Cheira a café assim que se entra no edifício apalaçado que, até há pouco tempo, servia de teto ao Entre Tanto Indoor Market. Inúmeros grãos amontoam-se junto a uma parede e, juntos, formam ondas num mar de café. A entrada do Palacete Castilho, vizinho da Embaixada, foi intervencionada por Joana Astolfi — arquiteta responsável, entre muitas outras coisas, pela cenografia das montras da Hermès –, que quis ainda celebrar o verde “calmo e intemporal” de plantas costuradas e trazer a cor amarela de pássaros vistosos a uma morada de coração e artérias brasileiras.

A casa Pau-Brasil é um de dois projetos autónomos que agora ocupam o Palacete Castilho, no coração do Príncipe Real — se o piso inferior é ocupado pela Vintage Department, loja de mobiliário de autor, no primeiro piso estão 500 metros quadrados dedicados a divulgar a arte, moda e cultura do país que Pedro Álvares Cabral avistou pela primeira vez a 22 de abril de 1500. Nem de propósito, é já este sábado que o espaço abre ao público.

Há cinco anos que Rui Araújo, descendente de brasileiros, fazia um trabalho de representação do que melhor havia pelas terras do samba. A onda de turismo que assolou Portugal — e que, em boa verdade, continua a assolar — foi o motivo perfeito para arrancar com a segunda fase do projeto: trazer marcas com pegada brasileira e vocação internacional para Portugal e, de Portugal, para o mundo.

A entrada foi intervencionada por Joana Astolfi. © Charlotte Valade

“Há etiquetas que precisam de curadoria para serem vendidas”, diz Rui ao Observador, numa conversa que acontece num jardim tropical improvisado, escondido entre as muitas salas e salinhas do espaço. “Era preciso um palco para apresentar um país diferente”, afirma, olhando em volta. A casa Pau-Brasil — nome inspirado num manifesto brasileiro do século XX, que ambicionou projetar o Brasil enquanto país de exportação comercial e cultural — funciona como uma plataforma para a expansão internacional das 17 marcas ali representadas e que, apesar do sucesso já alcançado, permanecem pouco conhecidas em solo nacional.

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As marcas Granado e Phebo, ambas fundadas por portugueses, são alguns dos negócios que se podem encontrar na Pau-Brasil. © André Marques/Observador

É o caso da loja Granado que, a julgar pelo letreiro junto à porta, em tempos forneceu a família imperial no Brasil. Os produtos de beleza da Granado e da Phebo — que hoje pertencem à mesma empresa, adquirida há duas décadas por um inglês — foram ambas fundadas por portugueses que procuraram outra vida no outro lado do Atlântico. Os artigos, vários sabonetes incluídos, apresentam embalagens intemporais e convidam quem lhes toca e quem os cheira a uma viagem no tempo.

Bem mais recentes são os chocolates da Chocolate Q, uma ode à verdadeira essência do cacau. O slogan — se é que o há — poderia ser qualquer coisa como “abra uma barra de chocolate como abre uma garrafa de vinho”. Quer isto dizer que, tal como o vinho vai evoluindo depois de aberta a garrafa, o sabor do chocolate levado à boca é inconstante e uma surpresa. Samanta Aquim, a chocolateira de serviço, explica que a ideia é que o chocolate — que até já caiu nas graças da rainha Isabel II — seja diferente do habitual e cheire a cacau fresco. “Cheiro é sabor”, diz-nos. “Muita gente não sabe, mas 85% do que julgamos ser sabor é cheiro.”

Os primeiros chocolates criados em 2010 surgiram na sequência de uma visita a uma fazenda de cacau, pelo que a marca trabalha barras a partir de chocolate com 50% de cacau. Apesar de já venderem alguns produtos na loja gourmet do El Corte Inglés, em Lisboa, esta é a primeira loja física fora de fronteiras brasileiras.

Entre as 17 marcas que ocupam o espaço estão peças de mobiliário de designers brasileiros. © Charlotte Valade

No dia em que visitámos o espaço, alguns preparativos ainda estavam a decorrer e as peças de Hugo França ainda não tinham chegado ao destino — talvez de tão “monumentais” que são. O adjetivo é do próprio designer que, de catálogo na mão, explica ao Observador que a matéria-prima, sempre à base de resíduos florestais, provém de uma árvore de enormes proporções, típica da região da Bahia, sendo que todas as peças são posteriormente esculpidas com recurso a moto-serras.

Da cosmética à moda, passando por editoras de livros e musicais, o espaço de pé direito alto, com tetos trabalhados e, agora, candeeiros feitos a partir da casca do coco, ganha uma nova vida já a partir do próximo sábado. As marcas ali expostas representam nichos de um Brasil diferente do habitual, garante-nos a organização, e trazem uma oferta mais diversificada ao Príncipe Real. O mais provável, após a visita à casa Pau-Brasil, é sair de lá com sotaque brasileiro.

Nome: Pau-Brasil
Morada: Rua da Escola Politécnica, 42 (Príncipe Real), Lisboa
Horário: Segunda a sexta das 12h às 20h; sábado das 10h às 20h; domingos das 12h às 18h.