual ministro da Economia, representantes dos trabalhadores e de empresas relacionadas como a aviação, como a ASA, que gere os aeroportos cabo-verdianos, ou a Autoridade de Aviação Civil.

Previstas para esta semana, as audições com a ex-ministra das Finanças, Cristina Duarte, e com os atuais ministros da Economia e Finanças, respetivamente José Gonçalves e Olavo Correia, bem como com o atual Presidente do Conselho de Administração, Luís Sá Nogueira, foram adiadas.