Cerca de 100 clientes que investiram junto do Deutsche Bank (DB) em produtos relacionados com dívida da Portugal Telecom (PT) vão formar uma associação e avançar com processo em tribunal na Alemanha e no Reino Unido contra o banco.

A Lusa já tinha noticiado em março que mais de 200 clientes que investiram 100 milhões de euros em produtos estruturados complexos relacionados com dívida da PT (CLN – credit linked notes, com o nome Notes Portugal Telecom 2020) e com os quais tiveram 90% de perdas, tendo recebido apenas 10% do capital investido, se queixavam de o banco lhes estar a dificultar o acesso a documentos para protelar a ida destes para tribunal.

Jorge Rocha, um dos clientes que se considera lesado pelo DB, disse à Lusa que esta situação se mantém, pelo que estão a preparar desde já várias iniciativas para tentar responsabilizar o banco, isto depois de este se ter negado a chegar a um acordo extrajudicial.

Desde já, irão avançar para a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) queixando-se de perfis de risco fraudulentos – ou seja, de que foram vendidos produtos complexos, que incorporam ‘swap’ de taxa de juro, a pessoas sem perfil para os comprar, nomeadamente com o 4.º ano da escolaridade obrigatória – e que o banco se recusa a disponibilizar informação.

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“Vamos pedir à CMVM os documentos que o banco não está disponível para ceder”, afirmou Jorge Rocha, referindo que querem saber nomeadamente como foi feita a ‘desmontagem’ dos produtos vendidos pelo Deutsche Bank. Os clientes criticam que o banco tenha reembolsado apenas 10% do capital quando as obrigações subjacentes ao produto valem 35%.

Estes clientes irão ainda constituir uma associação para tentarem fazer valer os seus direitos, uma iniciativa que, explicou Jorge Rocha, visa sobretudo proteger os clientes que investiram menos dinheiro (cinco ou dez mil euros) e para quem não compensaria avançar para a Justiça de forma individual.

Quanto à parte judicial, irão avançar para processos nos tribunais ingleses e alemães até porque, apesar de os produtos terem sido vendidos pelo Deutsche Bank Portugal, foram emitidos por um veículo do Deutsche Bank com sede na Irlanda.

Além do Deutsche Bank, há outros grupos de investidores que compraram produtos estruturados complexos relacionados com dívida da antiga Portugal Telecom ao Banco Best e Barclays e que viriam a estar subjacentes à operadora brasileira Oi com a fusão entre as duas empresas.

No ano passado, com a insolvência da operadora brasileira Oi (que está agora em tentativa de recuperação), os produtos sofreram perdas consideráveis, já que foi considerado um “evento de crédito” pela Associação Internacional de Swaps e Derivados (ISDA), o que implicou o reembolso antecipado dos produtos financeiros com perdas.