O ministro dos Negócios Estrangeiros defendeu esta sexta-feira à noite, na ilha Terceira, nos Açores, que Portugal não deve romper a relação com os Estados Unidos da América (EUA) se quiser reforçar a sua posição no Atlântico.

“Temos de ter a preocupação de nunca romper com os Estados Unidos. Mesmo quando apetece, nunca o devemos fazer”, salientou, em Angra do Heroísmo, numa conferência promovida pelo Instituto Histórico da Ilha Terceira, sobre os “Os Açores e a centralidade do Atlântico”.

Augusto Santos Silva, que falava na qualidade de professor e pensador, elencou um conjunto de formas de reforçar a centralidade de Portugal no Atlântico, entre as quais a importância de manter as relações bilaterais com os Estados Unidos.

“Mesmo que nos digam do outro lado do Atlântico que já não somos necessários, que já não somos protagonistas, que já não somos parceiros preferenciais, nós os europeus primeiro não acreditemos e segundo não respondamos simetricamente, porque a centralidade do Atlântico depende muito do jogo entre as suas duas margens”, frisou.

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Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros, a posição dos Açores é “incontornável” para sustentar a centralidade de Portugal no Atlântico e já existem projetos concretos para alimentar essa dupla centralidade do arquipélago.

Para Augusto Santos Silva, uma das vias para tirar partido da posição geoestratégica dos Açores é a base das Lajes, localizada na ilha Terceira e utilizada pela Força Aérea norte-americana, que segundo o ministro continua a ser mais do que uma “bomba de gasolina” (expressão utilizada pelo ex-embaixador dos Estados Unidos em Lisboa).

“Não me situo do lado dos que têm uma visão pessimista sobre o futuro desta posição dos Açores e da Terceira como um elemento logístico incontornável do sistema de forças dos Estados Unidos. Sempre que estão em causa missões de longo alcance, não só as virtualidades, como a própria necessidade de utilização deste elemento, mesmo que esse elemento seja apenas de natureza logística – coisa que não é – revela-se absolutamente incontornável”, frisou.

O governante realçou, no entanto, que existem outros dois projetos em desenvolvimento que podem potenciar a posição dos Açores no Atlântico: o centro internacional de investigação Air Center, que esteve em discussão na quinta e na sexta-feira, na ilha Terceira, numa cimeira que reuniu 29 delegações internacionais, e a criação de um Centro de Segurança Atlântica, que não se limite ao subsistema militar e que englobe todo o Atlântico.

Questionado pela plateia, no fim da sua intervenção, sobre o interesse chinês nos Açores, Santos Silva disse que o interesse da China do ponto de vista económico “é bem vindo”, mas rejeitou outro tipo de relação.

“Em questões de posicionamento geoestratégico, a ambiguidade é um erro e um erro que se paga muito caro”, salientou, acrescentando que no que diz respeito à estrutura de segurança Portugal só pertence a duas organizações (NATO e União Europeia) e bilateralmente tem um aliado, que é os Estados Unidos.

Em fevereiro, numa audição na Assembleia da República, o ministro dos Negócios Estrangeiros disse que os 167 milhões de euros anuais, exigidos aos Estados Unidos, no Plano de Revitalização Económica da Ilha Terceira, apresentado pelo Governo Regional dos Açores, pela mitigação do impacto da redução militar na base das Lajes e pela limpeza danos ambientais, valiam “zero”.

Questionado, em Angra do Heroísmo, por deputados regionais do PSD e do Bloco de Esquerda sobre as exigências aos Estados Unidos de limpeza do passivo ambiental na ilha Terceira, Augusto Santos Silva disse é preferível para Portugal adotar uma atitude negocial do que uma atitude confrontacional.

“Já produziu resultados no redimensionamento do número de trabalhadores civis, vamos ver se produz resultados num segundo dossiê”, salientou.