A Fundação Côa Parque denunciou, esta sexta-feira, um “inqualificável” atentado contra uma das rochas do parque arqueológico na qual está representada uma figura humana com mais de dez mil anos, acrescentando que vai participar criminalmente junto do Ministério Público.

“Fomos surpreendidos com a descoberta de novíssimas gravações de uma bicicleta, um humano esquemático e a palavra ‘BIK’ diretamente sobre o conhecidíssimo conjunto de sobreposições incisas do setor esquerdo daquele painel, onde, como é universalmente sabido, está o famoso ‘Homem de Piscos’, a mais notável das representações antropomórficas paleolíticas identificadas no Vale do Côa”, disse à Lusa o diretor do Parque Arqueológico da Vale do Côa, António Baptista.

Segundo o também arqueólogo, trata-se de um conjunto de gravuras que sobreviveram intactas mais de 10 mil anos e que agora foram “miseravelmente mutiladas pela ignorância de alguém que possa ser rapidamente identificado e exemplarmente punido. É um crime que lesa este património mundial e quem tomou esta atitude sabia, aparentemente, os prejuízos que iria causar. É vandalismo puro e duro”, enfatizou António Baptista.

O ministro da Cultura, Luís Castro Mendes, reagiu com preocupação à notícia. “Denunciámos a situação ao Ministério Público”, revelou à margem da inauguração da exposição da Coleção SEC, no Museu Nadir Afonso, em Chaves. Questionado sobre as queixas de falta de vigilância, fruto da falta de financiamento, Castro Mendes atribui esses cortes aos anos de 2012 e 2013, ou seja, ao Governo anterior. “Mas nós fizemos um reforço de financiamento no ano passado, vamos fazer agora, com a nova Fundação, mais um reforço de financiamento, e as coisas chegarão a seu tempo”, sublinha.

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“Isto mostra a vantagem de termos uma nova estrutura que está praticamente pronta, os estatutos estão aprovados, estão nomeados os representantes dos vários ministérios e vamos entrar a trabalhar muito seriamente a partir do fim deste mês.” O ministro prometeu que, uma vez reestruturada, a Fundação Coa Parque vai “trabalhar no terreno de outra maneira”.

Recentemente, o Museu Nacional de Arte Antiga também se queixou de falta de vigilância no museu. “Toda a gente se queixa de falta de vigilância“, respondeu Castro Mendes, lembrando ser “impossível” reverter, num ano, os cortes feitos pelo anterior Governo PSD-CDS. “Tanto mais que vivemos com os constrangimentos e as regras financeiras que todos conhecem.”

Em nota enviada à agência Lusa, os trabalhadores da Fundação Côa Parque afirmam que, durante a vigência do anterior Governo, o sítio arqueológico em causa deixou de ter qualquer tipo de vigilância.

O ato terá ocorrido entre domingo, quando a rocha foi observada incólume pela última vez, e quinta-feira, quando o seu resultado foi detetado”, referiu a Comissão de Trabalhadores do Museu e do Parque Arqueológico do Vale do Côa.

Os trabalhadores garantem que desde a primeira hora e até à última vez que se reuniram com o Ministro da Cultura têm vindo a alertar para o perigo desta situação e para as possibilidades de vir a ocorrer o que agora aconteceu.

“Esta falta de vigilância nunca foi claramente denunciada publicamente por receio que a publicitação da ausência de vigilância nos sítios, pudesse ela própria potenciar a ocorrência destes atos”, esclarecem. O responsável adiantou que há já suspeitos do ato contra o património rupestre.

Notícia atualizada às 19h00 com s declarações do ministro da Cultura.