As escolas do município de Luanda precisam de pelo menos 20 mil carteiras face às necessidades já identificadas, com as autoridades a lamentarem a situação de carência em que milhares de alunos estudam, mas que atribuem à crise económica.

A informação foi esta quinta-feira avançada à agência Lusa pela diretora da Educação do município de Luanda, Joana Torres, que aponta a crise que afeta Angola desde finais de 2014 como o grande entrave na materialização das ações, num dos mais populosos municípios do país, com mais de um milhão de habitantes.

“Neste preciso momento, o município de Luanda precisa de 20 mil carteiras. E porque este ano, no nosso quadro resumo, não vem dinheiro para comprar carteiras, a situação estará condicionada. Não há liquidez financeira atendendo à situação que se vive agora no país, mas estamos a fazer tudo para que este quadro mude”, apontou.

A Lusa noticiou na terça-feira que alunos da escola primária 1.127, no distrito urbano do Sambizanga, no centro de Luanda, assistem às aulas apoiando o caderno no joelho ou na parede, precisamente devido a falta de carteiras.

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A escola leciona em dois turnos, deste a iniciação ao sexto ano, e tem oito salas de aulas com a maior parte das carteiras danificadas, cenário que se repete por vários estabelecimentos escolares de Luanda, como relatam os professores. Joana Torres afirmou estar a par da situação e admitiu tratar-se de um cenário que se regista em “grande parte das escolas de Luanda”.

Numa turma com mais de 45 alunos, na escola 1127, grande parte dos mesmos partilham as poucas cadeiras que ainda resistem ao tempo, mas o recurso ao joelho ou à parede para anotar os apontamentos dos professores é um exercício diário e sobretudo doloroso, conforme relatam os alunos.

“Escrevo apoiando no joelho porque não há carteiras e nem sequer consigo escrever em condições. Dói muito o joelho e as costas e é assim todos os dias. Os outros colegas quando estão cansados apoiam também na parede”, explica Euclides Mateus da terceira classe.

Situação semelhante é narrada por Larissa do Rosário, que confessa chegar a casa todos os dias “com dores nas costas e no joelho”. De acordo com Joana Torres, a situação porque passam os alunos da 1127 “é lamentável”, porém augura por dias melhores.

“É normal que tenham essas dores em função das más posturas que eles vão tomando durante as aulas, mas temos contactado os pais e encarregados de educação, só que a situação não está fácil. Eles também nos têm ajudado muito nessa situação, mas melhores dias virão”, rematou.

O ano letivo de 2017 em Angola arrancou oficialmente a 1 de fevereiro, com quase 10 milhões de alunos nos vários níveis de ensino, decorrendo as aulas até 15 de dezembro. Reclamando melhores condições de trabalho, além de aumentos de salário, os professores em Luanda, e um pouco por todo país, paralisaram as aulas entre 5 e 7 de abril, greve interpolada que deve ser retomada no final deste mês e depois em junho.