“Fala” tanto por palavras como por gestos e condena os efeitos da crise económica e defende o ambiente. O Papa Francisco surpreende pelas atitudes simples, mas também é muitas vezes contestado pelas propostas para abrir a Igreja Católica. Após a sua eleição, a 13 de março de 2014, Jorge Maria Bergoglio brincou, dizendo que os cardeais foram buscar um papa ao “fim do mundo”. Afinal, Francisco – o nome que escolheu a pensar nos pobres, numa referência a São Francisco de Assis – é o primeiro papa oriundo da América Latina e também o primeiro jesuíta.

O Papa Francisco era cardeal-arcebispo de Buenos Aires quando foi eleito o 266.º papa da história, após cinco votações, no segundo dia do conclave. Já na escolha de Bento XVI, em abril de 2005, o cardeal argentino esteve à beira da eleição, disputando as três primeiras votações com Joseph Ratzinger, ao receber os votos de uma minoria que queria impedir os dois terços necessários à eleição do alemão. No entanto, o Papa Francisco terá dado sinais de que não se sentia preparado para o cargo e, à quarta e definitiva votação, Ratzinger recebeu 84 votos, contra 26 para o argentino.

Um ano depois da eleição de Francisco, o papa emérito Bento XVI manifestava a sua alegria por ter renunciado, afirmando que “Deus preparou um fenómeno” para lhe suceder. Após mais de quatro anos de pontificado, o papa continua a ver a sua popularidade a aumentar.

Logo em 2013, foi eleito ‘Personalidade do Ano’ pela revista norte-americana Time, que destacou a sua “humildade” e “compaixão”, e, um mês passado, a revista de cultura popular Rolling Stone italiana colocou na capa um papa sorridente e com o polegar levantado, destacando que Francisco “conquistou todos os jovens com as suas palavras de atenção aos mais pobres, com uma atitude decididamente popular”.

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O Papa já admitiu os seus receios perante esta popularidade, reconhecendo-se “fraco, no sentido de não ter poder e também porque o poder é uma coisa passageira”, mas recordando que Jesus definiu que “o verdadeiro poder é servir, realizar os serviços mais humildes”, um caminho no qual considera que ainda pode progredir.

Jorge Mario Bergoglio, oriundo de uma família de emigrantes italianos, nasceu a 17 de dezembro de 1936, na capital argentina, sendo o mais velho de cinco filhos. Foi ordenado a 13 de dezembro de 1969 e dedicou grande parte da sua vida ao ensino, tendo passado por colégios, seminários e faculdades. Na sua preparação sacerdotal, viajou para Espanha, onde regressaria como diretor espiritual da Companhia de Jesus. Concluiu o doutoramento na Alemanha. Em 1992, foi nomeado bispo pelo papa João Paulo II e cinco anos mais tarde, foi apontado como arcebispo coauditor de Buenos Aires. No ano seguinte, subiu a arcebispo da capital argentina.

Quando foi eleito Papa, ressurgiram acusações ao seu papel durante a ditadura militar na Argentina, chefiada por Jorge Videla entre 1976 e 1983, nomeadamente no desaparecimento de dois missionários jesuítas, detidos em março de 1976 e torturados num centro de detenção conhecido pela sua crueldade. Um desses padres, aliás, viria a celebrar uma missa com Bergoglio, num sinal de “paz e harmonia”.

O Papa Francisco sempre rejeitou responsabilidades neste caso, alegando ter feito o que estava ao seu alcance. Foi ouvido pela justiça argentina na qualidade de testemunha, sem qualquer acusação, sobre crimes ocorridos neste período.

O Vaticano repudiou as acusações “caluniosas e difamatórias” segundo as quais o papa Francisco foi conivente com a repressiva junta militar que governou a Argentina, atribuindo-as à “esquerda anticlerical”, e salientou que “há provas de que fez muito para proteger as pessoas durante a ditadura”.

Uma das características do Papa Francisco que mais tem surpreendido os fiéis é a sua simplicidade. Quando foi eleito, rejeitou viver no Palácio Apostólico – onde trabalha e realiza audiências -, e preferiu continuar a viver na Casa de Santa Marta, uma casa de hóspedes, onde realiza uma missa pública todas as manhãs e come no refeitório. “Isto faz-me bem e evita que fique isolado”, justificou. Também rejeitou a ostentação típica dos líderes da Igreja Católica, preferindo um trono simples e sem ornamentos, vestes brancas, o seu crucifixo em aço e não em ouro, e os seus sapatos normais e não os distintivos sapatos vermelhos (múleos) dos papas.

É conhecido o seu bom humor, com que também tem respondido às críticas que se vão fazendo ouvir. Ao contrário de antecessores, Francisco tem promovido o debate no seio da Igreja Católica, ao invés de silenciar os opositores, que o acusam de ser autoritário e centralizador.

O cardeal norte-americano Raymond Leo Burke é considerado o líder da contestação às propostas de maior abertura da Igreja, sendo um dos quatro signatários de uma carta que pedia a Francisco que esclarecesse a sua posição sobre a possibilidade de comunhão para católicos em segunda união, mencionada na exortação ‘Amoris Laetitia’ (A Alegria no Amor).

Sobre os cartazes críticos à sua figura, espalhados recentemente em Roma, o Papa Francisco respondeu que são “simplesmente geniais” e que foram escritos por alguém muito inteligente, acrescentando que é essencial manter o bom humor. Nos seus discursos, lança críticas duras aos efeitos da crise, àqueles que só procuram o lucro, aos autores das guerras, à falta de capacidade da Europa de acolher os migrantes e os refugiados, mas vai além das palavras.

A sua primeira viagem, depois de eleito, foi à ilha italiana de Lampedusa, onde chegavam então milhares de migrantes, vestindo-se de roxo como sinal de penitência. Em abril do ano passado, visitou a ilha grega de Lesbos e levou consigo para o Vaticano três famílias muçulmanas, no total de 12 pessoas, das quais metade eram crianças.

Também na primeira Páscoa que celebrou enquanto líder da Igreja Católica, inovou ao escolher uma prisão, e não a basílica de São Pedro, em Roma, e, ao cumprir o ritual do lava-pés, escolheu homens e mulheres (pela primeira vez, e incluindo muçulmanas).

É um reconhecido adepto de futebol e o seu clube de eleição é o San Lorenzo de Almagro, clube fundado em Buenos Aires pelo padre Lorenzo Massa em 1908.

Papa Francisco é ainda um grande leitor dos escritores argentinos Jorge Luis Borges e Leopoldo Marechal e do russo Fiodor Dostoievsky, e também amante de ópera.

O Papa visita Fátima nos próximos dias 12 e 13 de maio para assinalar o centenário das “aparições” de 1917.