Quando chegou a Lisboa, vindo do Vasteras (o “Carcavelinhos” lá da Suécia), Victor Lindelöf era um puto, borbulhento e de cabeça rapada, que é diferente de ser-se calvo — olhe-se para a farta guedelha que agora ostenta no relvado. Começou na época de 2012/13 nos juniores, mas ainda deu uma perninha no Benfica B. Nunca ou quase nunca como o central que sempre foi, ia sendo arrastado para lateral (à direita ou à esquerda) e, sobretudo, para trinco. Porquê? Culpe-se a concorrência que tinha no eixo defensivo: Miguel Vítor, Roderick, às vezes Sidnei, outras Fábio Cardoso ou Ascues, e até Jardel (“o” Jardel) por lá andou.

Trocado por miúdos, Lindelöf agarrou o que Ederson arriscou tirar

Não, ninguém dava nada por ele. E quem hoje afirma (e hoje é fácil afirmar) que dava, ou mente… ou é a mãe do próprio Lindelöf. Até porque nas temporadas seguintes, o Benfica teve Garay, Luisão, Jardel ou Lisandro, fora os “barretes” Steven Vitória, Mitrovic ou César. Mas tudo mudou no Verão de 2015. Lindelof, muito à custa do Europeu Sub-21 que a Suécia “roubou” a Portugal nos penáltis, teve a oportunidade de ser o quarto central do Benfica, aquele que só vai a jogo quando o rei faz anos — curiosamente, o sueco até foi lateral direito no tal Europeu.

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Pouco a pouco, e com a a enfermaria do Seixal à pinha, primeiro com Luisão, depois com Jardel, Lindelöf assumiu-se como titular. Esperar-se-ia que tremesse — afinal, tinha somente 21 anos e o Benfica não é o Vasteras onde fora titular ainda teenager. Depois de se assumir, contra o Belenenses, a 5 de fevereiro do ano passado, nunca mais abandonaria o lugar. Era sempre ele e mais um — voltasse quem voltasse da tal enfermaria.

Não é que Victor Lindelöf seja dos centrais do Benfica o que mais alto se impulsiona no ar, ou o mais “durão” no um-contra-um, ou o que melhor sai a jogar com bola, ou o mais veloz dos quatro, ou que melhor dobra quando o do lado dá borrasca, ou o que melhor passa longo ou curto. Mas é tudo isso num só, o que faz dele o melhor. Talvez por isso, os “tubarões” da Europa estão de olho nele e a etiqueta aponta o preço: 30 milhões de euros. O que, olhando às loucuras que aqui e além se cometem, faz de Lindelöf uma pechincha de Verão.

Mas falemos do Sporting-Benfica desta noite. E do minuto 65. O livre era frontal e ligeiramente descaído para a esquerda. Chegaram-se à frente Grimaldo, que é canhoto e bate bem — tanto que obrigou Patrício a fazer a melhor defesa da primeira parte –, e Lindelöf, um destro e pouco useiro e vezeiro de bater o que quer que seja. Mas foi mesmo o sueco quem colocou a bola na “gaveta”, que é como quem diz, quaaaaase no canto superior esquerdo da baliza de Patrício, ficando o guarda-redes do Sporting de pés pregados no relvado e sem reação.

Improvável? Muito. Muitíssimo. Porquê? Vamos a factos: este foi o primeiro remate enquadrado que Lindelöf fez em duas temporadas no campeonato, ou seja, 44 jogos. Depois, e em sete “clássicos” que jogou contra FC Porto ou Sporting, este é o primeiro golo. E golo é algo que Lindelöf não festejava há um ano e dois meses, sendo o último diante do Paços de Ferreira. Mas Rui Vitória defendeu-o na sala de imprensa: “É evidente que nenhum jogador vai bater sem saber e só porque tem fé. Ele trabalha muito. Quem jogou futebol sabe que aquilo não é fácil de fazer.”

E não é. Tanto que este é apenas o quinto livre direto que resulta em golo num dérbi Benfica Sporting. Curiosamente, e antes de Lindelöf, só benfiquistas o haviam conseguido: Cardozo, Simão, Sabry e Uribe. A pergunta para um milhão de euros não é se o sueco vai ou não mudar de ares no Verão — isso é quase certo; a pergunta é: terá este livre valido, mais do que um empate em Alvalade, o primeiro tetra da história do Benfica? Provavelmente.