Um Sporting-Benfica é daqueles happenings do futebol nacional que acontecem duas vezes por ano, com sorte ou capricho de sorteios três, e durante uma semana consegue dominar as conversas em casa, no trabalho, no café e entre amigos. É também por isso que se fazem tantos trabalhos sobre o dérbi. E, neste caso, que se veem tantos jogos de futebol. Para perceber como leões e águias marcam e sofrem os seus golos, fomos rebobinar o filme da temporada. Vimos os golos todos, os resumos dos jogos, as análises dos treinadores. E tentámos simplificar o complexo.
Comecemos pelo Sporting: está mais dependente do que nunca de um goleador (Bas Dost, que tem quase 50% dos golos leoninos na Primeira Liga). Como ataca? Preferencialmente pelos corredores laterais e à direita. Gosta de explorar as diagonais dos alas para dentro nas costas da defesa contrária, melhorou o jogo entre linhas e as tentativas de meia-distância desde que Alan Ruíz se assumiu e tem diferentes formas de chegar ao golo por cruzamentos: da direita, costumam ser daqueles só de encostar; da esquerda, envolvem assistências antes do remate final. Com linhas juntas, blocos médios/baixos e zonas específicas de pressão, as coisas tornam-se mais complicadas. E há sempre os lances de estratégia, que têm Coates (mais à frente) e Bas Dost (mais atrás) como referências.
Olhemos agora para o Benfica: marca de mais formas e tem outras alternativas quando Mitroglou e Jonas não aparecem. Como ataca? Muito do jogo ofensivo passa por dois momentos: as transições ofensivas, onde com quatro/cinco passes em velocidade consegue estar em zonas de finalização; e as combinações no corredor central, onde está o grande enfoque nesta nova versão dos encarnados mais dependente do cérebro Pizzi. E quando as equipas adversárias conseguem tapar bem esses espaços, há sempre um plano B: os lances de estratégia, com alguém a desviar ao primeiro poste para o toque final ou a exploração do espaço central com Mitroglou ou Luisão.
O Sporting tem sofrido golos na presente temporada como nunca se tinha visto numa equipa de Jesus, que coloca o principal enfoque tático no treino nas movimentações do setor recuado. E onde estão as maiores debilidades? Em três aspetos fundamentais: transição defensiva em lances de contra-ataque com várias descompensações nos corredores laterais; bolas em velocidade nas costas da defesa pelo corredor central; e nos lances pelo ar.
Já o Benfica tem uma curiosidade interessante: não sofreu um único golo numa transição ou contra-ataque. Por isso, sendo uma das melhores defesas europeias da atualidade a nível de golos sofridos, tem apenas dois pontos que podem ser explorados: as bolas paradas e os ataques posicionais que comecem nos corredores laterais com um cruzamento final para o desvio do avançado contrário.
Este será também um jogo capaz de prender a atenção de muitos olheiros europeus. Uns que residem em Portugal e trabalham para clubes de fora, outros que se vão deslocar a Alvalade para fazer observações in loco a determinados alvos. Neste aspeto, William e Adrien são os mais valiosos de acordo com o site especializado Transfermarkt, com um valor de mercado de 28 e 25 milhões, respetivamente. Ainda no top-5 está o outro jogador do Sporting campeão europeu de seleções, Rui Patrício (16), atrás dos melhores do Benfica: Lindelöf (18) e Pizzi (17). Porque é também para eles, indiretamente, que marcam e tentam não sofrer golos.