É a aproximação da maior plataforma de comércio eletrónico de moda de luxo ao mundo físico. A primeira loja online com teto e paredes já tem morada – Londres e Nova Iorque – e coloca a tecnologia no centro da experiência de consumo. O conceito é pioneiro na indústria e a Farfetch, liderada por José Neves, ganhou um novo modelo de negócio, anunciou a empresa esta quarta-feira, em comunicado.

A “Loja do Futuro” foi apresentada, esta quarta-feira, na FarfetchOS, conferência organizada pela startup que é o único unicórnio (empresa avaliada em mais de mil milhões de dólares) português. Mas não é a única novidade. A partir desta quarta-feira, os consumidores da Farfetch também vão poder receber as compras da marca Gucci em 90 minutos, com o novo serviço da marca, o “Store to Door in 90 minutes”.

A “Loja do Futuro” quer misturar tecnologia com a experiência em loja e, por isso, foca-se nas novas formas de comunicação e distribuição e nos comportamentos de consumo dos millennials. O objetivo passa por desenhar uma experiência de compra personalizada, com base na recolha de dados sobre os clientes e uma melhor relação entre os vendedores e o público. Além de oferecer uma solução tecnológica adaptada a cada marca.

O primeiro passo para a concretização da “Loja do Futuro” foi dado quando a Farfetch adquiriu a icónica boutique londrina “Browns”, em maio de 2015. A operação fazia parte da estratégia da empresa, liderada pelo português José Neves, para o desenvolvimento de uma plataforma tecnológica global, com vista à inovação da experiência de retalho no futuro. Ainda durante este ano, a tecnologia utilizada na “Loja do Futuro” vai ser implementada na loja da Browns, em Londres, e também na Thom Browne, em Nova Iorque.

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Farfetch compra ícone do retalho londrino, a Browns

O nosso plano é restabelecer a Browns como a boutique mais cool do mundo. Um dos fatores mais importantes para que isso aconteça é ficar em sintonia com as necessidades e com o estilo de vida dos nossos clientes, que está em constante mudança, e continuar a inovar nos nossos produtos. As inovações digitais por detrás da “Loja do Futuro” vão ajudar-nos a dar grandes passos nesse sentido. A implementação dessas inovações dentro das nossas lojas permitirá que os nossos clientes desfrutem de uma experiência personalizada, com a rapidez e o conforto do e-tail”, referiu Holli Rogers, líder da Browns.

A versão beta (para testes) da “Loja do Futuro” visa “demonstrar como a tecnologia pode ser perfeitamente entrelaçada na experiência do cliente, oferecendo uma vantagem competitiva para retalhistas e marcas”, explicou a empresa em comunicado.

Só 7% das compras de moda de luxo são feitas online

Enquanto o comércio eletrónico de marcas de luxo está a crescer rapidamente, só 7% das compras desse tipo de produtos são feitas online, valor que deverá atingir os 20% em 2025. Mas, apesar do crescimento, estes dados indicam que a maioria das vendas ainda vão ser feitas em lojas físicas.

A Farfetch esteve também a trabalhar com a Platforme, plataforma tecnológica e operacional portuguesa que permite que grandes marcas de luxo possam customizar os seus produtos digitalmente, e com Nicholas Kirkwood, para a personalização dos loafers e mules modelo Beya da marca, oferecendo aos clientes a oportunidade de escolherem entre milhares de combinações de couros, peles exóticas e cores.

Este é mais um passo na consolidação da estratégia de crescimento omnicanal da Farfetch, que tem sede em Londres, mas tecnologia e liderança nacionais, no Grande Porto. Robin Klein, um dos mais reconhecidos investidores em capital de risco da Europa, que fez parte do conselho de administração da Farfetch, disse, em entrevista ao Observador, que o e-commerce de moda de luxo foi um dos projetos em que mais investiu.

Não sei se em Portugal é um herói, mas para mim é”, afirmou Robin Klein, referindo-se a José Neves. “Todos os ecossistemas de startups, todos os clusters que começam a emergir, todos os grupos precisam de heróis e precisam de ouvir as histórias desses heróis. Ele [José Neves] é português, tem um sucesso grande com a Farfetch. Ainda não fez um exit [quando a empresa sai da esfera dos investidores privados porque é comprada por outra empresa ou é admitida em bolsa], mas não há dúvida de que é um líder global da indústria da moda de luxo”, considerou.

Robin Klein. “Algumas startups estão a ficar demasiado agressivas”

O “Store to Door in 90 Minutes” (Da loja para a porta em 90 minutos) vai permitir comprar peças selecionadas da Gucci, através do website e da aplicação móvel da Farfetch, e receber esses pedidos em 90 minutos, a partir das lojas da marca em Londres, Nova Iorque, Dubai, Los Angeles, Madrid, Miami, Milão, Paris, São Paulo e Tóquio.

Em março, foi anunciado que Natalie Massenet, fundadora da Net-a-Porter, a primeira loja online de moda de luxo, integrou o conselho de administração da Farfetch como co-presidente não executiva, ao lado de José Neves.

Fundada em 2008, a Farfetch agrega mais de 750 designers e boutiques de moda de luxo, em 40 países. A plataforma de comércio eletrónico vende para 190 países e tem escritórios em Londres, Porto, Guimarães, Lisboa, Nova Iorque, Los Angeles, São Paulo, Tóquio, Hong Kong, Shanghai e Moscovo, com uma equipa de quase 1.500 colaboradores. No último ano, segundo dados divulgados pela empresa, a Farfetch cresceu 70% e fechou o ano com vendas brutas de 800 milhões de dólares, registando cerca de 10 milhões de visitas ao site por mês, com os clientes a gastarem, em média, 700 dólares por pedido.