Registar o momento ou ajudar quem precisa, eis a questão com que todos os jornalistas se confrontam pelo menos uma vez na vida profissional. No passado sábado, 16, no cenário de horror deixado depois de um engenho explosivo ser detonado num subúrbio de Alepo, junto a uma coluna de autocarros que transportavam centenas de civis sírios — pelo menos 126 pessoas morreram, 68 delas eram crianças — Abd Alkader Habak, fotógrafo e ativista, não teve grandes dúvidas. Deixou a câmara caída no chão e usou as mãos para socorrer um rapaz de 6 ou 7 anos que encontrou no meio do caos, sozinho, ferido, a sangrar.

“Eu estava a alguns metros de distância quando, de repente, houve uma explosão enorme. A minha câmara caiu e eu fui projetado, com a deslocação do ar. Encontrei-a junto a uma criança que estava caída no chão, a sangrar. Corri para junto dela. Vi que era um rapaz, e que ele estava a mexer a mão. Olhei-lhe para a cara e percebi que respirava, por isso peguei nele ao colo e comecei a correr em direção às ambulâncias. Não sei o que lhe aconteceu, mas deixei-o dentro de uma ambulância e ele foi levado para um dos hospitais dentro da zona controlada pelos rebeldes”, contou Abd Alkader Habak, sírio de Ariha, cidade a apenas 14 km de Idlib, à britânica Channel 4 News.

Apesar de, numa outra entrevista, à CNN, ter contado que a decisão de ajudar os feridos tinha sido tomada em conjunto com os outros fotógrafos presentes, Abd Alkader Habak terá sido dos poucos que, depois das explosões, não capturou uma única imagem. O rapaz que deixou ao cuidado das equipas médicas de socorro não foi o primeiro que tentou salvar — a primeira criança em cuja direção correu já estava morta — nem seria o último.

“Foi horrível, sobretudo ver crianças a gemer e a morrer em frente a mim. Decidimos, eu e os meus colegas, que íamos pôr as câmaras de lado e começar a socorrer os feridos”, explicou à CNN.

Muhammad Alrageb, o autor da fotografia que já começou a correr mundo e mostra Abd Alkader Habak a fugir da zona da explosão, com o rapaz ao colo, diz que primeiro também auxiliou as vítimas, depois tratou de registar o que estava a acontecer — até porque essa também é uma obrigação inerente à profissão. “Quis filmar tudo para ter certeza de que as responsabilidades seriam assumidas. É um orgulho saber que estava lá um jovem jornalista a ajudar a salvar vidas.”

Depois de colocar o rapaz em segurança, Abd Alkader Habak correu para junto de outra criança. O momento em que percebeu que também aquele pequeno corpo jazia já sem vida foi igualmente captado pela lente de um fotógrafo. De joelhos, Habak chora pela criança morta que tem ao lado, deitada de bruços no chão — e por todas as outras, explicou à CNN. “Foi uma emoção avassaladora. Aquilo que eu e os meus colegas testemunhámos foi indescritível”.

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