O PSD em Lisboa está em convulsão total depois da a demissão anunciada esta quinta-feira de Mauro Xavier, o presidente da concelhia. Várias fontes do PSD de Lisboa dizem ao Observador que esta decisão já era esperada e estava planeada. Quem deverá suceder a Mauro Xavier como presidente interino é Rodrigo Gonçalves — que controla a fação do Núcleo Central –, e que é o primeiro vice-presidente da concelhia social-democrata na capital (cujo percurso controverso o Observador conta aqui), mas que não tem maioria na comissão política da secção.

A rede da família Gonçalves: como se tornaram poderosos no PSD/Lisboa

Na reunião da comissão política concelhia que se realiza na noite desta quinta-feira, devem ser aprovados os nomes de 19 candidatos a presidentes das juntas de freguesia de Lisboa, uma vez que os restantes cinco devem ser automaticamente recandidatos por serem presidentes de junta em exercício (inclui-se nesse grupo o próprio pai de Rodrigo Gonçalves, que preside à junta das Avenidas Novas). Todos esses nomes, em princípio, ainda terão de passar pela Distrital do partido.

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Não foi apenas Mauro Xavier a demitir-se. O Observador sabe que os membros da mesa da assembleia de militantes também se demitiram. Fernando Seara, o presidente da mesa e vereador na câmara de Lisboa, ao que o Observador apurou, já tinha pedido há quatro ou cinco meses para se afastar daquelas funções, de tal maneira que já não presidia a nenhum plenário há muito tempo. Essas funções eram desempenhadas por João Mota Lopes, que também está demissionário. Isto significa que as funções deste órgão partidário, uma vez oficializadas as demissões, passam a ser exercidas a nível distrital.

Mauro Xavier, quadro da Microsoft em Portugal, divulgou esta quinta-feira uma carta de demissão onde sublinha as “diferenças de opinião relativamente à condução” do processo de escolha da candidatura à câmara municipal de Lisboa e assume a sua “divergência em relação à atual liderança”. No dia em que se soube que Teresa Leal Coelho era a escolhida para avançar pelo PSD contra Fernando Medina, o ainda presidente da concelhia publicou um post no Facebook a manifestar “profundo desagrado com a metodologia escolhida e pelo não envolvimento da concelhia no processo”. Mauro Xavier já tinha afirmado numa entrevista ao Expresso que não voltava a votar em Passos Coelho. A gota de água — que o levou à demissão — teve a ver com o facto de Teresa Leal Coelho não se ter reunido consigo desde que foi anunciada como candidata há cerca de um mês.

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Um membro da concelhia próximo de Mauro Xavier diz agora que tratem com Rodrigo Gonçalves — referindo-se à direção nacional e à candidata. Este dirigente do PSD Lisboa que tem acumulado casos e polémicas ao longo e anos, fica como presidente interino da estrutura, embora várias fontes sociais democratas digam ao Observador que a sua fação não tem a maioria na Comissão Política Concelhia. Durante o processo autárquico, Rodrigo Gonçalves afastou-se da liderança de Passo Coelho, o que ganhou expressão pública quando desafiou o líder do partido a candidatar-se à câmara de Lisboa — dado o impasse que havia na escolha dos candidatos. Rodrigo Gonçalves também escreveu um artigo no i esta semana a defender a existência de eleições primárias no PSD (à semelhança das que existem no PS).

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Várias fontes do PSD que nesta fase não querem aparecer a falar em público sobre o assunto dizem ao Observador que esta guerra interna no PSD em Lisboa vai prejudicar a candidatura de Teresa Leal Coelho, e significa já que as forças do aparelho se estão a posicionar para o pós autárquicas: é quando se decidirá o poder concelhio, que por sua vez terá reflexos em eventuais lutas que venham a verificar-se pela liderança nacional do PSD.

Na sua primeira entrevista como candidata, Teresa Leal Coelho justificou ao Observador que as suas faltas às reuniões de câmara como vereadora não tinham influência no seu trabalho pela cidade: “A assiduidade não é bitola da qualidade de um vereador”. E cometeu o seu primeiro erro, ao dizer que prometia baixar o IMI para zero por cento. Só que nem as câmaras podem baixar o IMI para além dos 0,3% e é essa taxa mínima aplicada em Lisboa.