Existem aspectos no desenvolvimento de qualquer veículo que, mesmo com a muita tecnologia já existente, continuam a depender da perícia humana. Não raras as vezes, patente em profissões que, embora desconhecidas da grande maioria do público, fazem muito daquilo que o automóvel é hoje em dia. Ou não acredita que ter um sommelier competente é meio caminho andado para poder oferecer aquele maravilhoso “cheiro a novo” que todos gostamos de sentir nos primeiros tempos após a compra do automóvel?

Num sector industrial em que não faltam profissionais especializados, a verdade é que não é só com o contributo de desenhadores, engenheiros ou mecânicos que os automóveis são pensados, desenvolvidos e produzidos. Pelo contrário, na sua elaboração não faltam técnicos especializados com profissões particularmente curiosas. Sem os quais, sublinhe-se, o produto automóvel dificilmente poderia constituir-se como o objecto de desejo que continua a ser nos dias de hoje.

Entre essas profissões mais curiosas, conta-se, por exemplo, o condutor de testes, ou aquele a quem cabe a responsabilidade de realizar vários milhões de quilómetros por ano, com qualquer modelo saído da linha de produção. Cabendo-lhe também estudar o rendimento de cada veículo à saída da linha de montagem; confirmar que não têm ruídos parasitas, em trajectos predefinidos, com vários tipos de pavimento e a várias velocidades; ou ainda aferir do bom funcionamento de componentes como a buzina, as luzes ou os travões.

Mas se o condutor de testes até poderá ser uma profissão conhecida de uma percentagem razoável de leitores, já a do escultor de automóveis, responsável pela concepção de maquetes de futuros modelos em argila, talvez não seja tão familiar. Ainda que, no seu minucioso trabalho, o trabalhador em questão seja obrigado a lidar com cerca de 2.500 kg de barro, munido apenas de uma espátula, podendo chegar a levar cerca de 10 mil horas para terminar uma reprodução fiel, e em tamanho real, do futuro modelo. Pois, só assim, será possível admirar as formas do automóvel, antes da sua passagem à produção nos materiais finais.

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Igualmente pouco conhecida, a profissão de costureiro automóvel revela-se de extrema importância. Em particular, na concepção dos modelos mais exclusivos e com preços de muitos milhões de euros. Cabe ao costureiro, mesmo nas propostas mais generalistas, a responsabilidade pela escolha da melhor combinação de cores e materiais aplicados no interior do modelo. Missão em que, não raramente, chega a aplicar mais de 30 metros de costura no revestimento do interior de um automóvel, chegando, por vezes, a ter de trabalhar com dois anos de antecipação, antes da conclusão do veículo.

Mas se é do costureiro a responsabilidade de, por exemplo, coser o couro dos bancos para que este material resista ao uso intenso, cabe depois ao provador de bancos – sim, existe mesmo – testá-los, nas suas várias hipóteses, de forma a garantir que nada de inesperado ou desagradável acontecerá com o passar do tempo. Frequentemente, experimentando uma única solução por mais de 20 mil vezes, de forma a poder dar indicações sobre a melhor espuma a utilizar, o melhor tecido, a melhor estrutura e até o tipo de ponto que melhor se adapta aos diferentes tipos de corpo e condições exteriores. Não se esquecendo, sequer, de testar os encostos de cabeça, de modo a prevenir possíveis futuras lesões cervicais.

Ainda mais desconhecida que todas as profissões atrás descritas é, sem dúvida, a de sommelier de automóveis. Mas antes que comece a pensar que se trata de alguém responsável pelo consumo de bebidas a bordo, dizemos-lhe já que este é um sommelier diferente, uma vez que tem como principal ferramenta de trabalho não o palato, mas o nariz! Mais um nez, portanto…

Na verdade, este profissional apresenta como principal missão apurar o chamado “cheiro a automóvel novo” que os carros tradicionalmente possuem, quando saem do concessionário. E que é, nada mais, que o resultado do trabalho de uma equipa de químicos que, ao longo do ano, realizam mais de 400 testes olfactivos, enquanto expõem o automóvel a temperaturas até 60 graus centígrados. Mas que, para poderem desempenhar bem as suas funções, precisam de cumprir igualmente algumas obrigações bem curiosas. Como, por exemplo, não fumar ou usar qualquer tipo de perfume, sempre que vão trabalhar. Tudo, para que os resultados das provas não acabem alterados por odores externos.

E então, surpreendido?