São debates à porta fechada. A imprensa não é convidada e tudo o que se discute fica apenas para uso interno do partido. A reserva é ainda maior do que a típica Chantam House Rule — que permite a divulgação de citações sem revelar o autor. O que se passa nos encontros do Instituto Francisco Sá Carneiro (IFSC), fica nos encontros. O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, tem participado e falado em todos os eventos e até já contaram com figuras do Partido Socialista como oradores: o antigo ministro António Vitorino e o ex-dirigente Álvaro Beleza.

Os ciclos de debates Sá Carneiro têm tido entre 40 a 50 participantes e têm por objetivo “discutir o país, a Europa e o mundo, numa perspetiva de futuro e de novas políticas”, explica Duarte Marques, vice-presidente do IFSC. Até agora os temas dos debates foram: “O Futuro da UE – novos arranjos para fortalecer as políticas comuns”; “Relações Externas da UE, África e o Atlântico”; “O impacto da eleição de Donald Trump para a Europa”; e “Cidades inteligentes.”

O instituto quer também “trazer ao debate pessoas que não participam ativamente na vida política mas que constituem a sociedade civil e que podem encontrar no IFSC uma plataforma que politicamente não os compromete e lhes dá espaço”.

Questionado sobre porque são os encontros tão discretos, Duarte Marques explica que “os convidados ficam mais à vontade para expressar opiniões”. O facto de não haver imprensa faz com que “as intervenções não se tornem números políticos“, o que também “permite discutir os assuntos com maior profundidade”. E mais: “Permite que mais gente possa vir, sem ser conotada com o partido.”

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Foto do primeiro debate, em outubro

No segundo debate — sobre as relações externas da UE, com África e o Atlântico, a 2 de novembro — os oradores principais (todos os convidados, acabam por ser oradores), foram o ex-ministro socialista António Vitorino e José Costa Pereira, do serviço de Ação Externa da UE.

A 6 de dezembro foi a vez de se discutir “o impacto da eleição de Donald Trump para a Europa”, onde os cabeças de cartaz. foram o presidente da FLAD, Vasco Rato, e o embaixador dos EUA em Berlim, Richard Burt.

O último encontro aconteceu em 29 de março, com Passos Coelho a fazer o encerramento como habitual e contou com o antigo “mayor” de Estugarda, Wolfgang Schuster, com o antigo secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, Miguel Castro Neto, e o antigo secretário de Estado do Poder Local (no governo que durou um mês), João Taborda da Gama.

Apesar de o nome dos convidados estar sob reserva, o Observador apurou o nome de alguns dos presentes durante as várias sessões: Francisco Veloso (Kings College), Álvaro Amaro (presidente dos Autarcas Sociais Democratas), Jorge Bleck (Advogado), Sofia Tenreiro (CISCO), Gonçalo Matias (professor da Universidade Católica), José Gandarez (Advogado e Produtor de Cinema), Daniel Traça (Diretor Faculdade Economia Universidade Nova), Sofia Galvão (vice-presidente do PSD), Joaquim Miranda Sarmento (professor do ISEG), Álvaro Beleza (médico e ex-dirigente do PS), Mira Amaral (ex-ministro de Cavaco Silva), Paulo Sande (ex-diretor do gabinete do Parlamento Europeu em Lisboa), Vítor Bento (economista), Luís Nobre Guedes (ex-ministro do CDS), Luís Todo Bom (Galp), José Maria Brandão de Brito (economista), António Nogueira Leite (ex-secretário de Estado), Diogo Lucena (administrador Gulbenkian), Joaquim Silva Pinto (ex-deputado do PS), Pedro Fontes Falcão (Gestor e docente convidado do ISCTE-IUL), Jorge Braga de Macedo (responsável pelas Relações Internacionais do PSD), Jorge Bravo (do grupo de economistas que ajudou a elaborar o programa eleitoral PSD), Ana Maria Evans (investigadora do Instituto de Ciências Sociais), Elsa Cordeiro (ex-deputada do PSD) e Inês Domingos (deputada do PSD).

O IFSC vai agora descentralizar os debates e dedicar-se a outros temas como a inovação e competitividade, reforma do sistema eleitoral, descentralização, políticas sociais, sustentabilidade da segurança social e impacto das eleições na Europa em 2017.

Duarte Marques destaca que, após anos a apostar na formação, o IFSC quer agora iniciar uma “nova fase”, em que o instituto quer ser um “verdadeiro think tank político, mas não puramente partidário“. O deputado do PSD lembra que é “preciso preparar o PSD para o futuro” e “pensar nas medidas que é necessário tomar na oposição e assim que o PSD volte a ser governo”. Revela ainda que, no âmbito do trabalho do IFSC, “estão a ser criados Grupos de trabalho em áreas especificas como a da Reforma do Estado.”

O vice-presidente do Instituto explica que “de cada reunião saem reuniões e ideias que podem vir a ser integradas no programa do partido ou ao grupo parlamentar para se transformarem em propostas”.

O novo IFSC procura também novas formas de financiamento, depois de ter recebido apoios durante anos de entidades como o banco Santander Totta, que chegou a financiar a Universidade de Verão do PSD — também organizada pelo Instituto. Estes debates secretos foram financiados pela fundação alemã Konrad Adenauer. Quanto aos custos fixos do IFSC rondam os 2.500 euros mensais, relacionados com a renda e o pagamento ao único funcionário do instituto.

O relatório de contas atividades é aprovado esta sexta-feira à tarde, numa reunião do Conselho Geral, presidido por Francisco Pinto Balsemão, marcada para as 18h30. Ao que o Observador apurou, o instituto pediu que os seus sócios passassem a pagar, de forma facultativa, uma quota de 10 euros mensais. Balsemão aderiu no imediato ao desafio da direção.

O IFSC está também a contactar empresas no sentido de financiarem as atividades e recebe donativos individuais já que, por lei, não pode receber donativos diretos do PSD. O próprio Partido Popular Europeu — a família política do PSD — ajuda a financiar vários eventos, como a Universidade de Verão ou a Universidade Europa.

Homenagem a Cavaco na calha

O vice-presidente do Instituto Sá Carneiro, Duarte Marques, revela que o Instituto quer também “valorizar as figuras do PSD que mais fizeram”, considerando que “o IFSC devia preparar uma homenagem a Cavaco Silva, que devia acontecer no próximo Congresso do partido”. E acrescenta: “Há três líderes do PSD muito importantes para o País: Sá Carneiro que ajudou a afirmar a democracia, Cavaco Silva porque integrou o país na UE e Passos porque tirou o país da bancarrota e libertou o Estado de uma teia de interesses que levaram o país à bancarrota.”

Duarte Marques diz ainda que o IFSC pode ser uma “plataforma privilegiada para dialogar com o PS“, sendo desejável “fazer ações em conjunto com think tanks de outros partidos.” E acrescenta: “O país não pode ser uma luta de claques de clubes. Há momentos em que os partidos têm de se sentar à mesma mesa, num debate menos partidário e mais estrutural”.

Na última terça-feira, 25 de abril, Marcelo Rebelo de Sousa condecorou a título póstumo Francisco Sá Carneiro com a Grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Outro dos objetivos do Instituto é continuar a defender a memória de Sá Carneiro, bem como as suas ideias que — como acredita Duarte Marques — “continuam atuais”.