Uma sombra esbranquiçada a fazer a curvatura da Terra, como se fosse um nevoeiro iluminado. Só isto. Eis a aurora boreal, as famosas “luzes do Norte”. As expectativas podiam ter estragado a experiência. E a falta de sorte também. Isto porque imaginamos grandes ondas de luz colorida, o que nem sempre acontece. O primeiro impacto foi seco: nem cor, nem movimento.

Este fenómeno, particularmente visível no hemisfério norte no pico do inverno, resulta da interação das partículas do vento solar com a atmosfera, conduzidas pelo campo magnético da Terra. São bem visíveis do solo, mas esta estação do ano é dada a céu encoberto, pelo que estar acima das nuvens é uma garantia (quase absoluta) de as conseguir ver – que o digam os astronautas.

Feita a finta às condições meteorológicas (a 10 mil metros só se veem estrelas), há que esperar pela sorte: o vento solar não chega à Terra com uma intensidade constante, pelo que é normal não conseguir ver nem as “ondas” ou “arcos”.

Depois, a cor. Aquele verde ou vermelho que vemos nas imagens das auroras boreais não é (ou dificilmente é) visível a olho nu. A cor e respetiva intensidade só é captada pelas máquinas fotográficas, quando expandem o momento da captura em muitos segundos. Além disso, muitas das imagens que vemos publicadas são manipuladas, o que é motivo de discussão. É fácil ficar desiludido com aquilo que realmente se vê.

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Uma viagem nada low cost

O voo 800 da easyJet foi uma experiência muito especial, que começou no momento em que olhámos para o bilhete: o ponto de partida e o destino era o mesmo. Depois, houve espumante e doces e acepipes para um número de convidados restrito, praticamente limitado aos lugares disponíveis à janela. Nada ali foi low cost.

Descolámos às 21h23 e demorámos hora e meia de caminho entre Gatwick e o destino, que mais não era que um círculo gigantesco entre as ilhas Shetland e as ilhas Faroé, umas quantas voltas para que todos conseguissem ver as “luzes do Norte” e o magnífico manto de estrelas, observáveis já com pouco ruído — o único terá sido a refração das janelas do avião e os flashes e luzes dos ecrãs de quem achava que era possível fotografar fosse o que fosse com o smartphone.

Para essa observação ser ótima, todas as luzes foram apagadas, era exigida a escuridão total. A easyJet cuidou dos detalhes, nomeadamente tapar os símbolos luminosos de proibição de fumar com fita adesiva preta. Depois, as luzes de sinalização exterior, aqueles “piscas” na asa, também foram desligados; foi precisa uma autorização especial do controlo de aviação para conseguir andar lá em cima absolutamente às escuras.

Quase a chegar ao destino, pediram-nos que fechássemos os olhos uns minutos para nos habituarmos à escuridão. Pouco tempo depois eis finalmente, lá ao fundo, na zona onde desenhamos o círculo polar ártico, uma espécie de sombra esbranquiçada a fazer a curvatura da Terra, como se fosse um nevoeiro iluminado. Só isto. Eis a aurora, the northern lights. Foi um momento difícil de descrever, uma espécie de desilusão, fruto da tal expectativa que nos faz desvalorizar as coisas como elas são.

Quem seguia do lado oposto tinha outra vista. A 10 quilómetros de altitude as estrelas parecem tantas que se baralham as constelações. Céu quase absoluto (não havia luar), apenas com a imperfeição das janelas do avião. A Via Láctea, discreta; Júpiter, em todo o seu esplendor; a constelação de Orion, as sete Plêiades, Touro.

Mas as luzes que todos queríamos ver era outras. Mais uma volta para a esquerda, neste passeio de uma hora entre as ilhas Faroé e as Shetland, os círculos foram fundamentais para que quem ia de cada lado do avião tivesse a mesma oportunidade.

À medida que algumas pessoas foram percebendo que os telemóveis não servem para registar este tipo de assuntos celestes, os olhos foram-se habituando de novo ao escuro e, quase no fim da viagem, a minutos de iniciar o regresso a Gatwick, quando pensávamos que era só aquela espécie de nevoeiro branco, eis que acenderam as luzes.

Não são verdes aos nossos olhos, são brancas e cinzentas mas sim, “as auroras existem mesmo”, com ondas a fazer lembrar vestidos compridos. Foram só alguns minutos de dança lenta, uma graça que o vento do Sol nos ofereceu, a breves instantes da despedida. Foi um privilégio que não se compra, não só porque esta rota de aviação não existe mas também porque, ainda que existisse, há visões que não têm preço.

9 fotos

O novo sistema de check in do Terminal Norte do aeroporto de Gatwick

Esta viagem foi uma sobremesa para um grupo seletivo de executivos da easyJet e para alguns dos seus principais clientes empresariais. Os jornalistas foram apanhados na curva, mas o propósito inicial foi conhecer a nova área de check in no terminal Norte do aeroporto de Gatwick, em Londres.

Esta é a maior área de entrega automática de bagagem do mundo e vai permitir diminuir drasticamente as filas de check in; o tempo de espera será reduzido para metade, prevendo-se que mais de 90% dos passageiros irão esperar menos de cinco minutos para entregar a bagagem.

José Lopes, diretor da easyJet para Portugal, explicou-nos a base do novo sistema instalado no aeroporto de Gatwick.

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Ganha-se espaço, tempo, e dinheiro. José Lopes explicou ao Observador que este sistema ocupa menos espaço que os balcões tradicionais e que, pelo facto de haver menos uma pessoa por balcão permite, também, reduzir os custos. “Para cada cinco ou dez máquinas são precisos apenas alguns assistentes para ajudar algum passageiro que esteja a ter dificuldade na interação com o sistema automático”, afirmou.

O diretor da easyJet Portugal sublinhou que a grande mais valia é a otimização do tempo. “No verão chegávamos a ter duas ou três horas de espera [em Gatwick] em horas de ponta. Este verão que passou, já com o novo sistema implementado, não tivemos nenhuma rotura de sistema, todo o tráfego esteve sempre a funcionar sem esperas substanciais”.

Na prática, o sistema de entrega automática de bagagem, instalada pela easyJet em Gatwick, funciona de uma forma bastante simples, como se pode ver no vídeo acima. Os passageiros dirigem-se à máquina com o cupão de check in (em papel ou eletrónico), dão ordem de impressão da tira verde e colocam-na na alça da bagagem. Depois, ela é levada pelo sistema de tapetes rolantes. O processo demora menos de um minuto.

Lá atrás, nos carrosséis de bagagem, tudo funciona como habitualmente. A tecnologia de controlo automático de segurança já existe há bastante tempo. Resumidamente, divide-se em três fases: uma máquina faz a primeira verificação, se houver algum tipo de suspeita a bagagem é desviada para uma segunda máquina que faz uma análise mais detalhada e se, ainda assim, persistirem suspeitas, a mala é desviada para controlo humano.

Ou seja, a nova plataforma de check in, desenvolvida no centro de investigação e desenvolvimento da easyJet em Luton, só otimiza a parte do contacto entre o cliente e a operadora de handling, tudo o resto mantém-se igual.

José Lopes explicou-nos que “o sistema é pioneiro, está a ser implementado em fase de testes no aeroporto de Gatwick [no terminal Norte] com grande êxito”. O objetivo é exportar a tecnologia para outros aeroportos, nomeadamente para Portugal, “não só para a easyJet, mas para qualquer companhia aérea que o queira utilizar.” O responsável da companhia inglesa contou-nos que responsáveis da ANA e da VINCI já foram a Gatwick analisar esta tecnologia.

Isto faz parte da visão da empresa daquilo que será o aeroporto de futuro. “Tentamos que a vivência do passageiro no aeroporto seja o mais simples e rápida possível, para que o passageiro não sinta o stresse natural que todos estes passos provocam antes da viagem.” José Lopes finaliza: esta tecnologia é mais uma “tentativa de automatismo para que o passageiro tenha uma viagem o mais simplificada possível. Como o nosso próprio nome diz: ‘easy’.”