Jogos Europeus Universitários. Ring a bell? Se calhar à primeira vista, nem por isso. No entanto, fique a saber que a próxima organização da prova será em Coimbra no próximo ano, naquele que será o maior evento multi-desportivo em Portugal, com mais de 4.000 pessoas em representação de 400 universidades europeias em mais de dez modalidades. Se ainda torcer o nariz, conheça o principal objetivo da competição estabelecido pelo presidente da Associação Europeia do Desporto Universitário (EUSA), Adam Roczek: “Vamos deixar um grande legado em Coimbra, no Estádio Universitário, na cidade e no próprio país. E isso será o mais importante”.

Adam Roczek assumiu a liderança do órgão em 2012 e é uma espécie de pai desta ideia dos Jogos Europeus Universitários, que se disputa em anos pares numa só cidade e não “consome” os Campeonatos Europeus Universitários, em anos ímpares, espalhados pelo continente consoante a modalidade (em 2017 será entre Hungria, Polónia, Portugal, Eslovénia, Croácia, Turquia, Espanha, Sérvia, Rep. Checa e Itália). “Essa primeira edição, mesmo com cinco desportos apenas, foi importante para dar início à experiência. Tínhamos na organização muita gente que tinha estado em Mundiais Universitários, por exemplo, e Córdoba foi uma escolha acertada por ser uma boa cidade, com boas pessoas. Nem tudo correu bem, mas foi o lançamento de um projeto que continua a crescer e que provou ter o seu espaço”.

“Vamos deixar um grande legado em Coimbra, no Estádio Universitário, na cidade e no próprio país. E isso será o mais importante.

“Desde que assumi a presidência da EUSA que o nosso maior compromisso é encontrar mais e melhores fórmulas de desenvolver atividades e projetos relacionados com os atletas estudantes universitários, encontrando também formas de financiamento para tal. Ao mesmo tempo, queremos chegar a cada vez mais países e fizemos ações na Arménia e na Geórgia, por exemplo”, destaca.

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Depois do início, em Espanha, os Jogos Europeus passaram por Holanda (Roterdão, 2014) e Croácia (Zagreb-Rijeka, 2016) e chegarão no próximo ano a Portugal numa fase onde já arrancaram os trabalhos de requalificação do Estádio Universitário de Coimbra (algo que se pensava há duas décadas) e a própria Universidade fundou um Gabinete do Desporto, liderado pelo chefe da Missão portuguesa nos Jogos Olímpicos de Londres e antigo líder da Federação Portuguesa de Canoagem, Mário Santos. Com isso, e além do natural incremento da prática desportiva, avançou-se para a criação do estatuto de estudante-atleta, permitindo mais e melhores condições para juntar as duas vertentes.

A reabilitação do Estádio Universitário terá um grande impacto em termos académicos e desportivos. Em paralelo, a FADU é uma das associações europeias com mais dinamismo e um evento desta dimensão, que trará grande visibilidade, pode servir para abrir mais portas para o desenvolvimento dos projetos pensados a nível de desporto universitário.

“Em termos de organização, estou 100% seguro e confiante de que será um sucesso por todo o trabalho desenvolvido pela Federação Académica do Desporto Universitário (FADU), pela Universidade de Coimbra e restantes órgãos envolvidos. Estes Jogos terão como palco uma cidade mais pequena do que Zagreb, por exemplo, mas um local com grande importância histórica no meio estudantil”, explica Adam Roczek, antes de avançar para os principais objetivos da organização: “O mais importante será o legado que os Jogos vão deixar para o futuro, em Coimbra e até para todo o país. A reabilitação do Estádio Universitário terá um grande impacto em termos académicos e desportivos. Em paralelo, a FADU é uma das associações europeias com mais dinamismo e um evento desta dimensão, que trará grande visibilidade, pode servir para abrir mais portas para o desenvolvimento dos projetos pensados a nível de desporto universitário”.

Uma visita entre Lisboa, Coimbra e Fátima

A Associação Europeia do Desporto Universitário é uma organização não governamental que serve de pivô na ligação entre federações do desporto universitário, estudantes, atletas e voluntários de mais de 40 países do Velho Continente. Em paralelo, tem como objetivo unificar posições na ligação com a Federação Internacional do Desporto Universitário, que organiza, por exemplo, as Universíadas.

Adam Roczek, antigo diretor desportivo da Universidade de Wroclaw, cumpre o quinto ano à frente da EUSA. Quando era mais novo, jogou futebol em clubes locais, algo que manteve na faculdade, quando tirou sociologia e, mais tarde, gestão do desporto. E é das suas modalidades preferidas. “Ui, Europeu de 2016… Não fiquei chateado por Portugal ter ganho, o desporto é assim. Mereceram ser campeões”, admite o polaco que viu a sua seleção ser eliminada nos quartos-de-final da competição nas grandes penalidades. “Não deixei de gostar do vosso país; pelo contrário, é dos meus preferidos”, ressalva.

Roczek esteve durante cinco dias em Portugal com uma agenda cheia. Acompanhado pelo secretário-geral da EUSA, Matjaz Pecovnick, e pelo presidente e secretário-geral da FADU, Daniel Monteiro e Manuel Veloso, encontrou-se com a Comissão de Comunicação, Cultura, Juventude e Desporto, liderada por Edite Estrela; reuniu-se com o Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e com o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo; e esteve também no Comité Olímpico de Portugal, com José Manuel Constantino e algumas federações desportivas.

Tiago Brandão Rodrigues e João Paulo Rebelo receberam presidente e secretário-geral da EUSA e da FADU

“Quisemos mostrar a importância dos Jogos Europeus para Coimbra e para o sistema desportivo de Portugal. Fiquei impressionado e confiante pelo país, por perceber o nível de comprometimento na promoção do desporto e da atividade física também no plano universitário”, resumiu após os encontros que antecederam a participação na conferência e gala da Associação Europeia do Desporto Universitário, que decorreu no último fim-de-semana. Antes da viagem de regresso, ainda teve tempo para parar em Fátima.

Não acredito que possa haver muitos mais estudantes a virem para cá depois dos Jogos, no programa Erasmus, mas tenho a certeza que, pela história, pela hospitalidade, pelo clima e pela maneira de ser das pessoas, quem vem a Portugal quer sempre voltar e recomenda às pessoas próximas

“Já tinha estado várias vezes em Portugal, em cidades como Lisboa, Coimbra ou nas ilhas, Açores e Madeira. Adoro o país, adoro ainda mais as pessoas e a sua hospitalidade. Há muito tempo que queria visitar Fátima, até pela ligação que os nossos povos têm ao catolicismo, e fiquei impressionado. Sei que o Papa Francisco estará cá no próximo mês e tenho a certeza que será mais um grande momento porque estão bem preparados”, diz, prosseguindo: “Portugal sempre foi um país muito atrativo em termos turísticos, é mundialmente reconhecido por isso, mas tem muito mais para oferecer e não é por acaso que estão cá tantos polacos a viver e estudar. Não acredito que possa haver muitos mais estudantes a virem para cá depois dos Jogos, no programa Erasmus, mas tenho a certeza que, pela história, pela hospitalidade, pelo clima e pela maneira de ser das pessoas, quem vem a Portugal quer sempre voltar e recomenda às pessoas próximas”.

Coimbra acolheu gala da EUSA, no Convento de São Francisco, que reuniu centenas de convidados

À terceira tentativa, foi mesmo de vez

Para Portugal, a organização dos Jogos Europeus Universitários é uma espécie de concretização de um sonho adiado. À terceira, foi de vez: depois das derrotas de Lisboa para Córdoba em 2012 e de Coimbra para Zagreb-Rijeka em 2016, o país conseguiu merecer a confiança dos responsáveis para uma competição onde conseguiu sete vitórias na última edição: a Universidade do Minho ganhou o torneio de futebol de 11; a equipa feminina da Universidade de Coimbra venceu a prova de ténis; e Gabriela Martins, Joana Lourenço, Jean Michel Fernandes, Júlio Ferreira e a Associação Académica da Universidade do Minho conquistaram medalha de ouro no taekwondo.

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Em 2018, os Jogos Europeus Universitários contarão com 13 modalidades: andebol, badminton, basquetebol, futebol, futsal, ténis, ténis de mesa e voleibol (obrigatórias); basquetebol 3×3, judo, râguebi de Sevens e remo (opcionais); e canoagem (exibição). À exceção dos desportos aquáticos, concentrados em Montemor-o-Velho, tudo estará em Coimbra. O orçamento estimado é superior a dois milhões de euros.