O Fundo Monetário Internacional (FMI) reconhece que houve um “substancial progresso” no setor bancário europeu, com o reforço dos rácios de capital e a recapitalização recentemente realizada em bancos na Itália e Portugal, casos da Caixa Geral de Depósitos e do BCP.

Os bancos dependem menos de financiamento de curto prazo e estão a ser dados passos para resolver o fardo do crédito malparado, sublinha o relatório de estabilidade financeira do FMI, divulgado esta quarta-feira, onde é também referido o continuado esforço de adaptação do modelo de negócio, alguma consolidação e a recuperação no valor bolsista dos bancos, em cerca de 40%.

Apesar destas melhorias, o FMI alerta para problemas de rentabilidade, mas também para o ainda elevado nível de crédito malparado que tem de ser reduzido. Portugal e Itália são referidos como exemplos de países onde a redução do nível de crédito em incumprimento foi relativamente pequeno, face ao pico. Dados do Banco de Portugal mostram que, no ano passado, os bancos registaram imparidades da ordem dos seis mil milhões de euros em operações de crédito, valor para o qual contribuíram o reconhecimento de perdas na Caixa, BCP e, ainda, Novo Banco.

Os sistemas bancários português e italiano são ao mesmo tempo os que apresentam os rácios mais elevados de crédito mal parado. A tabela com referência ao terceiro trimestre de 2016, aponta para um nível de malparado de 12,6% em Portugal e de 12,2% na Itália, apenas superados pela Irlanda com 14,6%. Este país e a Espanha são apontados como tendo feito bons progressos nesta área. De acordo com o relatório de estabilidade financeira, pode demorar em média seis anos para os países da zona euro resolverem o fardo dos ativos com imparidades, ao ritmo atual de reconhecimento destas perdas e de concessão de novos empréstimos de risco.

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Não é só o malparado que está a pressionar o setor bancário. As avaliações de mercado continuam a refletir preocupações com a capacidade dos bancos europeus de gerarem lucros sustentados e os apoios que têm sido dados são, provavelmente, “insuficientes” para resolver o desafio da rentabilidade. Cerca de 80 bancos deverão ter um retorno do capital investido inferior a 8% até 2019 e esta fragilidade ao nível dos lucros é uma preocupação sistémica de estabilidade.

Fracos resultados impedem os bancos de criar almofadas financeiras para responderem a choques adversos e não atraem investidores, necessários para o esforço de recapitalização. Esta situação pode, ainda, empurrar as instituições para operações de maior risco, à procura de maiores ganhos.

Mas será o modelo de negócio inadequado a única razão para este problema? O FMI dividiu os 172 maiores bancos europeus em três grupos: globais, focados na Europa e domésticos, para tentar dar respostas. E concluiu que estes últimos, grupo em que se situam os bancos portugueses, enfrentam uma margem mais reduzida para melhorar a rentabilidade, através da mudança de exposições a mercados.

Mais uma vez, Portugal e Itália surgem como exemplos de países onde os bancos sofreram prejuízos em 2016, ao contrário de Espanha e Reino Unido, o que sugere que o sistema económico envolvente de cada país também pode travar a rentabilidade.