José Pedro Crof fez esta segunda-feira a apresentação oficial do projeto “Medida Incerta”, que tem pré-inauguração marcada para 09 de maio, e abertura ao público a 10 de maio, na Ilha de Giudecca, na 57.ª Exposição Internacional de Arte — Bienal de Veneza.

“É um enorme desafio e responsabilidade. Veneza é um palco internacional com uma enorme visibilidade, em que eu tenho a consciência de que, além do meu trabalho, vou representar o meu país”, comentou o artista na conferência de imprensa que aconteceu no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, sublinhando que se trata de “uma embaixada”.

O projeto de Croft, com curadoria de João Pinharanda, foi desenvolvido ao longo de um ano e meio. Segundo o artista, as peças partem esta segunda-feira da Póvoa de Varzim, e chegam no final desta semana a Veneza, onde serão montadas a partir de 26 de abril.

“Num primeiro momento, o projeto foi pensado para o Campo di Marte, onde Álvaro Siza tem um projeto de habitação social, construído parcialmente, e o restante vai ser terminado agora”, recordou o escultor sobre os constrangimentos administrativos que surgiram entretanto.

Por isso, a Direção-Geral das Artes, responsável pela organização da representação portuguesa, teve de procurar outro espaço. A solução encontrada foi a Villa Hériot, nas imediações do edifício de Siza, onde as estruturas em aço, vidro e espelho vão ficar instaladas a refletir a realidade em seu redor, nos jardins, e haverá ainda uma exposição no edifício.

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“Medida Incerta” é descrita como uma “desconstrução do plano e da ortogonalidade, é um jogo entre a objetividade do espaço e a sua ilusão, é um desafio à sua estabilidade e equilíbrio”. “Tirei as medidas a partir da métrica do edifício [de Álvaro Siza], e pensei nas peças que ía conceber em vidro e em espelho, com medidas de três por seis metros ligadas a estacas, que é a forma da construção em Veneza”, explicou o artista.

“Depois, o projeto passou para a Villa Hériot, mas transporta a memória do que foi a ideia inicial, ligada diretamente ao arquiteto Álvaro Siza”, explicou. As seis esculturas “vão regressar a Portugal, e acabam no Porto”. “Estou a estudar com outro autor, o arquiteto Guilherme Machado Vaz, sobre a possibilidade de colocação num edifício recuperado do século XIX”.

De acordo com José Pedro Croft, todo o processo de trabalho e preparação deste projeto foi documentado e será também objeto da exposição apresentada no interior da Villa Hériot, com maquetas, projeção de vídeos e fotografias. O artista indicou que ficou aberta a possibilidade de a realizadora Teresa Villaverde criar um documentário sobre o projeto em Veneza, mas não sabe quando será possível.

No final de Março, quando a escultura foi montada na Póvoa de Varzim, foi conhecida a aquisição da obra pela Câmara Municipal de Matosinhos, e a sua localização futura, após o regresso de Veneza, na paisagem da Casa da Arquitetura, na antiga Real Vinícola.

Na conferência de imprensa, o ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, considerou que a escolha da Ilha de Giudecca “foi acertada”, porque “é talvez um dos bairros mais vividos de Veneza, com uma densidade de ocupação social bastante interessante para uma cidade que é um grande mostruário de arte, e também viva, feita pelos seus habitantes”.

“Portugal não tem um pavilhão, pois não. Portugal tem por agora uma ilha. Optámos por articular a nossa representação da bienal em torno de Giudecca”, salientou.

O ministro disse ainda que “Medida Incerta” foi, desde o início, projetada para conviver com a exposição de Álvaro Siza em 2016, que constituiu a representação de Portugal na Bienal de Arquitetura de Veneza.

“Estes projetos possibilitam novas leituras individuais e em dialética, e constroem caminhos e reflexões sobre as atuais dinâmicas e vivências urbanas”, considerou o ministro, apontando que José Pedro Croft “é um artista ímpar no panorama cultural português, cujo percurso e trabalho artísticos são inesgotáveis desafios ao nosso olhar sobre o real”.

A obra de José Pedro Croft está representada em diversas coleções públicas e privadas, nomeadamente no Banco Central Europeu, em Frankfurt (Alemanha), no Museu Rainha Sofia, em Madrid (Espanha), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Brasil) e na Coleção Albertina, em Viena (Áustria).

Em Portugal, está presente nas coleções da Caixa Geral de Depósitos, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Museu Berardo, em Lisboa, na coleção António Cachola, no Museu de Arte Contemporânea de Elvas, e na Fundação de Serralves, no Porto, entre outras.

O historiador de arte, crítico e curador João Pinharanda, curador da representação portuguesa na Bienal de Arte de Veneza, foi programador cultural da Fundação EDP, diretor artístico do Museu de Arte Contemporânea de Elvas, e é atualmente conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Paris.