O Papa Francisco vai canonizar os pastorinhos de Fátima, Francisco e Jacinta Marto, no dia 13 de maio, no Santuário de Fátima, durante a sua visita de menos de 24 horas a Portugal. A decisão foi comunicada na manhã desta quinta-feira pelo próprio Papa aos cardeais, reunidos em Consistório no Vaticano, confirmou o Observador. Entretanto, no Santuário, já se faz a festa com o toque dos sinos.

A reunião desta manhã teve um caráter essencialmente ritual: o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, fez o pedido formal de canonização ao Papa e aos cardeais, em latim, e Francisco anuiu, confirmando as datas previstas para as celebrações.

Esta era a última decisão que faltava desde que o milagre que permite a canonização foi aprovado pelo Papa, em março. Na altura, os responsáveis do Santuário de Fátima manifestaram a esperança de que a canonização ocorresse ainda durante o ano de 2017, em que se assinala o centenário das aparições.

Ao Observador, a irmã Ângela Coelho, postuladora da causa de canonização dos pastorinhos, afirmava que a aprovação do milagre foi “um passo muito importante”, mostrando-se alegre “com esta possibilidade que se avizinha”. Segundo a religiosa, o Vaticano reconheceu uma cura inexplicável de uma criança brasileira como milagre, atribuindo o feito à intercessão de Francisco e Jacinta Marto.

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Papa Francisco aprova milagre para a canonização dos pastorinhos

Já o padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, afirmou na altura, em conferência de imprensa, que a partir da aprovação do milagre tudo dependeria da vontade do Papa. “Aguardamos agora com serenidade a decisão do Papa Francisco relativamente ao anúncio da data e do lugar para essa canonização”, afirmou.

O bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, mostrou-se mais otimista com a possibilidade de a canonização ocorrer ainda em maio ou, na pior das hipóteses, até 13 de outubro. “O centenário não estaria completo sem a canonização”, referiu.

A realização da canonização durante a peregrinação ao Santuário de Fátima vai obrigar à introdução de alguns ritos próprios na celebração a que Francisco vai presidir no recinto do Santuário, na manhã de dia 13 de maio.

Logo no início da missa, o cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, irá tomar a palavra para proferir, em latim, o pedido formal ao Papa para que os nomes das duas crianças sejam inscritas no livro dos santos da Igreja Católica, para que sejam venerados pelos fiéis.

Durante a celebração, o cardeal Amato deverá ainda apresentar brevemente a vida dos pastorinhos, antes de o Papa Francisco ler a fórmula da canonização. Nesse momento, Francisco e Jacinta Marto passam a ser santos da Igreja, e é esperado que uma grande imagem sua seja exibida no recinto do Santuário.

De seguida, são apresentadas no altar as relíquias dos novos santos. Neste caso, serão apresentados dois relicários, um com uma madeixa de cabelo de Jacinta Marto e um outro com um fragmento de osso de Francisco Marto.

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O milagre que levou à canonização de Francisco e Jacinta Marto já estava a ser estudado há cerca de quatro anos pela postuladora da causa, a irmã Ângela Coelho. Em entrevista ao Observador publicada por ocasião do anúncio do milagre, a religiosa detalhou todo o processo de estudo deste milagre, mas garantiu que a vinda do Papa Francisco não serviu de motivação para acelerar o trabalho.

“O que é verdade é que, desde o ano passado, o processo do Francisco e da Jacinta começou de facto a acelerar. Ao acelerar, aí nós percebemos: e que tal se fosse no centenário das Aparições?”, comentou a religiosa.

Pastorinhos de Fátima. “Estava de olho neste milagre há quatro anos”

A partir de 13 de maio deste ano, Francisco e Jacinta Marto, os dois irmãos que afirmaram ter visto Nossa Senhora em cima de uma azinheira em Fátima, em 1917, tornar-se-ão os santos mais jovens da história da Igreja Católica. Até aqui, a santa mais jovem era Santa Maria Goretti, uma criança italiana que morreu mártir em 1902.

A questão da infância era, aliás, um dos principais obstáculos à canonização de Francisco e de Jacinta Marto, uma vez que até 1981 a Congregação para a Causa dos Santos proibia a canonização de crianças que não tivessem morrido mártires. Tudo mudou com uma decisão de João Paulo II, que em 1981 reuniu uma comissão multidisciplinar, com teólogos, pedopsiquiatras e especialistas em direito canónico para discutir a questão da canonização de crianças.

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