Gato por lebre. Ou melhor: o haxixe é, afinal, louro prensado — e a cannabis não é mais do que chá de malvas. É assim há muito em Lisboa, sobretudo na Baixa e tendo os turistas como vítimas preferenciais destes “traficantes”, também eles estrangeiros na sua maioria.

Ao todo, a PSP identificou cerca de meia centena de pessoas e apreendeu, só este ano, 200 “doses” individuais de louro prensado. Crime, crime, não é. Se tanto, pode dar origem a uma contra-ordenação ligeira. No ano de 2o16, por exemplo, registaram-se quase 800 contra-ordenações por venda ambulante ilegal na Baixa — a outra contra-ordenação comum aqui é a de publicidade enganosa.

“O quadro legal não permite fazer muito mais do que isso [contra-ordenação]. Cerca de 80% daquilo que é vendido de forma ambulante na Baixa é louro prensado”, explicou o comandante da 1.ª Divisão da PSP de Lisboa, Paulo Flor. Uma explicação que foi dada no começo de abril, por altura da apresentação (precisamente na Baixa) da campanha de sensibilização “Basta de louro prensado!”. Uma iniciativa da PSP com o apoio da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior.

É uma iniciativa para tentar acabar com este fenómeno preocupante que se passa na Baixa. Temos [Junta de Freguesia] recebido muitas reclamações de pessoas que se queixam da insegurança e do mau ambiente. Até porque muitos daqueles indivíduos têm comportamentos agressivos”, explicou então Miguel Coelho, presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior.

Agora, e poucas semanas depois, não só estão um pouco por toda a freguesia cartazes que alertam (com algum humor, diga-se) para este “tráfico” de tempero a um preço mais caro do que na mercearia, mas também a iniciativa já começa a fazer eco na imprensa estrangeira.

Em Espanha, por exemplo, o El País começa ironicamente por questionar a razão pela qual, “num tempo de veganismo como aquele em que vivemos”, se fez no “bairro mais turístico” de Lisboa uma manifestação contra a comercialização de louro. “Porquê o louro e não os caracóis ou o alho-porro?”, lê-se. Mais adiante explica o El País que “na Baixa, jovens, maioritariamente homens e de cor, oferecem com insistência pacotinhos de erva [cannabis] e de haxixe” a um preço que o jornal avalia como “muito bom”. O problema é depois: “Achas que é haxixe mas, na verdade, trata-se de louro prensado. Para temperar as lentilhas é bom, para fumar é que não.”

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