O destino do nosso segundo dia de viagem foi Casablanca. Imortalizada pelo cinema, desde o filme homónimo, realizado em 1942 por Micheal Curtis, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman como principais protagonistas, a cidade hoje é “outro filme”: capital financeira do Reino de Marrocos, é ainda a maior metrópole do país, com uma população que já anda muito perto dos quatro milhões de pessoas, contando ainda com os arredores. Para quem não conheça bem a divisão urbana, torna-se inevitável adicionar as áreas circundantes à própria cidade, como facilmente julgará um estrangeiro que não conheça Lisboa e que associe à nossa capital Algés, Linda-a-Velha, Amadora, Sacavém e por aí adiante.

Desde que saímos da auto-estrada, a principal e a primeira que foi traçada em Marrocos, ainda conduzimos uma boa meia-hora, sempre a rolar, até chegarmos propriamente ao centro desta cidade, mais uma entre tantas outras ao longo da costa africana, sobretudo na costa ocidental, que deve o seu nome aos navegadores portugueses. Desse passado, restam os derradeiros vestígios de uma pequena Fortaleza, que se encontram junto à muralha da velha medina. Mais tarde, os espanhóis traduziram Casa Branca para Casablanca e assim ficou até hoje.

Humphrey Bogart colocou “Casa” no mapa

O grande desenvolvimento de “Casa”, como é normal os próprios marroquinos designarem a cidade, deu-se a partir do início do século passado, com a crescente integração do Protectorado Francês. Foram, aliás, os franceses que assumiram a construção do porto, que se tornaria no mais importante de toda a África Ocidental. E o comércio foi fortemente impulsionado pelas estruturas portuárias, fazendo crescer uma bela cidade, com largas avenidas e edifícios assinados por arquitectos de renome, dos idos anos 20 e 30.

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A imagem romântica do filme pôs milhões e milhões de pessoas por todo o mundo a sonhar com Casablanca e se é verdade que hoje até existe um Rick’s Café, tudo no filme é pura ilusão, sem correspondência com a realidade. O que não significa que Casablanca não seja uma cidade interessante. Fervilha de vida, ou não passassem por aí grande parte dos negócios firmados no Reino de Marrocos e um dos sinais mais óbvios da riqueza nesta cidade é a que vemos a circular pelos seus grandes boulevards, onde nos sentimos como miúdos, constantemente a virar a cabeça para apreciar as impressionantes máquinas que se nos deparavam pela frente.

Nunca vimos tantos Range Rover, do modelo actual, que por aqui não há a paixão pelos clássicos, mas também perdemos a conta aos Bentley, especialmente aos Continental GT, aos Porsche, sobretudo os mais familiares, como o Panamera, o Cayenne e o Macan, além de muitos Audi de todos os modelos, embora maioritariamente da gama SUV, os inevitáveis Mercedes-Benz e, claro, uma ou outra “especialidade” italiana, ora com um Cavallino Rampante no logótipo, ora com um tridente de pontas bem afiadas.

O reino dos Ferrari, Bentley e Range Rover

Observando a cidade, a sua mancha urbana é rasgada por imensos edifícios enormes, como que a recordar que foi em Casablanca que, em 1950, se ergueu o primeiro “arranha-céus” de todo o continente africano: o edifício Liberté, com 78 metros, que então se destacou acima do Farol El Hank, erguido entre 1916 e 1920, com 51 metros de altura. Dominando a ponta de El Hank, a que mais se destaca na costa de Casablanca, o Farol de Casablanca é hoje um símbolo da memória marítima da cidade, que se aprecia como em mais nenhum outro lugar, se subirmos os 254 degraus até ao cimo desta torre cilíndrica, construída em betão.

Tivemos a sorte de conseguir que o faroleiro nos abrisse a porta para esta visita, em que pudemos tranquilamente contemplar a panorâmica da cidade, vendo à esquerda a imponente Mesquita Hassam II, a terceira maior do mundo, depois da de Meca e de Medida, e a que possui o minarete mais alto de todas, com 210 metros, quatro vezes mais a altura do farol. Espreitando em frente do alto do farol, de costas para o Atlântico, a vista perde-se na enorme mancha urbana da cidade, que se estende por algumas dezenas de quilómetros. E para a direita, temos as praias e a Corniche, a estrada costeira; é lá que fica o Pestana Casablanca, o único hotel português da cidade, onde Paulo Garcia, o director, nos brindou com um simpático almoço, contra a promessa de nova visita, no regresso desta Expedição Todo Terreno Peugeot 3008 Lisboa-Dakar-Bissau, para lhe podermos contar as histórias da viagem. Histórias como esta, que aqui vos contamos…

Ao arrancarmos de Casablanca, o nosso Peugeot 3008 tinha acabado de ultrapassar os 1.200 quilómetros percorridos. Ainda não tínhamos sequer atingido 10% da distância prevista para esta expedição, mas a jornada seguinte, a terceira, prometia desde logo adiantar bastante mais esta contagem.