Um manuscrito inédito da irmã Lúcia vai ser exibido pela primeira vez no novo núcleo museológico que a Câmara de Ourém prevê abrir em setembro nos antigos Paços do Concelho, em cuja cadeia estiveram os videntes de Fátima.

O documento, redigido pela irmã Lúcia em Coimbra a 18 de maio de 1998, a pedido do antigo presidente do município David Catarino, relata em apenas seis linhas o período em que os três pastorinhos estiveram em Ourém, em 1917.

“No tempo das aparições, os pastorinhos de Fátima, foram detidos e levados para Ourém, estiveram, parte do tempo, em casa do Administrador, parte na cadeia juntamente com outros presos, que os trataram bem procurando distrai-los e rezando com eles, o terço”, lê-se no manuscrito, no qual a irmã Lúcia (1907-2005) justifica ao ex-autarca que “por falta de saúde” só conseguiu responder à carta naquela data.

À agência Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Ourém, Paulo Fonseca, afirmou hoje que o núcleo nos velhos Paços do Concelho, vai ter “motivos de relevo para a História das aparições que é importante sublinhar e, no fundo, trazer à luz do dia e este ano do centenário é a época mais relevante para isso”.

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“Com certeza que os interessados pelo fenómeno das aparições, e pela importância e pelo impacto que Fátima tem gerado no mundo, em crescendo, terão curiosidade de conhecer mais este elemento das aparições que é a estada dos pastorinhos aqui”, declarou Paulo Fonseca, assinalando que este polo “vai ser um elemento relevantíssimo de uma rota dos pastorinhos em Ourém”.

Segundo o autarca, “de futuro, e a partir deste centenário, as pessoas vão saber que a História de Fátima está complementada num polo museológico em Ourém”.

A chefe da Divisão de Ação Cultural da Câmara de Ourém, Ana Saraiva, explicou por que razão o manuscrito nunca foi mostrado publicamente.

“Este documento deveria de estar contextualizado. Não faria tanto sentido estar na Casa do Administrador, faz mais sentido estar neste espaço onde realmente foi o espaço de interrogatório. Lá foi um espaço de acolhimento familiar, mais afetivo”, justificou Ana Saraiva.

O futuro núcleo vai incluir negativos de vidro e fotografias de António Passaporte (Évora, 1901 – Lisboa, 1983).

“Ele fez todo um conjunto de fotografias (…) sobre as aparições” e os “primeiros momentos” de aglomeração de pessoas na Cova da Iria, assim como “a produção da escultura de Nossa Senhora de Fátima na oficina de Thedim”, referiu a responsável.

“Esse processo está fotografado e é muito interessante”, acrescentou Ana Saraiva, assinalando que “foi uma aquisição que o município fez e são documentos que nunca estiveram expostos e algumas imagens são inéditas”.

No espaço vão, também, ser projetados pequenos filmes cedidos pela Cinemateca alusivos aos acontecimentos de Fátima, cujo centenário se assinala a 12 e 13 de maio, com a presença do papa Francisco que vai canonizar os beatos Francisco e Jacinta Marto.