A vida de Travis Kalanick à frente da Uber continua tal como começou em janeiro: polémica e difícil. Depois das denúncias de situações de assédio sexual, discriminação com base no género, de uma cultura agressiva e obsessiva nos escritórios da empresa, de um processo judicial por parte da Google e de um vídeo onde se vê o líder da tecnológica a discutir com um motorista, sabe-se agora que o futuro da Uber no iPhone esteve por um fio (ou por um software): em 2015, Tim Cook ameaçou retirar a aplicação da loja do sistema operativo iOS, por causa de um software que permitia à Uber espiar os utilizadores de iPhone mesmo quando a app estava desligada.

Com prejuízos gigantes, a Uber vai conseguir sobreviver a “dar borlas”?

A história é contada no The New York Times. A reunião entre os líderes das duas tecnológicas de Silicon Valley ocorreu a pedido de Tim Cook e Kalanick defendeu-se dizendo que a ferramenta permitia que lutassem contra esquemas fraudulentos que visassem a Uber. As leis de privacidade da Apple eram claras e Kalanick não teve outra opção: retirou o software dos features da app que serve como intermediária entre motoristas e utilizadores.

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As contas que o líder do unicórnio (empresas que valem mais de mil milhões de dólares) teve de fazer não foram difíceis: se Tim Cook retirasse mesmo a Uber da loja de aplicações da Apple, Kalanick perdia milhões e milhões de utilizadores.

O estilo de liderança agressiva de Kalanick não é estranho à imprensa. Desde que começaram a ser reveladas as polémicas em torno da tecnológica que são várias as vozes que têm pedido a Travis que abandone a presidência da Uber. Travis não sai, mas saem outros quadros da empresa. Rachel Whetstone, responsável pelo departamento de Comunicação e Relações Públicas, foi a última executiva a abandonar a tecnológica que liga utilizadores a motoristas.

Executiva Rachel Whetstone demite-se da Uber

De acordo com o jornal norte-americano, foram feitas mais de 50 entrevistas a ex-funcionários da Uber e a investidores que eram próximos do CEO da Uber, que asseguraram que o polémico Kalanick faz tudo o que lhe passa pela cabeça, a qualquer custo.

“A maior força de Travis é que ele é capaz de correr contra uma parede para alcançar os seus objetivos”, disse ao The New York Times Mark Cuban, o conhecido multimilionário e investidor. Mas o reverso da medalha faz-se na mesma equação: “A maior fraqueza de Travis é que ele vai correr contra uma parede para alcançar os seus objetivos. É a melhor forma de o descrever.”

A sequência de notícias que têm exposto a liderança de Travis Kalanick, 40 anos, já levaram o líder da tecnológica a assumir que precisa de ajuda para gerir a empresa que lançou em Silicon Valley, em 2009, e anda à procura de candidatos para o cargo de responsável de operações. Os valores que são a base da cultura da empresa também estão a ser revistos e há uma investigação interna na empresa a decorrer. Os resultados deverão ser conhecidos no próximo mês.