Uma sala de cinema vazia, que dois arrumadores têm de limpar todos os dias, é onde decorre a peça “Cinema”, da Prémio Pulitzer Annie Baker, que os Artistas Unidos estreiam no dia 19, no Pequeno Auditório da Culturgest, em Lisboa.

Nesta peça, que deu dois dos principais prémios de teatro à dramaturga norte-americana, em 2014 — os prémios Pulitzer e Obie –, os arrumadores vão discorrendo, ainda “que de forma subtil”, sobre uma série de problemas contemporâneos como “machismo, racismo, sistema financeiro, diferença de classes e perspetivas que as pessoas têm dos sítios de onde vêm”, como explicou o encenador Pedro Carraca.

A obra, porém, fala igualmente da “incomunicação normal do dia a dia e da falta de capacidade das pessoas de se porem no lugar dos outros”, sublinhou.

“E eu creio que as peças não devem servir para ensinar, mas para nos pôr a pensar sobre coisas e, nesse aspeto, acho que esta tem uma boa capacidade de nos fazer pensar, sem nos dizer o que é certo ou errado, de nos fazer pensar sobre isso”, frisou. Em “Cinema”, “as pausas, os silêncios, as coisas não ditas são, na verdade, o grande texto da peça”, sublinhou o encenador.

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A dramaturga norte-americana arma, nesta peça escrita há três anos, “todo um esquema de texto para nos fazer entender aquilo que não é dito, e é o que não é dito [de que são feitas] as relações humanas”.

[um trailer da peça:]

Pedro Carraca construiu, assim, uma encenação, na qual os silêncios têm de ser muito bem geridos, de forma a que o espetador entenda a justeza do tempo do silêncio, e a forma como os atores se comportam nesse silêncio. “Porque é nesse tempo que estão as questões relacionadas com as relações humanas”, frisou.

Outro dos pontos fortes desta peça, segundo Pedro Carraca, “é a forma como nos obriga a pensar em como nos pormos no lugar do outro”. “Porque às vezes — na maior parte das vezes –, estamos demasiado fechados na nossa realidade, para entendermos o outro e nos pormos no lugar dele”, sublinhou.

Interpretada por Rita Cabaço, António Simão, Bruno Huca e Pedro Gabriel Marques, “Cinema” tem cenografia e figurinos de Rita Lopes Alves. No Pequeno Auditório da Culturgest, “Cinema” vai estar em cena até 23 de abril, seguindo depois para o Teatro da Politécnica, onde estará em cartaz de 03 de maio a 03 de junho.

No Teatro da Politécnica, “Cinema” poderá ser vista às terças e quartas-feiras, às 19h, às quintas e sextas-feiras, às 21h, e aos sábados, às 16h e às 21h.

Pequeno Auditório da Culturgest, Lisboa. De 19 a 23 de abril, às 21h30 (domingos às 17h); bilhetes a 13 euros. Depois da Culturgest, o espetáculo é apresentado no Teatro da Politécnica de 3 de maio a 3 de junho.